Juiz quebrou 12 anos de sigilo de Milton Leite, mas dados não chegaram
Quebra do sigilo bancário do vereador Milton Leite vai de 2010 a 2022, a pedido do MPSP, que investiga lavagem do PCC via empresas de ônibus
atualizado
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São Paulo — A quebra dos sigilos bancário e fiscal do presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), no âmbito da Operação Fim da Linha, que investiga um suposto esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) por meio de empresas de ônibus da capital, abrange um período de 12 anos da vida financeira do vereador.
A pedido do Ministério Público de São Paulo (MPSP), o acesso às movimentações bancárias do parlamentar foi determinado pelo juiz Guilherme Kellner, da 2ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro, em fevereiro de 2023, e a comunicação aos oito bancos onde Leite mantinha contas abertas no período investigado foi encaminhada em setembro do mesmo ano.
Porém, passados 10 meses da concessão da medida cautelar, os dados bancários ainda não chegaram aos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), comprometendo o avanço da investigação, segundo apurou o Metrópoles.
Considerado um dos políticos mais poderosos da cidade, o presidente da Câmara entrou na mira do MPSP por causa de sua proximidade com Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora, presidente da Transwolff, uma das empresas suspeitas de ligação com o PCC — a facção teria injetado R$ 54 milhões na viação para que ela conseguisse participar da licitação do transporte público na capital paulista.
Pandora é um histórico cabo eleitoral de Leite e que pede votos ao vereador e aos filhos dele ao menos desde as eleições de 2008. O dirigente da empresa de ônibus que opera linhas na zona sul da capital, reduto político do vereador, chegou a ser preso em abril, e conseguiu um habeas corpus para deixar a prisão no início de junho. Em 2006, uma empresa de Milton Leite construiu uma das garagens da Cooperpam, que depois se tornou Transwolff.
Ao justificar o pedido de quebra de sigilo do parlamentar, os promotores anexaram e-mails e mensagens de WhatsApp que ligam dirigentes da Transwolff a Leite (veja abaixo). Segundo o MPSP, o presidente da Câmara “possui papel juridicamente relevante na execução dos crimes em apuração”.
Milton Leite tem negado todas as suspeitas levantadas contra ele e diz que tentam “assassinar” sua reputação em ano eleitoral ao vincular seu nome ao PCC.
Questionado pelo Metrópoles sobre a quebra de sigilo, o vereador disse que não tinha conhecimento do teor do pedido, mas que já havia se disponibilizado a abrir seus dados bancários ao MPSP caso seja solicitado. “Se está demorando para os bancos passarem, podem pedir direto para mim, que é mais rápido”, afirmou.