Juiz manda prender morto em racha do PCC por não voltar de saidinha
Juiz expediu ordem de recaptura contra tesoureiro do PCC “Luiz Conta Dinheiro”, fuzilado no início do mês, por não voltar de saidinha
atualizado
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São Paulo – O juiz Fernando Baldi Marchetti, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), expediu na terça-feira (26/3) uma ordem de prisão contra Luiz dos Santos Rocha, o “Luiz Conta Dinheiro”, 55 anos, que foi morto duas semanas antes, durante episódio atribuído ao racha interno do Primeiro Comando da Capital (PCC). A justificativa é que o alvo não voltou da saidinha.
Apontado como tesoureiro do PCC, Luiz Conta Dinheiro cumpria pena, em regime semiaberto, por porte ilegal de arma de fogo, na Penitenciária Nestor Canoa – Mirandópolis 1, no interior paulista.
Por volta das 17h do 12 de março, ele foi fuzilado no momento em que chegava de carro em casa, em Atibaia, também no interior, após ser beneficiado pela primeira saída temporária de 2024. A execução, noticiada pelo Metrópoles, foi amplamente divulgada pela imprensa.
Como Luiz Conta Dinheiro não retornou para a cadeia, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) instaurou investigação interna por suposta “falta disciplinar de natureza grave”.
Mandado de recaptura
A pasta do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) também pediu à Justiça que o preso, que já estava morto, voltasse para o regime fechado e perdesse o direito às saidinhas. O ofício foi enviado ao juiz de execução penal no dia 19 de março, uma semana após o assassinato.
Ao apreciar o pedido, o juiz Fernando Baldi Marchetti, do Departamento Estadual de Execução Criminal de Araçatuba, no interior paulista, decretou a suspensão do regime semiaberto de Luiz Conta Dinheiro.
Na decisão, o magistrado também expediu mandado de “recaptura com urgência” contra o tesoureiro do PCC.
O mandado de prisão afirma que o suposto foragido teria “cometido, em tese, falta grave, consistente em abandono, ao não retornar da saída temporária”.
Racha do PCC
Investigadores atribuem a morte de Luiz Conta Dinheiro ao racha que divide a alta cúpula do PCC. A disputa de poder envolve Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, o líder máximo a facção, contra antigos aliados.
Os dissidentes são Roberto Soriano, o Tiriça, Abel Pacheco de Andrade, o Abel Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho. Eles receberam apoio de pelo menos mais dois líderes históricos do PCC: Daniel Vinicius Canônico, o Cego, e Reinaldo Teixeira dos Santos, o Funchal.
O principal motivo do conflito, que já é considerado histórico, seria um diálogo gravado entre Marcola e policiais penais federais, na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO). Na ocasião, o líder máximo do PCC afirma que Tiriça seria um “psicopata”.
A declaração foi usada por promotores durante o julgamento de Tiriça, que foi condenado a 31 anos e 6 meses de prisão, em 2023, por ser o mandante do assassinato da psicóloga Melissa de Almeida Araújo.
A fala de Marcola teria sido interpretada pelos antigos aliados como uma espécie de delação.
Tiriça, Vida Loka e Cego faziam parte da alta cúpula da facção desde 2002, quando Marcola escalou na hierarquia e assumiu o controle do grupo criminoso. Já Andinho e Funchal também são integrantes da facção há décadas e chegaram a assumir postos de liderança.