“João de Deus” de Socorro: quem é líder espiritual preso em São Paulo
Jessey Maldonado Monteiro, de 49 anos, agia pelo menos desde 2015; polícia acredita que suspeito também abusou de vítimas em hospital
atualizado
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São Paulo — O líder espiritual Jessey Maldonado Monteiro, de 49 anos, acusado de praticar abusos sexuais contra mulheres em um centro religioso de Socorro, no interior de São Paulo, agia há pelo menos nove anos — o relato mais antigo entre as vítimas é de 2015. Ele foi preso na segunda-feira (15/1), acusado de estupro contra pelo menos 14 mulheres. A Polícia Civil suspeita que o número de vítimas seja muito maior.
Entre os relatos das vítimas, há informações de que o suspeito espiritual oferecia um copo d’água “essencial”, aplicava uma grande quantidade de óleo nas partes íntimas delas e encostava seu pênis nas mãos das mulheres. A suspeita é de que a água continha alguma substância que dopava as mulheres para facilitar os abusos.
Na casa do líder espiritual foram apreendidos brinquedos sexuais, seringas, câmeras, remédios e duas armas de fogo — sendo uma delas ilegal.
Além de atuar como líder espiritual em um templo de umbanda, Jessey era chefe do setor de radiologia da Santa Casa de Socorro. Há indícios de que pacientes do hospital também sofreram abusos sexuais do suspeito — incluindo o caso de uma adolescente de 15 anos.
A delegada Leise Silva, responsável pelo caso, afirmou que, além das 14 mulheres ouvidas, há pelo menos outras 15 vítimas que ainda não compareceram formalmente à delegacia. A polícia batizou a operação de “João de Deus Socorrense”, em alusão ao líder religioso condenado a quase 500 anos por abusos cometidos contra mulheres que frequentavam seu templo espiritual em Abadiânia (GO).
A advogada Jéssica Toledo representa algumas das vítimas e contou ao Metrópoles parte dos relatos das mulheres. Segundo ela, a maioria dos casos de abuso acontecia dentro do centro de umbanda.
As investigações apontam que Jessey tinha a ajuda de uma mãe de santo, que indicava os serviços dele para pacientes que considerava mais frágeis. No local onde fazia os atendimentos — alguns na sua própria casa —, o suspeito dizia ter “poderes superiores”, capazes de curar dores físicas e emocionais.
Os relatos das vítimas são muito parecidos, disse a advogada. De acordo com elas, Jessey pedia para que bebessem um copo d’água, alegando que “a água é uma condutora elétrica essencial para a terapia”.
“Apertava os peitos”
As sessões duravam em torno de duas horas. O homem pedia para as vítimas tirarem o sutiã porque “precisava fazer massagem na região do peito”. “Elas até sentiam dores excessivas, ele apertava muito os peitos delas”, disse a advogada.
Segundo Jéssica, o suspeito passava muito óleo no corpo das mulheres, principalmente na região da vagina. “Uma delas me relatou que pediu para ir ao banheiro, porque queria parar com aquilo. Ela disse que ficou com a calcinha encharcada de óleo.”
“Elas relatam que ele posicionava as mãos delas de um jeito que ele pudesse encostar o pênis durante a massagem”, afirmou a advogada.
O que diz a defesa
O Metrópoles entrou em contato com a defesa de Jessey Maldonado Monteiro. Em nota, o advogado Ricardo Rafael, que representa o indiciado, informa que não se manifestará sobre o caso, “uma vez que os autos se encontram em segredo de Justiça” e que “no momento oportuno demonstrará toda a improcedência acusatória”.
“A respeito da prisão preventiva decretada, a defesa informa que respeita a decisão, mas irá recorrer, pois os argumentos utilizados não encontram respaldo legal, onde a presunção da inocência deve prevalecer”, informou o advogado.
O Metrópoles entrou em contato com a Santa Casa de Socorro, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.