Com mais de 1/3, indecisos vão definir eleição mais acirrada em SP
Eleitores indecisos são o foco para desempatar a disputa tripla entre Boulos, Marçal e Nunes pela Prefeitura de São Paulo, diz especialista
atualizado
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São Paulo — A um mês do primeiro turno, a mais recente pesquisa Datafolha de intenções de voto para a Prefeitura da capital registrou que, quando perguntados de forma espontânea, 38% dos eleitores paulistanos não sabem em quem votarão nas eleições de 2024 – consideradas as mais acirradas dos últimos 28 anos na capital.
Embora o resultado, divulgado na última quinta-feira (5/9), represente diminuição em relação ao levantamento anterior, que registrou 48% de indecisos, o pesquisador Frederico Batista Pereira, do Departamento de Ciência Política da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, explica que esse número sugere que as eleições ainda podem passar por reviravoltas e que os indecisos devem ser o principal foco das campanhas nos próximos dias.
A quantidade de indecisos verificados na pesquisa eleitoral espontânea é diferente da pesquisa induzida, que, nos últimos dois levantamentos, apontou 4% desse público. Isso porque, no caso da induzida, os eleitores recebem uma lista com os candidatos, enquanto na espontânea é preciso lembrar o nome do próprio candidato, o que simula melhor o cenário do dia da eleição.
“Quando elas [pesquisas espontânea e estimulada] se distanciam, a espontânea dá uma espécie de alerta sobre o que a gente está vendo na estimulada. Essa diferença está me dizendo, em geral, que tem muito eleitor que está dando uma resposta na estimulada quando os entrevistadores tentam induzir a pessoa a dar uma resposta, mas que pode mudar até o dia da eleição”, diz Batista Pereira.
O valor de 38% de indecisão na pesquisa espontânea, assim como a divergência desse resultado com a pesquisa induzida, não é propriamente uma novidade.
Batista Pereira explica que esse comportamento do eleitor é comum e costuma reduzir conforme a eleição passa a estar presente no cotidiano dos eleitores. Pleitos mais polarizados ou com maior repercussão, como a disputa entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022, costumam ter menores taxas de indecisão.
Mas no caso de São Paulo, onde há um empate triplo na pesquisa estimulada de intenção de voto, o cientista político ressalta que o desempenho entre os eleitores indecisos provavelmente será o fator decisivo para determinar o candidato vitorioso.
Emaranhado entre Boulos, Nunes e Marçal
Ao analisar o resultado da pesquisa Datafolha do dia 5 de agosto, Batista Pereira destaca os desafios para os três primeiros colocados para consolidar sua liderança nas intenções de votos.
Em relação ao deputado Guilherme Boulos (PSol), que teve 23% das intenções de votos na pesquisa induzida, Batista Pereira menciona que, apesar do apoio de Lula, o deputado tem dificuldade de capturar os votos que o próprio petista teve na capital no segundo turno das eleições presidenciais. Em 2022, o atual presidente teve 53,54% dos votos dos paulistanos no segundo turno contra Bolsonaro.
“Isso significa que tem voto aí do Lula espalhado por todas essas candidaturas, provavelmente da Tabata, do Datena, inclusive do prefeito Nunes e do Marçal também. Há sinais de que o Marçal é bem votado em setores em que o Lula venceu, o que nos diz que esse alinhamento com a eleição presidencial ainda não aconteceu”, afirma o cientista político.
Para Batista Pereira, o influencer Pablo Marçal (PRTB), que apareceu com 22% das intenções de votos, enfrenta uma estagnação: “Inicialmente, quando o Pablo Marçal começou a subir, imaginamos que ele fosse tomar [a frente] das pesquisas. Mas nas últimas duas semanas ele parou de subir, o que significa que tem uma resistência, uma divisão dentro do bolsonarismo e dentro do eleitorado”.
A divisão se dá principalmente em razão do eleitor que está em dúvida entre Marçal e o atual prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que recebeu 22% das intenções de votos. Batista Pereira explica que os dois candidatos dividem o eleitorado de Jair Bolsonaro e que uma eventual disputa no segundo turno entre os dois depende, necessariamente, que eles consigam conquistar os eleitores de Lula.