Homem é executado a tiros após ser levado pela Rota, dizem testemunhas
PMs estavam com as câmeras corporais descarregadas e contam uma versão diferente de pessoas que testemunharam abordagem, na zona leste de SP
atualizado
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São Paulo – Policiais das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), tropa de elite da Polícia Militar (PM), mataram com ao menos quatro tiros, na noite de quinta-feira (5/12), Guilherme Ferreira Napoleão, de 32 anos, dentro de um imóvel, em Sapopemba, zona leste paulistana.
Na delegacia, os PMs afirmaram ter supostamente trocado tiros com Guilherme — que consta como vítima no registro da Polícia Civil. No mesmo documento, nenhuma arma de fogo é relacionada entre os itens apreendidos e apresentados pelos policiais na delegacia. Além disso, o Metrópoles apurou que os PMs estavam com suas câmeras corporais descarregadas — restringindo o número de provas sobre o caso.
Testemunhas ouvidas em sigilo questionam a versão da Rota — cujos policiais afirmam terem sido supostamente recebidos a tiros pela vítima.
“Eles [PMs] abordaram o Guilherme na rua, junto com o Gustavo [Silva]. Não vou mentir, eles estavam vendendo droga, mas um crime não justifica outro. O Guilherme tinha começado há pouco tempo nessa vida errada”, afirmou uma das pessoas.
Na versão das testemunhas, os policiais abordaram Guilherme e Gustavo, perto de uma adega de bebidas. Eles foram colocados pelos PMs em viaturas diferentes.
O caso envolvendo os membros da Rota encerra uma semana na qual PMs foram alvo de denúncias e prisões por abuso de autoridade e violência.
Dois destinos
O carro da Rota com Guilherme passou a circular com ele pela região, enquanto o outro veículo conduziu Gustavo para o 69º Distrito Policial (Teotônio Vilela). Guilherme teria sido executado a tiros em um imóvel desabitado, dentro de uma comunidade da região.
O local do homicídio — registrado como morte por intervenção policial — foi preservado por PMs durante a madrugada toda, período após o qual o corpo de Guilherme foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML). Laudo preliminar, obtido pelo Metrópoles, afirma que ele morreu de hemorragia aguda provocada por projétil de arma de fogo.
Os motivos para que os policiais da Rota circulassem com Guilherme pela região ainda não foram esclarecidos.
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A versão da Rota
No 69º DP, os PMs da Rota afirmaram que, divididos em duas viaturas, patrulhavam a região, conhecida como ponto de tráfico de drogas. Os veículos policiais se dividiram, ainda conforme relatado pelos PMs.
Uma das viaturas rumou para a Rua Rio das Flores, onde dois policiais afirmam terem visto Gustavo saindo de um imóvel, usando o telhado.
Ao ser abordado, ele teria dito que havia buscado drogas no local, com o intuito de usá-las — ainda de acordo com os PMs — e que dentro do imóvel “havia grande quantidade de drogas”, “dinheiro”, além de “um indivíduo”.
Contato
Os dois PMs entraram em contato com outros três, da outra viatura da Rota, que foi até o imóvel de onde Gustavo teria saído pelo telhado.
Os policiais, em um relato confuso, afirmam que Gustavo, após a abordagem que sofreu, voltou ao imóvel onde estava Guilherme, “fechando a porta”. Dois dos policiais da Rota, ainda conforme o depoimento desconexo, entraram pelo telhado da mesma casa pelo qual Gustavo havia saído.
“Em um corredor que dava acesso à porta de saída da residência, visualizaram um indivíduo com arma em punho, o qual efetuou disparos de arma de fogo”.
Revidando à “injusta agressão”, os PMs atiraram contra Guilherme, ferido, segundo os policiais, na região torácica e abdominal. Ele morreu no local.
No relato dos PMs, eles mencionam que a vítima teria usado uma pistola calibre 765, mas a arma não consta entre os itens apresentados à Polícia Civil — foram relacionadas somente drogas levadas à delegacia pelos integrantes da Rota.
Gustavo foi indiciado por tráfico de drogas. A defesa não foi localizada e o espaço segue aberto para manifestações. Guilherme deixa dois filhos, de 15 e 8 anos.
O que diz a Segurança Pública
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que “todas as circunstâncias dos fatos” são investigadas pela Polícia Militar, por meio de um inquérito policial militar, e pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
Sobre o fato de as câmeras corporais dos policiais da Rota estarem descarregadas, a pasta acrescentou que 12 mil novos dispositivos serão incluídos à tropa — com maior autonomia de bateria — “evitando situações como a citada pela reportagem”.