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José Rainha cobrou R$ 2 mi para devolver terra invadida, diz polícia

José Rainha foi preso com dois líderes do movimento sem-terra FNL, no sábado (4/3), acusado de extorquir fazendeiros no interior de SP

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São Paulo – Preso desde sábado (4/3) por suspeita de extorquir fazendeiros no interior de São Paulo, o líder do movimento Frente Nacional de Lutas (FNL), José Rainha Júnior, é acusado de cobrar até R$ 2 milhões para devolver uma fazenda invadida pelo grupo de sem-terra em 2021.

Segundo a Polícia Civil, José Rainha, junto com o coordenador nacional da FNL, Luciano de Lima, e Cláudio Ribeiro Passos, o “Cal”, lideram uma quadrilha que teria extorquido seis fazendeiros da região do Pontal do Paranapanema, no interior paulista. No domingo (5/3), eles passaram por audiência de custódia e foram mantidos na prisão.

Uma das vítimas, segundo inquérito policial obtido pelo Metrópoles, foi a fazendeira Maria Nancy, da cidade de Rosana, que fica a 730 quilômetros da capital paulista. Em depoimento, ela afirmou que o trio pediu R$ 2 milhões e 20 alqueires de terra para devolver a fazenda dela, invadida em outubro de 2021.

Ela contou aos policiais que foi procurada, após a invasão, pelo advogado Cirineu Dias, que manifestou interesse em comprar a propriedade. Ele aparece em uma foto ao lado de Rainha e Lima (veja abaixo).

O líder da FLN, José Rainha (esq), ao lado do advogado Cirineu Dias e de Luciano de Lima

O advogado, segundo o depoimento da fazendeira, afirmou que, por causa da invasão de sua fazenda por cerca de 200 integrantes da FNL, “teria que pagar José Rainha.”

“Ele chegou a lhe dizer que teria que ser realizado um acordo com Zé Rainha, posto que se ele fosse beneficiado de alguma forma ele tiraria os acampados da fazenda […] A proposta seria que a declarante teria que pagar a José Rainha R$ 2 milhões e mais 20 alqueires. Somente após este acerto com José Rainha a fazenda poderia ser negociada”, diz trecho do inquérito policial.

A vítima afirmou ainda que João Batista, que se apresentou como amigo íntimo de José Rainha, disse ser “a melhor saída” fechar um acordo, pois, caso não o fizesse, “correria o risco de ficar sem nada.”

“João ainda lhe disse que José Rainha não fazia acordo pequeno, e que se o acordo fosse feito José Rainha levaria com facilidade os acampados para outro local, e poderia garantir que ela [fazenda] não seria invadida novamente”, afirma outro trecho do documento da polícia.

Nancy, segundo o relatório policial, ofereceu R$ 700 mil aos invasores, mas sem abrir mão de qualquer pedaço de terra. O próprio José Rainha teria afirmado, de acordo com a vítima em depoimento, que não poderia abrir mão dos 20 alqueires.

“Restou evidente que José Rainha precisava garantir ao menos uma fração da fazenda invadida, de maneira a legitimar o seu discurso frente ao movimento FNL. Por fim, afirmou que José Rainha foi expulso do MST [Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra], justamente por usar de roupagem o movimento social lícito, para encobrir suas condutas ilícitas”, diz trecho do parecer assinado pelos delegados Ramon Euclides Guarnieri Pedrão e Frederico Alves Melo.

Defesa

O Metrópoles procurou a defesa de José Rainha e Luciano de Lima, mas não obteve retorno até o momento. O espaço segue aberto para manifestação. O advogado de Cláudio Ribeiro Passos não foi localizado pela reportagem.

Em nota divulgada no domingo, os advogados Raul Marcelo e Rodrigo Chizolini, que representam os líderes da FNL,  afirmaram que Rainha e Lima são “dois trabalhadores do campo que lutam por justiça social e reforma agrária” e que “vão utilizar, dentro da lei, todos os recursos necessários” para que eles sejam soltos.

A FNL afirmou que a ação da policial teve “cunho político” e foi uma “retaliação” às ocupações de nove fazendas feitas em fevereiro, em ação batizada como “Carnaval Vermelho”, o que a polícia nega.

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