Juiz que soltou acusado de imitar macaco questiona torcida corintiana
Em decisão que concedeu liberdade a Sebastian Avellino Vargas, juiz diz que preparador físico foi alvo de “impropérios” e pode ter revidado
atualizado
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São Paulo – O juiz Antonio Maria Patiño Zorz, da 29ª Vara Criminal da Barra Funda, que mandou soltar o preparador físico Sebastian Avellino Vargas, do Universitário, do Peru, afirma que a imitação de macaco pode ter acontecido para revidar xingamentos da torcida do Corinthians.
Na decisão, obtida pelo Metrópoles, o magistrado diz que o ato de racismo, embora “desproporcional” e “vil”, deveria ser analisado no contexto do jogo. “Consta que os atos ocorreram numa partida de futebol, realizada em campo adversário e cujos ânimos aparentemente estavam aflorados”, escreveu.
“No vídeo juntado aos autos pela acusação, é possível visualizar torcedores gesticulando para o denunciado aos oito segundos e, por certo, proferindo impropérios contra ele”, afirmou Patiño Zorz. “Parece ser da cultura, nefasta, aliás, que em alguns jogos há uma espécie de ‘vale-tudo’ na ilusória consideração que está a se ajudar sua agremiação predileta”.
Ainda na avaliação do juiz, Sebastian não ostenta “periculosidade concreta”. “Extrai-se que a atitude do denunciado, pode ter ocorrido em situação de possível retorsão imediata”, registrou.
Interpol
Ao decidir soltá-lo na sexta-feira (21/7), Patiño Zorz ameaçou acionar a Interpol se o preparador físico demonstrar intenção de fugir da Justiça brasileira. Na ocasião, o magistrado também aceitou a denúncia do Ministério Público de São Paulo (MPSP) e o tornou réu no processo.
Sebastian havia sido preso em flagrante durante o jogo, realizado no último dia 11/7. Natural do Uruguai, o preparador físico declara morar em Lima, a capital do Peru, cidade onde fica a sede do Universitario.
Para o magistrado, o fato de o réu viver no exterior não prejudicaria o andamento do processo. Segundo avaliou, ele poderia participar de audiências por videoconferência e é preparador físico de uma equipe que disputa competições internacionais, com “viagens corriqueiras para visitar equipes adversárias”.
“O mesmo pode ser encontrado sem muitas dificuldades e, até mesmo, se o caso for, em última análise, extraditado acaso não coopere com a Justiça brasileira ou demonstre animus de fugir”, escreveu o magistrado. “Para tanto, bastaria nova ordem de prisão e emissão de alerta para autoridades estrangeiras e instituições cooperantes, como a Interpol”.
Cusparada
No seu interrogatório, Sebastian negou ter imitado um macaco e alegou que, na ocasião, gesticulava com os braços abertos porque segurava cones.
Segundo o preparador físico, ele teria se voltado para a torcida do Corinthians porque, enquanto recolhia o material do campo, sentiu uma cusparada no pescoço.
“Por que vocês estão cuspindo em mim, se eu estou trabalhando?”, teria questionado.
Na delegacia, cinco testemunhas confrontam a versão do preparador físico e afirmam que ele fez “gestos claros de racismo”. Os depoentes são um empresário, um gerente, um estudante e dois policiais militares.