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“Entra e vê o que dá pra fazer”, lembra bombeiro do incêndio no Joelma

Bombeiros que participaram do combate ao incêndio no Joelma há 50 anos contam que falta de equipamentos era suprida por improviso e coragem

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foto colorida do bombeiro Franclin de Jesus Ferreira, que atuou no combate ao incêndio no Edifício Joelma em 1974, em imagem atual dentro do edifício feita 50 anos após a tragédia - Metrópoles
1 de 1 foto colorida do bombeiro Franclin de Jesus Ferreira, que atuou no combate ao incêndio no Edifício Joelma em 1974, em imagem atual dentro do edifício feita 50 anos após a tragédia - Metrópoles - Foto: William Cardoso/Metrópoles

São Paulo — Bombeiros que participaram há 50 anos do resgate das vítimas do incêndio no Edifício Joelma, em São Paulo, contam que a criatividade, o improviso e o amor à profissão foram fundamentais para superar em parte as deficiências técnicas da época. Sem equipamentos de proteção e salvamento tão adequados como os atuais, eles se lançaram contra o fogo, literalmente, para salvar vidas.

“Entramos sem pensar. Foi com coração de bombeiro. Não tínhamos materiais, não tínhamos mangueira, a escada alcançava muito pouco”, afirma Franclin de Jesus Ferreira, 75 anos. “Um comandante mandou ‘entra e vê o que dá pra fazer’. E fomos subindo”, diz.

Apesar da precariedade nos equipamentos, Ferreira conta que não tinha medo de morrer. “Já entrei nessa profissão sabendo o que poderia encontrar. Meu filho estava com três dias de vida e eu aqui, no incêndio”, diz. Ele tem outros dois irmãos também bombeiros, sendo que um deles estava a seu lado no Joelma.

Travessia improvisada

O bombeiro Pedro Ortiz Caceres, 74 anos, que também esteve no Joelma, foi homenageado nesta semana na Câmara de São Paulo e diz que o improviso deu a tônica de tudo que aconteceu naquele dia.

“As pessoas faziam ponte com escada prolongável para passar de um prédio a outro, como aconteceu no Joelma e no Andraus. A escada era a ponte. O bombeiro é criativo”, afirma.

Caceres é mais um profissional que relata a falta de equipamento de proteção individual à época. “O pessoal vê nas filmagens e eram bombeiros com camisetas vermelhas para trabalhar”, diz, citando a falta de roupas adequadas para o combate ao fogo.

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Augusto Carlos Cassaniga, capitão reformado da PM de São Paulo
Augusto Carlos Cassaniga, capitão reformado da PM de São Paulo
Augusto Carlos Cassaniga, capitão dos Bombeiros reformado (primeiro bombeiro a descer do helicóptero para resgatar vítimas do Edifício Joelma em 1974); na foto, o edifício Joelma ao fundo, exatamente 50 anos após a tragédia
Augusto Carlos Cassaniga, capitão dos Bombeiros reformado (primeiro bombeiro a descer do helicóptero para resgatar vítimas do Edifício Joelma em 1974); na foto, o edifício Joelma ao fundo, exatamente 50 anos após a tragédia
Edifício Joelma nos dias de hoje: incêndio no local em 1974 deixou 187 mortos; foto feita no dia em que a tragédia completou 50 anos
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Augusto Carlos Cassaniga, capitão dos Bombeiros reformado (primeiro bombeiro a descer do helicóptero para resgatar vítimas do Edifício Joelma em 1974); na foto, o edifício Joelma ao fundo, exatamente 50 anos após a tragédia

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Edifício Joelma nos dias de hoje: incêndio no local em 1974 deixou 187 mortos; foto feita no dia em que a tragédia completou 50 anos

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Edifício Joelma nos dias de hoje: incêndio no local em 1974 deixou 187 mortos; foto feita no dia em que a tragédia completou 50 anos

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Bombeiro Franclin de Jesus Ferreira, que atuou no combate ao incêndio no Edifício Joelma em 1974, em imagem atual dentro do edifício feita 50 anos após a tragédia

