Instagram vira vitrine de imóvel do sonho para curiosos e compradores
Instagram traz casas e apartamentos dos sonhos em perfis de corretores que criaram um jeito próprio ao falar com curiosos e compradores
atualizado
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São Paulo — Abrir o Instagram e dar de cara com um apartamento ou uma casa dos sonhos tem se tornado cada vez mais comum. Para muitos, mesmo que comprar um imóvel não esteja nos planos e nem caiba no bolso, é a chance perfeita para dar uma espiadinha e imaginar como seria viver em outro lugar — geralmente mais espaçoso, bonito e confortável.
Corretores instagramers sabem disso e têm usado a rede social para turbinar suas vendas com conteúdo que vai além de um simples e formal anúncio de imóvel.
Não por acaso, no início do mês, seguidores encontraram em um desses perfis o apartamento onde morava Jô Soares, em São Paulo. São 628 metros quadrados bem “instagramáveis”, a cara do apresentador, por R$ 12 milhões. Sim, é um imóvel que atiça a curiosidade de qualquer um.
Com cerca de 150 mil seguidores, o perfil Refúgios Urbanos é um dos mais conhecidos no segmento. A imobiliária que nasceu para a internet há 10 anos produz também livros, mapas arquitetônicos ilustrativos e postais para mostrar “as pequenas belezas do cotidiano”. E são nos detalhes que eles prendem a atenção de quem os acompanha.
“Acredito que o que tentamos trazer nas redes é a poesia que a gente capta dos proprietários durante as conversas”, diz Karen Siqueira, sócia da Refúgios. “Não só o anúncio, mas a emoção de se morar. O que aquele lar transmite. A decisão da venda é racional, mas tem uma porcentagem de emoção”, afirma.
Formada em arquitetura e urbanismo, Karen atende clientes na região da Bela Vista, onde mora — geralmente, os corretores da Refúgios Urbanos mostram imóveis nos bairros onde vivem. Já os seguidores curiosos são de todos os lugares e não incomodam nem um pouco, porque acabam se tornando clientes em potencial.
O arquiteto e urbanista Daniel Korn, de 29 anos, conheceu a Refúgios Urbanos por meio das redes sociais e, na hora de vender um imóvel, procurou por eles para “fugir do óbvio” de um anúncio convencional. “Eles não focaram somente no apartamento em si, mas falaram bastante também do prédio, do edifício, da região. Isso facilita muito a venda”, diz. O apê foi vendido em dez dias.
Korn conhece muita gente que, mesmo sem a intenção de fechar uma compra, visita o perfil no Instagram só para dar uma olhada. “De vez em quando, aparecem apartamentos em edifícios icônicos da cidade. Cria curiosidade em quem, não necessariamente, está procurando comprar um imóvel”, afirma.
Estilo
Tamara Stief passou cerca de 15 anos no mercado imobiliário, incluindo as “houses” (imobiliárias internas) de incorporadoras famosas. Desiludida com esse modelo de vendas, que diz ter “práticas bizantinas”, que não valorizam o corretor, decidiu há três meses investir nas postagem no Instagram, onde já tem mais de 35 mil seguidores e vídeo com 17 mil curtidas — quando fala sobre Higienópolis, por exemplo.
“Até então, todas imobiliárias tops faziam um vídeo meio genérico e eu comecei com esse papo com o cliente. Na verdade, não fui 100% pioneira, pois há outros, mas tenho meu estilo próprio e estou feliz com os resultados”, diz.
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Tamara diz que procura quebrar o que considera “vícios” do mercado imobiliário, como dizer que é bom adquirir imóvel na planta por valor elevado. “Muito melhor comprar algo antigo, com alma, pagando menos no metro quadrado e levando mais área. Porque esse é o verdadeiro luxo, a área”, diz.
“É uma mentira achar que as pessoas podem viver e ser felizes em studios. Ainda mais quando a família cresce. Então, porque não comprar algo de 100 metros quadrados pelo mesmo preço de um lançamento de 50?”, questiona.
Nas postagens, os seguidores não comentam apenas a respeito dos imóveis, mas também pedem dicas de estilo para Tamara. “Eu fico querendo comprar todos os apartamentos e todos os seus looks”, afirmou uma seguidora.
Direcionamento
“Denise No Jardins” é o perfil da corretora Denise Molinaro, que não tem tantos seguidores como os demais exemplos, mas foca num público bastante específico, que busca por imóveis em um dos bairros mais exclusivos — e valiosos — de São Paulo: os Jardins.
“Criei meu Instagram profissional há pouco mais de um ano e meio e não tenho um texto convencional que foca na metragem, valores e configurações. Escrevo a real dos apartamentos. Percebi que as pessoas se interessaram mais pela sinceridade”, diz.
Denise diz que é corretora de poucos imóveis e que, nos Jardins, gosta somente dos prédios antigos com plantas quadradas e reversíveis, com apartamentos claros, de janelas grandes e reformados. Muita gente a segue por curiosidade.
Segundo Denise, quase todos os seus clientes vêm do Instagram. “São pessoas que se identificam com os imóveis que eu vendo e com a maneira que eu os apresento para quem me segue”, diz. “Hoje mesmo estive num apartamento lindo no Jardim América e a proprietária falou ‘você é a Denise no Jardins, aquela que dá uns puxões de orelha no pessoal’. Achei bem engraçado”, afirma.
Entre os puxões de orelha, Denise destaca aqueles em que precisa alertar para o interessado que os móveis não estão incluídos no preço final do imóvel — a não ser que venha o aviso “porteira fechada”.
Custos
Focada na venda, Denise diz que usa a estratégia do tráfego pago, com algoritmo cruzando demanda com a oferta, com filtros e estratégia. “Os seguidores são consequência”, conta.
Muitas vezes, a postagem não está na tela do celular por acaso. Corretores também usam especialistas em tráfego de internet para posicionar, como conteúdo patrocinado, aquelas fotos e vídeos que podem ser considerados incríveis justamente pelo perfil que se pretende alcançar.
Mas tudo tem um preço, podendo custar de R$ 1.000 a R$ 3.000 mensais para se atingir o objetivo, a depender da quantidade de posts.
Apesar desse investimento, as taxas de corretagem sobre a venda dos imóveis, em geral, são as mesmas praticadas pelo mercado “convencional”: 6%.