“Jesus de cabelo vermelho”: encenação da Paixão de Cristo vai parar no MP
Moradores de Cafelândia acionam MP contra peça por entenderem que Jesus era retratado como gay; liberada, produção teve ingressos esgotados
atualizado
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São Paulo – O receio de que Jesus Cristo fosse “retratado como um homossexual” em uma encenação teatral da Paixão de Cristo, no mês de abril, levou moradores de Cafelândia, no interior de São Paulo, a acionarem o Ministério Público de São Paulo (MPSP) para impedir a realização da peça na cidade, que fica a 400 km da capital paulista.
“O cartaz da referida peça teatral traz uma imagem de Jesus Cristo retratado como um homossexual, cabelos pintados de vermelho, deturpando assim a imagem de Cristo”, diz trecho do documento encaminhado ao MPSP.
Confusão
O cartaz da peça de teatro, que mostra um ator de cabelos coloridos, foi publicado nas redes sociais da Coordenadoria de Cultura da cidade em 13 de abril – o espetáculo estava marcado para os dias 21 e 22 do mesmo mês. Nos comentários, alguns moradores do município manifestaram indignação.
Um deles escreveu que “só olhando a postagem tenho certeza que qualquer um que vive fielmente a Jesus se sentiu mal e ofendido”. Outro morador tentou comparar a situação a uma adaptação do filme Van Helsing, que retrata um caçador de vampiros.
“É muito difícil aceitar mudanças na história (não estou falando da peça em si, até porque não assisti). Vou mudar um pouco o foco aqui e falar da série Van Helsing, onde transformaram o Drácula em mulher. Não se faz isso! A história dele não bate se fizer isso. Enfim, é isso o que eu quero dizer: somos inflexíveis a mudanças drásticas”, argumentou.
Na representação enviada ao MPSP, o advogado Vinícius Cardoso da Silva, autor do pedido, afirmou que se tratava de uma “sátira” da imagem de Jesus, “ultrapassando assim os limites da liberdade artística protegida pelo texto constitucional”.
Estereótipo
O pedido foi arquivado pelo MPSP. “Em nenhum momento é sequer mencionado que a figura de Jesus seria apresentada na peça como tendo esta ou aquela orientação sexual”, escreveu o promotor Thiago Rodrigues Cardin.
“A conclusão de que Jesus é ‘retratado como um homossexual’ por estar com os ‘cabelos pintados de vermelho’ é mera ilação do noticiante, baseada em representações estereotipadas – como se a cor do cabelo, a forma de se vestir, o jeito de falar ou qualquer outra característica individual, por si só, definisse a orientação sexual de uma pessoa”, acrescentou.
Com o arquivamento, a produção do espetáculo abriu mais um dia de apresentações após constatar que a polêmica provocou grande procura pelos ingressos – a entrada exigia apenas 1 kg de alimentos não perecíveis. A peça ficou em cartaz entre os dias 21 e 23 de abril.