Justiça de São Paulo suspende eleição do Sindicato dos Motoristas
Após paralisação, ataque a tiros e roubo de urnas, TRT-2 determinou que novas eleições sejam realizadas e exigiu o uso de urnas eletrônicas
atualizado
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São Paulo — O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2). suspendeu, na madrugada desta quinta-feira (23/11), a eleição da diretoria do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário e Urbano de São Paulo (SindMotoristas). A disputa sindical, realizada esta semana, foi marcada pela paralisação de terminais de ônibus, por um ataque a tiros que deixou um motorista ferido e pelo roubo de urnas.
A eleição do SindMotoristas, que reúne cerca de 60 mil filiados, ocorreu na terça (21/11) e quarta-feira (22/11). O resultado, anunciado por volta de 22h30 de quarta, apontou como vencedor o candidato da chapa 4, Edivaldo Santiago.
De acordo com a apuração, realizada na sede da entidade, região central de São Paulo, Edivaldo teve 14.028 votos. O segundo lugar ficou para Valdevan Noventa (Chapa 2 Resistência e Ação), que obteve 3.114 votos. Na sequência, foram 853 votos para Marcos Antônio (Chapa 3 Renovação Conlutas) e 510 para Manoel Portela (Chapa 1 Oposição e Luta). Brancos somaram 326 e nulos, 1.182.
De acordo com o SindMotoristas, mais de 20 mil trabalhadores participaram do pleito.
A decisão proferida nesta madrugada pelo TRT2 foi proferida pelo desembargador Marcelo Freire Gonçalves, após pedido de liminar apresentado pela Chapa 1 (Oposição e Luta).
De acordo com a decisão do TRT, deverá ser publicado um novo edital para a eleição até o dia 28 de dezembro, respeitando o uso de urnas eletrônicas, que devem ser solicitadas ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
Paralisação de terminais
A eleição do SindMotoristas foi o pano de fundo para a paralisação de nove terminais de ônibus em São Paulo na terça-feira. O protesto pegou passageiros de surpresa e obrigou a Prefeitura de São Paulo a suspender o rodízio de veículos. A entrada e saída de ônibus foi bloqueada, houve depredação de coletivos (foto em destaque) e muitos veículos tiveram as chaves subtraídas.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) considerou o movimento um “ato criminoso”.
“No final das contas, as pessoas é que saem perdendo. É um ato criminoso. Para se fazer uma greve, existe toda uma legislação que deve ser cumprida, isso deve ser avisado 72 horas antes. Tem uma regra”, disse Nunes.
Os terminais fechados foram Santo Amaro, João Dias, Capelinha e Campo Limpo, na zona sul, Santana e Cachoeirinha, na zona norte; Pinheiros, na zona oeste; Dom Pedro II e Mercado, na região central.
Investigação sigilosa
A paralisação ocorreu em meio à troca de acusações entre os candidatos da eleição sindical e uma guerra jurídica que parece não ter fim. Um dos motivos de discórdia é justamente o método de votação: três das quatro chapas que concorrem à presidência queriam que as eleições fossem feitas com urnas eletrônicas, fornecidas pela Justiça Eleitoral, para evitar fraudes — a reivindicação, por fim, acabou sendo atendida na decisão do TRT desta quinta-feira.
Há, ainda, um investigação sigilosa sobre crime organizado e uma decisão da Justiça Eleitoral de Sergipe sobre o principal nome do sindicato, José Valdevan de Jesus Santos, de 54 anos, conhecido como Noventa. Líder da categoria desde o início dos anos 2000, ele reassumiu o comando da entidade há dez dias.
Noventa venceu a última eleição, ocorrida em 2018, que previa mandato até o fim de 2023. Naquele mesmo ano, o sindicalista, que já tinha vencido a disputa em 2013, marcada por um tiroteio, e tido dois mandatos como vereador em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, foi eleito deputado federal pelo PSC pelo estado de Sergipe, onde nasceu.
Ele chegou a acumular a presidência do sindicato com o cargo de deputado federal por Sergipe. Em 2020, contudo, seu mandato foi cassado.
No ano passado, Noventa foi alvo de uma investigação de crimes tributários, organização criminosa e lavagem de dinheiro. O Ministério Público de São Paulo (MPSP) apontou uma série de indícios de que o grupo ligado a ele desviou dinheiro do sindicato por meio de contratos de prestação de serviços com empresas de fachada. Ele sempre negou as acusações.