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Karol Eller: “cura gay” é tortura sem base na ciência, diz psicóloga

Com repercussão do caso Karol Eller, psicóloga Luciana Inocêncio alerta para os riscos envolvidos nas práticas chamadas de “cura gay”

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Imagem colorida mostra Karol Eller, influenciadora digital bolsonarista - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra Karol Eller, influenciadora digital bolsonarista - Metrópoles - Foto: Reprodução/Redes sociais

São Paulo – A influencer bolsonarista Karol Eller, de 36 anos, cometeu suicídio um mês após divulgar que havia renunciado “à prática homossexual” ao retornar de um retiro religioso. Segundo especialista ouvida pelo Metrópoles, a prática de reprimir a orientação sexual de alguém, conhecida como “cura gay”, é proibida pela ciência e oferece risco de potencializar casos de depressão.

O alerta é feito pela psicóloga Luciana Inocêncio, com formações na Universidade de São Paulo (USP) e no Colegio de Psicoanálisis de Madrid, na Espanha. De acordo com a especialista, a “cura gay” é vetada pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) e pode “torturar ainda mais o indivíduo”, “potencializar casos de depressão” e “motivar o suicídio”.

“A pessoa é o que é. Você, como profissional da área, não pode tutelar essa condição. Aliás, ninguém tem este direito e autorização – nem religiões, nem coach, nem ninguém”, afirma.

Luciana explica que a Resolução nº 1/1999 do Conselho Federal proíbe as práticas que propõem a “reorientação das sexualidades”. “Quem promove este tipo de terapia já está indo contra o que o CFP prega. É crime! Além do mais, pode causar tragédias, como o suicídio de uma moça que tinha uma vida inteira pela frente.”

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A influencer Karol Eller
A influencer Karol Eller após ter sofrido suposto ataque homofóbico
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A influencer Karol Eller e o ex-presidente Jair Bolsonaro

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A influencer Karol Eller

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A influencer Karol Eller após ter sofrido suposto ataque homofóbico

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Terapia

A resolução do CFP é endossada pelo Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH). Para o colegiado, o uso de terapias de reorientação sexual configura prática que afronta os direitos humanos, pois reforça estigmas e aumenta o sofrimento das pessoas.

“Há 24 anos, o Conselho Federal de Psicologia formalizou o entendimento de que a sexualidade faz parte da identidade de cada sujeito e, por isso, práticas homossexuais não constituem doença, distúrbio ou perversão”, diz Luciana. “Importante ressaltar que a fé é imprescritível e que as religiões, todas elas, precisam ser respeitadas, mas não podem substituir a ciência em questões comportamentais-clínicas.”

“O que se pode fazer, por meio do manejo correto da terapia clínica, é auxiliar o sujeito a conviver melhor com o entorno e consigo mesmo, reconhecendo seus defeitos e suas qualidades.”

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, houve 16.262 registros de suicídio no Brasil em 2022. O número equivale a oito suicídios por 100 mil habitantes.

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Psicóloga Luciana Inocêncio é especialista em situações de crise
Psicóloga Luciana Inocêncio estudou na Raul Brasil
Psicóloga Luciana Inocêncio atendeu vítimas do massacre em Suzano
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Psicóloga Luciana Inocêncio

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Psicóloga Luciana Inocêncio atendeu vítimas do massacre em Suzano

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Karol Eller

Karol Eller pulou da janela de seu apartamento no Campo Belo, na zona sul da capital paulista, na noite de quinta-feira (12/10). Ela havia publicado mensagens nas redes sociais com afirmações como “perdi a guerra” e “lutei pela pátria”.

A influencer falou sobre sua depressão, em uma live feita com o pastor Wellington Rocha, da igreja Assembleia de Deus, e fez conentários durante a conversa sobre uma carta de suicídio que teria escrito duas semanas antes de fazer um retiro espiritual. A live aconteceu no dia 17 de setembro.

“Deus me ama como eu sou. Mas não como eu estava. Ele me ama como eu estava, mas ele não quer as minhas práticas”, afirmou a influenciadora ao pastor.

Após o suicídio de Karol Eller, o pastor Wellington compartilhou uma nota de pesar, afirmando não existirem palavras para expressar “a dor e a tristeza” e alertou os seguidores. “Não sei se pode servir como alerta. Mas alguém com depressão não pode ficar sozinho.”

Busque ajuda

Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos de suicídio ou tentativas que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social. Isso porque é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral. O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem.

Depressão, esquizofrenia e uso de drogas ilícitas são os principais males identificados pelos médicos em um potencial suicida. Há problemas que poderiam ser tratados e evitados em 90% dos casos, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.

Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode te ajudar. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo, voluntária e gratuitamente, todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e Skype, 24 horas, todos os dias.

O Núcleo de Saúde Mental (Nusam) do Samu também é responsável por atender demandas relacionadas a transtornos psicológicos. O Núcleo atua tanto de forma presencial, em ambulância, como a distância, por telefone, na Central de Regulação Médica 192.

Disque 188

A cada mês, em média, mil pessoas procuram ajuda no Centro de Valorização da Vida (CVV). São 33 casos por dia, ou mais de um por hora. Se não for tratada, a depressão pode levar a atitudes extremas.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada dia, 32 pessoas cometem suicídio no Brasil. Hoje, o CVV é um dos poucos serviços em Brasília em que se pode encontrar ajuda de graça. Cerca de 50 voluntários atendem a quem precisa, 24 horas por dia.

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