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Bombeiro Franclin de Jesus Ferreira, que atuou no combate ao incêndio no Edifício Joelma em 1974, em imagem atual dentro do edifício feita 50 anos após a tragédia

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Celso Luiz Lazzarin, jornalista aposentado e trabalhava em um banco no edifício Joelma no dia do incêndio, em 1974, que deixou 187 mortos; ele é um dos sobreviventes e a foto foi feita com o edifício Joelma ao fundo, exatamente 50 anos após a tragédia

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Celso Luiz Lazzarin, jornalista aposentado e trabalhava em um banco no edifício Joelma no dia do incêndio, em 1974, que deixou 187 mortos; ele é um dos sobreviventes e a foto foi feita com o edifício Joelma ao fundo, exatamente 50 anos após a tragédia

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Oseias Teles Barreto, enfermeiro da Base Aérea de Santos que atuou no incêndio do Edifício Joelma, em 1974; na foto, Oseias com o Joelma ao fundo, 50 anos após a tragédia

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Oseias Teles Barreto, enfermeiro da Base Aérea de Santos que atuou no incêndio do Edifício Joelma, em 1974; na foto, Oseias com o Joelma ao fundo, 50 anos após a tragédia

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O bombeiro reformado (a aposentadoria do militar) brinca ao falar da capacidade de seus colegas de corporação em resolver as coisas da forma como é possível. “Não subestime um idoso, principalmente se ele for um bombeiro”, diz.

Um dos heróis do salvamento no Joelma, Augusto Carlos Cassaniga, hoje capitão reformado com 83 anos, conta que se voluntariou para saltar de helicóptero sobre o prédio. O problema é que a aeronave à época era pouco potente para pairar sobre o edifício em chamas.

O piloto sugeriu, então, que ele saltasse de uma corda a partir da lateral, à distância, em pleno voo. O risco de despencar sem nem chegar à beirada do prédio era gigantesca e foi então que, na hora, tentaram outra manobra. O helicóptero se aproximou em uma trajetória em “V”, sendo que a ponta inferior da letra foi o momento exato do salto de Cassaniga, já sobre o telhado, sem risco de cair fora do teto.

Cassaniga ainda machucou a perna na queda sobre o telhado, mas seguiu em frente com o salvamento por algumas horas até ser retirado como um dos profissionais feridos no combate ao fogo.

Para participar do resgate, foram recrutados helicópteros das Forças Armadas, mais potentes.

“Safar a onça”

Coronel reformado, Lísias Campos Vieira era segundo tenente à época e explica que a regra que se sobrepunha era a de salvar vidas, independentemente dos meios à disposição.

“A gente tinha que ‘safar a onça’, como a gente falava, que é resolver, não interessa como. É resgatar, porque vida é importante. Não era só em incêndio, mas em várias situações”, afirma.

O coronel conta que até mesmo as vestimentas eram inadequadas, em comparação com os tecidos tecnológicos que existem hoje. “Nós tínhamos a roupa de brim, bota de couro. Hoje, tem um leque enorme de equipamentos de proteção individual. Para cada ocorrência, você tem a chance de escolher uma vestimenta”, diz.

Vieira também cita cilindros de oxigênio mais leves para encarar a fumaça, entre outras coisas. “No Joelma, fizemos a transposição de um prédio a outro em cabo de sisal. Hoje você tem uma série equipamentos de alpinismo, os treinamentos todos”, diz.

Mudanças

Capitão e porta-voz do Corpo de Bombeiros, André Elias afirma que existe a “temporalidade da segurança” e que algumas atitudes dos bombeiros da época não são mais adotadas.

“Não porque estavam errados, mas porque, à época, era o que existia. Hoje temos preparação diferentes para enfrentar os riscos, com as técnicas adequadas e equipamentos corretos para o momento”, afirma.

Segundo o capitão, os bombeiros que foram lembrados nesta semana são exemplo para a profissão. “Por mero prazer de ter como recompensa um agradecimento sincero. Foram heróis à época com os equipamentos dos quais dispunham e com a precariedade que enfrentaram um incêndio dessa magnitude”, diz.

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