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Jockey reage a veto a corridas: “Cavalos são atletas de performance”

Representantes do Jockey Club de SP atacam veto a corridas e dizem que cavalos são reverenciados e tratados como atletas de performance

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Joqueta e cavalo em cocheira - Metrópoles
1 de 1 Joqueta e cavalo em cocheira - Metrópoles - Foto: William Cardoso/Metrópoles

São Paulo — O veto às corridas de cavalo na capital paulista provocou a revolta entre aqueles que têm animais no Jockey Club de São Paulo. Criadores, donos de cocheira, jóqueis e a comunidade formada por aqueles que se envolvem diretamente nos cuidados dizem que cavalos são considerados atletas de performance e, até por isso, recebem o melhor tratamento.

A discussão foi parar na Justiça, que suspendeu nesta semana a lei que impedia a realização de corridas na cidade. O projeto sancionado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), de autoria do vereador Xexéu Tripoli (União Brasil), diz que “a utilização de animais para jogos de azar é uma prática obsoleta e que ensina valores incompatíveis com os dias de hoje”. Também cita que a prática ocupa um espaço importante em uma cidade “carente de áreas para lazer, educação e cultura”. A prefeitura alega que o Jockey Club deve R$ 850 milhões em impostos, o que também é contestado por seus representantes.

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Os aprendizes de jóquei Danilo Araújo de Novaes e Gabriel Pereira Santana
A joqueta Jeane Alves, primeira mulher a vencer o Grande Prêmio São Paulo
Os aprendizes de jóquei Danilo Araújo de Novaes e Gabriel Pereira Santana
Cavalo em cocheira do Jockey Club de São Paulo
Cavalo em cocheira do Jockey Club de São Paulo
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A joqueta Jeane Alves, primeira mulher a vencer o Grande Prêmio São Paulo

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O médico e ex-conselheiro do Jockey Club de São Paulo Enio Buffolo

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O médico e ex-conselheiro do Jockey Club de São Paulo Enio Buffolo

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Imagem aérea do Jockey Club de São Paulo

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Entusiasta e ex-conselheiro do jockey, o médico e criador Enio Buffolo afirma que fica revoltado quando escuta que os cavalos de corrida são maltrados.

“Eles são uma obra da natureza. A gente os trata como atletas”, diz. “Quando são campeões, então, ganham até beijo”, afirma.

Para Buffolo, atacar as corridas de cavalo é uma “afronta mundial”. “Nos Estados Unidos, a 10ª economia deles é o puro-sangue inglês. Quem cria é um grupo de abnegados”, diz. “É um esporte caro e dá prejuízo mensal. Você faz porque gosta, porque não tem amante, não tem barco”, afirma.

O custo mensal de manutenção de um cavalo no Jockey Club é de R$ 2.400, incluindo a cocheira, alimentação, veterinário, treinador, ferrador, jóquei, cavalariço.

O Metrópoles apurou que a percepção dos envolvidos com o Jockey Club é que a polêmica envolvendo as corridas tem menos relação com cavalos e mais com o mercado imobiliário, que avança sobre imóveis nas imediações da pista de corrida.

“A turma fala que se maltrata animal, o que revolta muito a gente. É justamente o contrário. Cada cavalariço desses tem um cavalo como se fosse um filho. São capazes de largar a família para ficar com o cavalo. São muito bem tratados, quem dera todos tivessem o mesmo tratamento”, diz Buffolo.

Valores

“Tivemos um cavalo na cocheira, que não era meu, que foi vendido para os árabes, em Dubai, por US$ 1,8 milhão [quase R$ 10 milhões]. Esse é de qualidade”, afirma Buffolo.

Um cavalo que está no Jockey e tem se revelado um bom competidor foi ofertado, recentemente, por US$ 300 mil [cerca de R$ 1,65 milhão].
Mas nem todos chegam a esse patamar, como também acontece com jogadores de futebol. Cavalos que não são considerados craques acabam vendidos por R$ 6.000, por exemplo.

Que cavalo é esse?

Assim como os cães, cavalos têm suas especificidades, segundo as raças. No Jockey Club, o foco está no puro-sangue inglês, que é o cavalo mais rápido do mundo nas distâncias de 1.000 a 3.000 metros. Abaixo de 1.000 metros, o mais veloz é o quarto de milha. Acima de 3.000, o árabe.

