Justiça nega pedido de prisão de PM que matou aluno de medicina em SP
“Esse pesadelo nunca acaba”, disse o pai do aluno de medicina sobre o pedido de prisão ter sido negado. Jovem foi morto por PM em novembro
atualizado
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São Paulo — A Justiça negou o pedido de prisão preventiva do policial militar Guilherme Augusto Macedo, que matou à queima-roupa o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, durante abordagem em um hotel na Vila Mariana, em São Paulo, em novembro.
Na decisão, deferida nessa segunda-feira (13/1), a juíza Luciana Menezes Scorza entendeu que, nos termos da lei processual penal vigente, a prisão preventiva não é cabível no caso. Segundo ela, “os elementos constantes dos autos não evidenciam periculosidade social do denunciado nem risco por seu atual estado de liberdade.”
Ao Metrópoles, o pai de Marco Aurélio, o médico Julio Cesar Acosta Navarro, disse que a decisão da juíza foi um golpe duro. “Esse pesadelo nunca acaba”, desabafou.
Entenda o caso
- A prisão preventiva havia sido pedida pela Polícia Civil após a finalização do inquérito policial que apurava a morte do estudante, que foi concluído no dia 3 de janeiro, por meio do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP);
- A decisão também reitera que Guilherme Augusto Macedo está realizando funções administrativas, exercendo atividades diferentes da Operacional, e sendo fiscalizado por seu comando. O PM, segundo o texto, é primário e portador de bons antecedentes, além de não ter interferido nas investigações;
- Guilherme e o outro policial militar que estava presente no dia da morte de Marco Aurélio, o PM Bruno Carvalho do Prado, são acusados de crime doloso – cuja pena máxima é superior a 4 anos;
- Com o pedido de prisão preventiva negado, Guilherme deverá comparecer mensalmente em juízo para informar e justificar suas atividades e manter seu endereço residencial atualizado;
- Ele está proibido de se ausentar da região onde mora por mais de 8 dias sem autorização judicial, frequentar bares e festas, e manter qualquer tipo de contato com familiares da vítima e testemunhas da acusação.
Câmeras corporais
O pai do estudante que foi morto por um policial militar em 20 de novembro de 2024 assistiu, na sexta-feira (10/1), pela televisão, as imagens das câmeras corporais dos agentes que participaram da abordagem que aconteceu em um hotel na Vila Mariana, em São Paulo. Julio César lamentou a execução “covarde” de seu filho e disse estar vivendo “tempos de guerra da maldade, da criminalidade contra a nação, contra os inocentes”.
“Acabo de ver, pela televisão, como foi executado o meu filho, covardemente, e não foi socorrido por esse lixos desses soldados. Quero que saibam que eles merecem a pena de morte, pela lei”, lamentou o médico. “O uso de arma de um militar contra os inocentes é crime”, acrescentou o pai do jovem em áudio.
O Metrópoles teve acesso ao material das câmeras corporais dos dois policiais militares envolvidos na ação.
No primeiro vídeo, é possível ver o soldado da PM Guilherme Augusto desembarcar do carro após o estudante dar um tapa no retrovisor da viatura. Ele corre atrás do rapaz, dá ordem para que ele pare. Marco Aurélio entra no hotel e fica encurralado. As imagens são fortes. O jovem tenta pegar a perna do outro PM e é alvejado por um disparo. Veja:
No segundo vídeo, é possível ver a câmera do soldado Prado, que está ao volante. Ele acompanha ainda dentro da viatura a perseguição do colega ao estudante. Em seguida, ele para a viatura e entra no hotel. Na sequência, ouve-se o disparo. Então, o policial sai e pede apoio. Depois, ele solicita uma unidade de resgate. Veja:
Veja imagens:
Um relatório de investigação sobre a morte do estudante mostrou que o jovem, de 22 anos, foi encurralado pelos policiais militares antes de ser baleado pelo policial militar Guilherme Augusto Macedo. O documento, que mostra as imagens captadas pelas câmeras corporais acopladas às fardas dos agentes, afirma que as últimas palavras de Marco Aurélio teriam sido: “Tira a mão de mim”.
Pais do estudante criticam Tarcísio e Derrite
- Em uma coletiva de imprensa realizada na quarta-feira (8/1), os pais de Marco Aurélio criticaram a demora no fornecimento das imagens do crime, o que consideram acobertamento da ação e pediram a condenação de todos os envolvidos, inclusive superiores como o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos);
- O pai de Marco Aurélio, o médico Julio César Acosta Navarro, disse que vai lutar pela condenação de todos os responsáveis pelo crime, apontando inclusive o relatório como prova.“A PM fez um B.O. falso. Aqui [no relatório] estão todas as artimanhas”, disse o pai, entre outras coisas.