De hotéis a prostíbulos: como operava “ecossistema” do PCC no centro
Segundo MPSP, atuação do PCC no centro de São Paulo não se limitava a tráfico de drogas. Facção dominou hotéis, prostíbulos e ferros velhos
atualizado
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São Paulo — Nas investigações sobre a existência de um “ecossistema de crimes” no centro de São Paulo, promotores do Ministério Público do estado detalham as diferentes frentes de atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC) na região. Nessa terça-feira (6/8), 15 pessoas foram presas e mais de 200 mandados foram cumpridos em uma megaoperação deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco) na região da Cracolândia.
No pedido de decretação de medidas cautelares que deu origem à operação, os promotores afirmam que a atuação do PCC no centro não se limita ao tráfico de drogas. Segundo eles, a facção expandiu seus negócios para o ramo das casas de prostituição clandestinas, pequenos hotéis, ferros velhos e comércio ilegal de peças de veículos, motocicletas e telefones celulares.
Para o Gaeco, os grupos criminosos que atuam no centro de São Paulo são beneficiados pela “cadeia de incentivos” do PCC e contam com a tolerância da facção.
O “ecossistema de crimes” provoca a violação sistemática de direitos humanos, com dependentes químicos vivendo em situações degradantes de higiene e saúde, dizem os promotores.
“O estágio atual de deterioração e degradação moral, com violações sistêmicas a direitos humanos básicos e de numerosas práticas criminosas, constitui uma das questões mais complexas e desafiadoras ao Estado brasileiro e pode ser compreendida a partir do histórico das políticas urbanas que ocorreram nessa região durante mais de um século”, diz o Gaeco.
Favela do Moinho
Segundo as investigações, com a ajuda de um sistema de monitoramento, o PCC criou uma fortaleza na Favela do Moinho, na região central. A pequena comunidade, localizada sob o viaduto Engenheiro Orlando Murgel, servia como esconderijo para os traficantes, depósito de drogas e até para o tribunal do crime julgar e punir os detratores das normas da facção.
Era da Favela do Moinho, que Leonardo Monteiro Moja, o Leo do Moinho, comandava o tráfico de drogas da Cracolândia, diz o Gaeco. Ele é apontado como responsável por todo o abastecimento de entorpecentes na região e pela exploração de diversas atividades
ilícitas.
Leo do Moinho foi preso na operação dessa terça-feira. Ele foi encontrado em um imóvel na Praia Grande, litoral sul de São Paulo.
Hotéis e hospedarias
Segundo as investigações, Leo do Moinho e o PCC usavam pequenos hotéis e hospedarias para lavar dinheiro, com auxílio de laranjas. Os estabelecimentos, “de baixo padrão”, também serviam para esconder entorpecentes e mercadorias furtadas e roubadas, principalmente aparelhos celulares, que posteriormente eram vendidos.
Os promotores também apontam para uma frequente alteração nos quadros societários, bem como a coincidência entre proprietários diversos com o mesmo endereço residencial.
Prostituição
O PCC também lucrava com a exploração sexual na região, diz o Gaeco. Os promotores identificaram pelo menos dois edifícios, apelidados de “prédio do sexo”, que funcionavam como complexos de prostituição.
Nos locais, mulheres dependentes de drogas eram submetidas a situações degradantes e obrigadas a manter relações sexuais, mesmo com doenças venéreas.
Algumas delas, segundo investigação, tinham relações sexuais com os “clientes” em troca de entorpecentes.
Os andares são subdivididos em pequenos cubículos com divisórias. Os “quartos” não possuem banheiros e as roupas de cama apresentam “extrema” falta de higiene. Os promotores afirmam que os edifícios chegaram ao domínio do PCC por meio de seus antigos porteiros, que se filiaram à facção paulista e estabeleceram a “disciplina” do crime nos locais.
Ferros velhos
As investigações apontam que o PCC também dominou os ferros velhos da região. Muitos deles não possuem autorização para funcionamento, violando normas ambientais, e se aproveitam da receptação de objetos roubados e furtados. Em especial, fios de cobre.
Os ferros velhos ainda se valem de mão de obra exploratória de dependentes químicos, que são remunerados com valores mínimos. Em alguns casos, eles trabalham em troca de bebidas alcoólicas ou entorpecentes, em condições análogas à escravidão.
Nos locais, também foram encontradas crianças e adolescentes trabalhando em condições insalubres.
Milícia e venda de armas
As investigações apontam para a existência de uma “milícia” formada por guardas civis metropolitanos que extorquiam comerciantes em troca de “proteção” contra criminosos e usuários de drogas.
Segundo os promotores, um dos integrantes da suposta milícia, Rubens Alexandre Bezerra, ex-GCM, seria um fornecedor ilegal de armas. Entre os armamentos comercializados por ele no centro de São Paulo, estão armas curtas e longas, automáticas e semiautomáticas, e rifles do tipo fuzil de assalto, além de munições e acessórios.
O Gaeco teve acesso a listas de armas enviadas a Rubens por um homem identificado como Edno. Para os promotores, seria um pedido de armamentos. Entre eles, um fuzil ParaFal de calibre 7.62, utilizado pelo Exército e um fuzil Taurus 556.
Monitoramento
Os promotores do Gaeco chamam atenção para um outro item negociado pelo ex-GCM. Mensagens de WhatsApp indicariam que Rubens estaria comercializando “jammer”, aparelho também conhecido como “capeta”, que bloqueia sinais de radiofrequência.
O objeto costuma ser utilizado por associações criminosas ligadas a roubo de carga, bloqueando dispositivos de rastreamento.
Os milicianos também, de acordo com o Gaeco, negociam armas e equipamentos, como a chamada “vassourinha”, um detector de sinais de radiofrequência, usado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para monitorar a comunicação entre forças de segurança.
Na denúncia o MPSP aponta Valdecy Messias de Souza e Paulo Márcio Teixeira como os principais negociadores de rádios transmissores, ilegalmente codificados, principalmente na frequência restrita da Polícia Militar (PM). Outros órgãos da Segurança Pública estão incluídos na lista.