Raças como andaluz, por exemplo, são para adestramento. O mestiço entre árabe e puro-sangue inglês é voltado para saltos, como aqueles que são vistos em olimpíadas, que são chamados por “sela francês”. Representante famoso da raça é Baloubet du Rouet, que refugou nos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000, mas levou o ouro com Rodrigo Pessoa quatro anos depois, em 2004 — morreu em 2017.

A genética influencia, mas não é tudo. Dados dos criadores apontam que de cada 100 puro-sangue inglês, só 20 chegam a competir.

“Você não pode ter cinco filhos e os cinco serem atletas. Teve o Pelé e o irmão dele não deu nada”, afirma Buffolo.

Quando não vira cavalo de corrida, o puro-sangue inglês costuma ser destinado à melhoria de outras raças. “Dá cavalos altos e fortes. Tem muito em fazenda em Goiás, Mato Grosso, no Sul”, diz o especialista.

Luxo e sensibilidade

Os cavalos povoam o imaginário da humanidade e são tratados com pompa ao redor do planeta, inclusive entre representantes da realeza.
Morta em 2022, a rainha Elizabeth 2ª era apaixonada por cavalos, como mostra a série “The Crown”. Tanto que, segundo Buffolo, apenas o treinador e o jóquei tinham seu telefone direto. “Era com quem ela gostava de bater papo”, diz.

Jóqueis extremamente vencedores são recebidos até com limusines no exterior, antes de grandes prêmios. Costumam ganhar 10% ao vencer páreos. Como há grandes prêmios pagando até US$ 3 milhões para o cavalo campeão, existe possibilidade de tirar US$ 300 mil numa única corrida.

Na realidade brasileira, eles ganham em torno de R$ 150 por páreo só para montar. Cada páreo pode pagar, em média, R$ 5.000 ao cavalo vencedor, portando o jóquei campeão tiraria em torno de R$ 500 ao vencer a corrida. O dinheiro é depositado 15 dias depois, após o cavalo passar por antidoping.

A avaliação dos especialistas é que, para lidar com cavalos de corrida, é necessário ter sensibilidade. Como todo animal, eles também têm semanas boas e outras ruins.

Há cavalos que não gostam de correr à frente dos outros, por isso só “atropelam” na chegada. Também existem aqueles que se “acovardam” com outro do lado ou então gostam de partir logo à frente, por isso o jóquei não pode tentar contê-lo para não faltar fôlego no fim. “É uma ciência, e por isso que é bonito. Descobrir do que o cavalo gosta”, diz Buffolo.

Joqueta

Jeane Alves, 36 anos, deixou o interior do Ceará aos 18 anos e deu início à formação na escola do Jockey Club em 2008, seguindo a trilha de outros familiares que também se destacaram na profissão. “Montava a cavalo de vaquejada, de passeio, na fazenda do meu pai. De corrida, não. Foi aqui”, afirma. “É paixão de berço. Desde criança, na fazenda, era apaixonada por cavalo, não só os de corrida”.

Sobre a lei que veta as corridas, Jeane diz que fica muito chateada com o que escuta. “O que me assusta são as barbaridades que falam, que a gente maltrata os cavalos. Não é assim, são como cachorros de estimação. Você chega, abraça, beija. Eles têm alimentação e cama da boa e da melhor”, diz.

O uso do chicote nos animais ainda é algo que gera controvérsia, tanto que há páreos e lugares em que esse tipo de intervenção é limitada ou proibido. Para Jeane, existe um controle sobre isso e não é algo feito para machucar os animais. “É para alertar”, diz a joqueta.

A joqueta cita uma série de animais nos quais montou ao longo da carreira e ressalta que não faz sentido acusar os participantes do turfe de agressão aos bichos. “Aqui, temos todo cuidado com a questão dos maus-tratos. Ninguém aceita”.

Jeane foi a primeira mulher a vencer o Grande Prêmio São Paulo, com o cavalo Roxoterra. “A minha maior alegria. Nunca uma mulher tinha ganhado”, afirma. Ela tem cerca de 850 vitórias acumuladas somente no Jockey Club da capital.

Não são apenas os cavalos que recebem atenção especial. Jeane conta que faz academia duas vezes por dia, tem alimentação regrada e uma rotina com cuidados tanto físicos quanto mentais. “Tem que ser muito ágil para saber por onde ir”, diz.

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