Investigações sobre clã Bezerra só poupam filha de 8 anos de Deolane
Polícia Civil de Pernambuco apura a relação da influenciadora, sua mãe, irmãs e dois filhos, de 17 e 20 anos, em esquema com jogos ilegais
atualizado
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São Paulo – Com exceção da filha de 8 anos, todo o núcleo familiar da advogada e influenciadora Deolane Bezerra, de 36 anos, é apontado pela polícia como participante de um esquema usado para lavar o dinheiro proveniente do jogo do bicho e de apostas ilegais.
Deolane e a mãe, Solange Alves Bezerra Santos, estão atrás das grades desde o último dia 4, quando foram presas pela Polícia Civil de Pernambuco suspeitas de integrar uma organização criminosa.
Nem mesmo o filho de 17 anos da influenciadora ficou fora do esquema. A conta corrente dele foi usada pela avó e pela mãe em transações bancárias milionárias.
Deolane é detentora de 98% da empresa Bezerra Publicidade e Comunicação, por meio da qual recebeu e remeteu dinheiro de origem suspeita. Os outros 2% pertencem às irmãs da advogada, Dayanne e Daniele Bezerra Santos, cada qual com 1% no quadro societário.
O faturamento anual informado pela empresa, conforme relatório policial obtido pelo Metrópoles, seria de R$ 500 mil, destoando do volume de dinheiro movimentado pelas sócias.
Transferências milionárias
Entre 7 de novembro de 2022 e 10 de maio de 2023, a Bezerra Publicidade recebeu R$ 6,9 milhões, por meio de 13 transferências.
A principal origem do dinheiro, representando 70%, foi a empresa Pay Brokers Cobrança e Serviços em Tecnologia, apontada como uma das principais envolvidas no esquema de lavagem de dinheiro.
Parte do valor milionário foi transferido, de forma fragmentada, em 185 depósitos, para a conta corrente de Deolane, que recebeu R$ 3,2 milhões.
A investigação mostra que ela usava a rede social para promover sorteios, usados para a lavagem de dinheiro, também divulgados nos perfis dos dois filhos, o jovem de 17 anos e Giliard Vidal dos Santos.
O filho mais velho foi flagrado dirigindo sem habilitação uma McLaren na região do Tatuapé, zona leste de São Paulo, em 28 de agosto deste ano. O veículo de luxo, avaliado em R$ 2,9 milhões, também estava sem placas e foi apreendido.
Como revelado pelo Metrópoles, Deolane é investigada por usar carrões de luxo como recurso para lavar dinheiro. Foi por meio de um deles, uma Lamborghini, que a Polícia Civil conseguiu constatar o elo dela com a organização criminosa envolvida com o jogo do bicho e apostas on-line.
Caçula laranja
Entre 1º de dezembro de 2022 e 31 de maio de 2023, quase R$ 1,4 milhão foi movimentado na conta do filho de 17 anos da influenciadora, conforme dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Na ocasião, a renda mensal atribuída ao adolescente era de R$ 2 mil.
A autoridade financeira identificou que, desse total, 99% foram debitados via Pix para outras contas, de forma fracionada, indicando um esquema de lavagem de dinheiro conhecido como “smurfing” — uma prática na qual criminosos movimentam grandes valores em pequenos depósitos para dificultar o monitoramento das transações suspeitas.
Segundo a Polícia Civil de Pernambuco, ocorreram “transações expressivas” entre o adolescente e a avó. A mãe de Deolane também usava, de acordo com as investigações, um e-mail com o nome do neto para realizar negócios.
Prisão, soltura e prisão
Além do adolescente, Deolane tem mais dois filhos, sendo um deles uma menina de 8 anos. Por esse motivo, a advogada foi beneficiada com prisão domiciliar. Ao deixar a cadeia no último dia 9, no entanto, a influenciadora desrespeitou determinações da Justiça ao dar declaração para jornalistas.
No dia seguinte, Deolane foi presa novamente quando se apresentou no Fórum Rodolfo Aureliano, onde acreditava que iria assinar documentação que a autorizasse viajar para São Paulo, onde pretendia ficar em uma de suas três mansões.
A advogada delas, Adélia Soares, foi procurada pelo Metrópoles, sem sucesso. O espaço segue aberto.
Lavagem de dinheiro
No processo resultante da investigação da polícia pernambucana constam documentos que apontam “fundados indícios” da prática reiterada “do crime de lavagem de dinheiro por parte dos investigados, ao longo dos últimos anos”.
O “dinheiro sujo”, seguem os registros judiciais, foi lavado pela organização “com a aquisição de imóveis e carros de luxo”, além de “loterias”.
A investigação, que embasou denúncia do Ministério Público de Pernambuco, mostra que a associação de Deolane com a mãe “reforça os indícios” que culminaram na prisão de ambas.
A Polícia Civil do estado se embasou em um relatório de alerta do Coaf sobre lavagem de dinheiro. Chamou a atenção uma conta bancária da mãe de Deolane aberta em novembro de 2022. No mês seguinte, as movimentações financeiras da família Bezerra começaram a ser investigadas.
Solange declarava rendimento mensal de R$ 10 mil, mas teve uma movimentação de quase R$ 480 mil entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023 na conta bancária. O relatório ajudou a polícia a identificar e relacionar os alvos da investigação.