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Juiz solta sequestradores após suspeita relatar tortura em delegacia

Mulher presa em flagrante afirmou em audiência de custódia que teria sido asfixiada com sacola para indicar cativeiro de vítimas em SP

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Reprodução de reunião no zoom, com cinco quadros de vídeos - Metrópoles
1 de 1 Reprodução de reunião no zoom, com cinco quadros de vídeos - Metrópoles - Foto: Reprodução/TJSP

São Paulo — Uma quadrilha inteira presa em flagrante por extorsão mediante sequestro, na sexta-feira (27/9) em Itaquaquecetuba, Grande São Paulo, foi solta pela Justiça no dia seguinte, após uma integrante do bando relatar ter sido vítima de tortura na delegacia.

A vendedora Angélica Cristielly Silva Galindo, de 30 anos, afirmou durante audiência de custódia ter sido asfixiada por policiais civis da cidade com uma sacola plástica, colocada na cabeça, e agredida com tapas no rosto e puxões de cabelo.

De acordo com o relato dela, a suposta tortura foi praticada para que ela informasse aos policiais civis onde ficava o cativeiro de um casal de empresários, vítimas de sequestro em São Paulo.

Angélica foi levada à Delegacia de Itaquaquecetuba após ser flagrada, por policiais militares, com objetos pessoais das vítimas, entre eles celulares de alto padrão, na zona leste da capital paulista.

Ela estava acompanhada de Laércio Duarte, 24 anos, foragido da Justiça e com passagens por roubo e extorsão mediante sequestro. Com ele havia comprovantes de transações bancárias e maquininhas de cartão, usadas para a movimentação do dinheiro das vítimas. Laércio mentiu sobre sua identidade, sem sucesso.

Os outros dois suspeitos do crime, Mateus Costa da Silva, 27, e Wagner Guilherme Monteiro Diogo, 46, foram presos na casa de Wagner. O imóvel em Itaquaquecetuba, a polícia descobriu posteriormente, foi usado como cativeiro das vítimas.

A defesa dos suspeitos não foi localizada pelo Metrópoles. O espaço segue aberto.

O sequestro

A filha dos empresários afirmou, em depoimento à Polícia Civil, que recebeu mensagens de três instituições bancárias sobre tentativas de transações, com valores suspeitos, em um empório, por volta das 20h10 de sexta-feira. Ela notou que o cartão utilizado era o que costuma deixar com a mãe.

O casal de empresários foi arrebatado pelos criminosos logo após deixar um restaurante, por volta das 15h10, no qual almoçou com outro filho. Desde então, os familiares não conseguiram mais entrar em contato com os pais.

Quando a filha começou a receber as notificações dos bancos, a família foi até a delegacia pedir ajuda.

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Escada em terreno de difícil acessso levava até cativeiro usado por quadrilha
Interior de cativeiro usado por quadrilha na zona norte paulistana
Interior de cativeiro usado por quadrilha na zona norte paulistana
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Interior de cativeiro usado por quadrilha na zona norte paulistana

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Escada em terreno de difícil acessso levava até cativeiro usado por quadrilha

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Interior de cativeiro usado por quadrilha na zona norte paulistana

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Interior de cativeiro usado por quadrilha na zona norte paulistana

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As prisões

A vendedora e Laércio foram presos na região do Itaim Paulista, na zona leste de São Paulo. Ambos estavam no carro da suspeita, no qual a PM encontrou os celulares, documentos das vítimas, comprovantes de transações, além dos cartões bancários dos empresários.

As vítimas foram libertadas pela quadrilha, ainda em Itaquaquecetuba, e identificaram o cativeiro onde foram mantidas, no qual foram detidos por policiais civis os outros dois criminosos, reconhecidos pessoalmente pelo casal sequestrado.

Toda a quadrilha foi encaminhada à Delegacia de Itaquaquecetuba, onde foi presa em flagrante e ficou à disposição da Justiça.

As solturas

A audiência de custódia por videoconferência (imagem em destaque), à qual o Metrópoles teve acesso, começou com o depoimento de Angélica Cristielly Silva Galindo.

Quando ela foi questionada pelo juiz Lucas Garbocci da Motta se havia sido agredida pela polícia em algum momento da prisão, ela afirmou que sim. A suspeita foi, então, interrompida pelo defensor público que a representava.

“Senhora Angélica, essa informação a senhora não tinha passado em entrevista reservada. Como os demais doutores aqui, eu também fui surpreendido com isso. Mas saiba que a defensoria vai acompanhar seu caso e sua situação aí agora.”

Aos prantos, Angélica relata que teria sido asfixiada com uma sacola plástica, agredida com tapas no rosto, além de ter os cabelos puxados pela equipe policial que trabalhava na noite de sexta-feira. Em nenhum momento, ela negou participação no crime de sequestro, acrescentando não contar com histórico criminal, além de ser mãe de cinco filhos. Depois dela, a Justiça ouviu os outros presos.

O Ministério Público se manifestou favorável à soltura de Angélica, por causa da suposta tortura, e solicitou que Wagner Guilherme Monteiro Diogo, 46, Mateus Costa da Silva, 27, e Laércio Duarte, 24, tivessem as prisões em flagrante convertidas para preventivas, ou seja, por tempo indeterminado.

A Defensoria Pública, porém, se posicionou para que todos respondessem às acusações em liberdade e a recomendação foi acatada pelo juiz. Somente Laércio foi encaminhado ao sistema carcerário, mas por causa de um mandado de prisão relacionado a outro crime pelo qual ele estava foragido.

“Excelente atriz”

Para justificar a soltura da mulher, o juiz afirmou ter considerado o relato dela “verossímil”, “a não ser que a senhora Angélica seja uma excelente atriz”.  Mesmo sem nenhum laudo confirmando as denúncias, o magistrado acrescentou que “o agente estatal não pode apurar um crime cometendo outro”.

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Além de soltar toda a quadrilha, a Justiça ainda expediu uma medida protetiva na qual proíbe que toda a equipe de policiais civis, que estavam na Delegacia de Itaquaquecetuba no momento do flagrante, se aproxime de Angélica. Os agentes precisam manter uma distância mínima de 100 metros da suspeita.

Apesar da soltura do bando, o juiz afirmou que o caso de sequestro é grave e que a investigação sobre crime precisa continuar, não descartando a eventual prisão do trio que foi para as ruas em liberdade condicional.

SSP

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou ao Metrópoles, por meio de nota encaminhada neste domingo (29/9), que caso seja constatada “qualquer irregularidade” por parte dos policiais civis denunciados por suposta tortura, as condutas serão “rigorosamente investigadas” pela Corregedoria da instituição.

“A Polícia Civil esclarece que a conduta mencionada não condiz com as práticas da Instituição, que preza pela legalidade durante as ações de Polícia Judiciária.”

A pasta acrescentou que a vendedora e os outros três suspeitos foram presos em flagrante por extorsão mediante sequestro, associação criminosa, falsa identidade e captura de procurado (no caso de Laércio).

O bando, disse ainda, foi encaminhado à audiência de custódia com a solicitação de prisão preventiva “devidamente formalizada à Justiça”.

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