Guerra sangrenta: morte de amigo despertou ira de “novo Marcola”
Executado a tiros, o cabeleireiro Daniel de Paula Sobrinho, de 29 anos, era considerado pelo “novo Marcola” como membro da família
atualizado
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São Paulo — A disputa de poder entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e uma forte quadrilha regional, conhecida como Bando do Magrelo, transformou Rio Claro e região, no interior paulista, em um campo de batalha do submundo do crime — com dezenas de mortes violentas em ambos os lados.
Os seis assassinatos mais recentes de membros do PCC, ocorridos em um período de 14 dias, resultaram de uma vingança pela execução do cabeleireiro Daniel de Paula Sobrinho, de 29 anos, um amigo próximo de Anderson Ricardo de Menezes, o Magrelo, principal liderança do bando que bate de frente com a maior facção criminosa do Brasil.
Fontes policiais afirmaram à reportagem, em sigilo, que Magrelo considerava o cabeleireiro como um membro da própria família — isso justificaria a onda de violência desencadeada após o assassinato de Daniel.
Investigadores também disseram que Magrelo já chegou a afirmar ser “o novo Marcola”, referindo-se ao líder máxima do PCC, Marco Willians Herbas Camacho.
Olho por olho
O chefe do bando de Rio Claro está preso desde 23 de maio do ano passado. A cadeia, porém, não impede que ele continue norteando as atividades de sua quadrilha — como apontam investigações da Polícia Civil.
Ao menos 30 mortes já eram atribuídas a Magrelo, de acordo com as investigações. A esses homicídios, podem se somar mais seis, ocorridos desde que seu amigo Daniel foi morto a tiros, dentro do salão de cabeleireiro, no último dia 23.
No mesmo dia, cerca de 12 horas depois, quatro membros do PCC foram alvo de um atentado a tiros, no qual três morreram na hora. Israel Henrique Francisco, de 35 anos, morreu no hospital, após quase seis dias internado.
A reportagem obteve o registro, feito por uma câmera de monitoramento (assista abaixo), do atentado realizado por membros do Bando do Magrelo contra Gabriel Lima Cardoso, de 26 anos, Marcelo Henrique Ferreira, 27, José Cláudio Martins Nunes, 50, e Israel, quando conversavam em frente a um terreno, no bairro das Nações. Os pistoleiros tiveram apoio de um batedor, em uma moto.
Às 20h55, um Fiat Mobi branco para abruptamente em frente aos quatro membros do PCC. Do veículo, desembarcam quatro homens, já atirando. O carro é acompanhado pela moto, da qual o garupa desembarca e se une aos pistoleiros.
Vídeo
Mortos com 15 tiros
Marcelo correu pela calçada e foi morto com um tiro na cabeça e outro na nuca. Ele morreu na rua. No meio do terreno, estava o corpo de José Cláudio — atingido por cinco tiros no peito, dois na cabeça e um na nuca.
Gabriel conseguiu ir um pouco mais longe, não por muito tempo, pulando o muro do terreno – no qual José foi morto – mas foi alcançado e executado com cinco tiros na cabeça e um no joelho direito. Ele foi encontrado em uma rua, usada pelos pistoleiros para fugir. Israel também foi atingido por tiros e hospitalizado, não resistindo aos ferimentos. A polícia não teve tempo de colher o depoimento dele.
Em frente ao terreno no qual as vítimas conversavam, policiais encontraram, após a chacina, munições intactas de calibre 9 milímetros e um carregador prolongado.
Até o momento, nenhum dos pistoleiros foi preso.
Mortos após 42 tiros de fuzil
Os dois assassinatos mais recentes, atribuídos do Bando do Magrelo, ocorreram no sábado (7/12). Foram mortos Arthur Henrique Curilla Garcia, de 32 anos, com 15 tiros, reconhecido como membro do PCC. Além dele, também morreu, alvo de dez disparos, Marco Aurélio Almeida da Cruz, 34, cujo vínculo com a maior facção do Brasil ainda é apurado pela Polícia Civil.
Bando do Magrelo atirou 42 vezes com fuzis para eliminar rival do PCC
A companheira de Garcia, que ocupava o mesmo carro em que ele foi executado, foi ferida sem gravidade em um dos braços.
A motivação para o crime é a disputa entre as duas organizações criminosas pelo controle do comércio milionário de drogas na região.
Após o duplo assassinato, foram encontradas 42 cápsulas deflagradas de munição, grande parte delas de fuzil calibres 556 e 308.
Em uma denúncia obtida pelo Metrópoles, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do Ministério Público de São Paulo (MPSP), afirmou que as execuções promovidas pelo Bando do Magrelo, em via pública, com disparos de fuzil em plena luz do dia, “colocam tristes holofotes na cidade”.