Imóveis e joias de R$ 2 milhões: MPSP mirou esposas de chefões do PCC
Na segunda fase da Operação Sharks, contra lavagem de dinheiro, MPSP chegou a pedir prisão de esposas de líderes do PCC
atualizado
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São Paulo – O Ministério Público de São Paulo (MPSP) mira familiares de chefões do Primeiro Comando da Capital (PCC), suspeitos de participar do esquema de lavagem de dinheiro. Entre os investigados em esquemas da facção, estão as mulheres de Odair Lopes Mazzi Junior, o Dezinho, e Marcos Roberto de Almeida, o Tuta.
A segunda fase da Operação Sharks, deflagrada nesta terça-feira (12/9), investiga a movimentação de R$ 100 milhões do PCC nos últimos três anos. Ao todo, as autoridades cumpriram 22 mandados de busca e apreensão na capital e na Praia Grande, no litoral paulista. Três pessoas foram presas.
Documentos sob sigilo, obtidos pelo Metrópoles, mostram que o MPSP chegou a pedir à Justiça a prisão preventiva de Carolina Mazzi de Aquino Lopes, a esposa de Dezinho, suspeita de comprar imóveis e usar empresas de fachada para esquentar recursos. Com a mulher, os policiais apreenderam joias e relógios de luxo, avaliados em R$ 2 milhões. Ela alega inocência.
Também houve pedido de prisão contra Adriana Cristina dos Santos, a mulher de Tuta, que é acusado de usar uma incorporadora, farmácias e padarias para lavar dinheiro do tráfico de cocaína. A promotoria conseguiu o sequestro na Justiça de quatro imóveis na capital e no litoral paulista, ligados ao criminoso.
Esquema de Dezinho
Segundo o MPSP, Dezinho seria responsável por coordenar o tráfico internacional de drogas do PCC e esteve à frente do envio de R$ 1,2 bilhão para o Paraguai em 2019, através do esquema de “dólar cabo”, técnica de lavagem de dinheiro. Ele foi preso em um resort de luxo, em Pernambuco, em julho.
Ainda de acordo com a investigação, o capital ilícito era usado para abrir negócios no nome da sua mulher e de outros laranjas. À Justiça, a promotoria pediu que oito empresas que têm participação de Carolina, incluindo clínicas de bronzeamento, tivessem as atividades econômicas suspensas. Apenas um dos pedidos foi acolhido.
O MPSP aponta que Carolina comprou um apartamento, na Rua Voluntários da Pátria, em Santana, na zona norte da capital paulista, por R$ 501,4 mil. Inicialmente, ela teria tentado pagar o valor em espécie, mas a construtora recusou a transação. O casal também é proprietário de um Volvo X60, um Jeep Compass e uma Land Rover Freelander, segundo a promotoria.
Outro indício de lavagem de dinheiro é uma reforma de R$ 100 mil em uma clínica de estética de Carolina, aberta em junho de 2020, com valores quitados por transferência eletrônica e dinheiro vivo. Só com cadeiras para o espaço, ela teria gastado R$ 22,7 mil.
O pedido de prisão preventiva da mulher de Dezinho foi recusado pelo juiz Thiago Baldani Gomes de Filippo, 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP). O magistrado, no entanto, autorizou buscas e apreensões nos endereços.
Na decisão, o juiz ponderou que o encarceramento de Carolina, que não tem antecedentes criminais, seria desnecessário – apesar de haver indícios de ela ter “prestado relevantes contribuições às práticas criminosas voltadas ao branqueamento do capital ilícito angariado”.
“Ao menos em tese, a prisão de seu esposo teria o esperado efeito inibidor em relação a ela”, escreveu Thiago Baldani Gomes de Filippo. Já a nova prisão preventiva de Dezinho foi autorizada pelo juiz.
Família de Tuta
Gomes de Filippo autorizou, ainda, buscas em endereços ligados a Tuta. O traficante chegou a ocupar o posto de número um do PCC nas ruas em 2020, mas o MPSP acredita que ele tenha sido expulso da facção, por suposto desvio de dinheiro.
Na nova investigação, o MPSP pediu a prisão de 15 pessoas ligadas ao traficante – incluindo a sua mulher, Adriana Cristina dos Santos. O juiz, no entanto, rejeitou a maioria dos pedidos e decidiu decretar duas delas: Dario Pereira Alencar e de Márcio Roberto de Souza Costa, considerados os “principais operadores” de Tuta, de quem obedeceriam ordem direta.
Segundo a promotoria, Tuta constituiu empresas no nome da mulher e de cunhados para lavar dinheiro. Já Dario Pereira e Marcio Roberto eram “‘testas de ferro’ na negociação de imóveis, na compra e administração de empresas e na movimentação bancária de valores”, com uso de fintechs (empresas de tecnologia financeira).
O esquema envolveria até o uso do dinheiro do tráfico para comprar imóveis e depois “revender” para integrantes do grupo. A investigação também identificou uma chácara em Araçatuba, no interior paulista, que foi adquirida por Dario e repassada depois para o nome de filhos de Tuta.