Jovem negra e mediadora de leitura: quem é a “prefeita-mirim” de SP
Ação da Prefeitura para celebrar o Dia das Crianças indica menina de 13 anos para ser prefeita da cidade por um dia
atualizado
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São Paulo — “Eita, como que está ficando importante”, diz a mãe da jovem Isabela Vitória Jesus dos Santos, de 13 anos, em um áudio de WhatsApp que a garota mostra no celular.
A mensagem foi enviada na tarde da última terça-feira (10/10), em resposta a notícia que a menina havia acabado de repassar: ela havia sido escolhida “prefeita-mirim” da capital paulista e foi convidada para uma cerimônia na sede da Prefeitura de São Paulo, no centro, já no dia seguinte, onde receberia as chaves da cidade.
Adolescente negra, periférica, vice-presidente de um grêmio estudantil chamado “Malala” em homenagem à prêmio Nobel da Paz de 2014, Isabela não sabia dizer ao certo, já com a chave da cidade em mãos, porque havia obtido o posto. “Os professores porta-vozes do grêmio que escolheram”, resumiu.
Uma das professoras da Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Manoel Carlos de Figueiredo Ferraz, do bairro Pedreira, zona sul da cidade, já na divisa com Diadema, sabia. Ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), descreveu a jovem como comunicativa, prestativa, líder e “excelente fotógrafa”.
O evento de nomeação de um “prefeito-mirim” para a cidade foi uma iniciativa da gestão Nunes para marcar do Dia das Crianças e, em especial, o Dia Internacional da Menina, celebrado todo dia 11 de outubro, e que passou a fazer parte do calendário oficial de São Paulo desde a última segunda-feira (9/10).
A Secretaria Municipal da Educação escolheu a escola de Isabela (uma unidade que está sendo beneficiada com uma reforma de R$ 1 milhão) para indicar um aluno e os professores da unidade a escolheram como a representante.
O prefeito disse que ele mesmo foi representante do grêmio de sua escola. Ricardo Nunes avalia que essas estruturas ajudam os alunos a se organizarem e fomenta o desejo de participação política.
Mandato
Prefeita-mirim “biônica”, portanto, a jovem já havia, sim, vencido uma disputa eleitoral: a chapa para comandar o Grêmio Malala.
A estudante do sétimo ano do ensino fundamental estava em sua classe no começo deste ano letivo, quando outros alunos disseram que estavam formando chapas para a eleição do grêmio. Ela aceitou o convite para participar de uma delas. “Tinham chapas muito boas”, lembra.
A campanha vitoriosa de seu grupo focou em propor melhorias para a merenda escolar e uma mudança no jogos interclasses da escola. Além de futebol, seu grupo propôs disputas de queimada e vôlei.
Além das aulas e do grêmio, a simpatia que Isabela tem dos professores veio de outra atividade extracurricular da jovem. Fã da escritora norte-americana Colleen Hoover (cujo nome ela não quis pronunciar de jeito nenhum na entrevista com medo de tropeçar no inglês), ela participa de dois grupos de leitura da escola.
“Eu faço ‘Mediadores de Leitura’ e ‘Leituras no meu Canto’. Em um, a gente vai toda quarta-feira na escola e ajuda a professora (de leitura) nas aulas com as crianças da manhã. E nos mediadores, tem alguns projetos em que as meninas dançam, outras apresentam músicas e outras, poemas”, diz.
Isabela é a caçula de sete irmãos (somando os que ela tem por parte de pai e os da parte da mãe). Ela nasceu no mesmo bairro da escola e mora com a mãe e o padrasto. Apesar de ter sentado na cadeira do prefeito Nunes nesta quarta, o futuro dela não passa pela política, caso seus planos sigam como ela diz querer hoje: será psicóloga ou médica veterinária.
Escolhida prefeita-mirim, Isabela soube que teria de propor ações para a cidade enquanto estava no carro, a caminho da prefeitura. Disse ter lembrado de uma praça do bairro que precisava de reformas. Um despacho assinado por ela, determinando o investimento na reforma da Praça do Acuri, próximo à Estrada do Alvarenga, será publicado no Diário Oficial da Cidade.