Guardas civis cobravam até R$ 3,5 mil por “proteção” na Cracolândia
Sete guardas civis foram afastados pela prefeitura sob a suspeita de extorquir comerciantes e moradores do centro da capital paulista
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Os comerciantes instalados em áreas da Cracolândia, no centro de São Paulo, não seriam os únicos alvos de um grupo formado por sete guardas civis suspeitos de extorsão. Condomínios residenciais na região teriam pago entre R$ 1,5 mil e R$ 3,5 mil a título de taxa de proteção.
A quantia seria cobrada pelos GCMs para garantir que os fluxos de usuários de drogas não se concentrassem em frente aos prédios.
Segundo conversa via WhatsApp, à qual o Metrópoles teve acesso, o GCM Elisson de Assis, que se identifica como chefe do esquema, faturava R$ 8 mil mensais pagos por quatro condomínios localizados na Avenida Duque de Caxias, um dos pontos controlados pelo grupo.
Um dos prédios deveria pagar R$ 3,5 mil e os demais R$ 1,5 mil. Os valores eram divididos em dois pagamentos quinzenais. Os quatro condomínios constam em uma lista de “clientes” dos GCMs, também composta por 26 comércios. Cada estabelecimento teria desembolsado entre R$ 200 e R$ 500 em troca de segurança.
Os sete integrantes da GCM foram afastados pela Prefeitura de São Paulo nesta terça-feira (6/6). Eles também são investigados pelo Ministério Público (MPSP). O grupo, que age como uma milícia no centro da capital, é formado por integrantes da Inspetoria de Operações Especiais (Iope), considerada a tropa de elite da guarda.
Os sete estão à disposição da Corregedoria da GCM. São eles: Elisson de Assis, Antônio Carlos Amori Oliveira, Cristiano Rodrigues de Lima, Diego Tharssio Neves Teixeira, Ivan Nunes da Silva Júnior, Milton Cunha Matias e Rinaldo Regonha.
A defesa deles não havia sido localizada até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações. O esquema veio à tona após reportagem da Band. As informações foram confirmadas pelo Metrópoles.
Concorrência
Além da Avenida Duque de Caxias, Elisson Assis é suspeito de vender segurança em outras vias do centro, como afirmado por ele mesmo em um áudio ao qual a reportagem teve acesso. Ele também menciona na gravação existir concorrência na região, destacando cobrar valores abaixo de outros grupos que cobram por proteção.
“Não tenho [esquema] só na Duque de Caxias, tenho em outros lugares, que não tem [mais] fluxo. Não é questão de mágica, é porque a gente aperta um pouco mais o calo”, afirmou Assis, acrescentando, “nós somos a Rota da GCM irmão”, referindo-se à tropa de elite da Polícia Militar paulista.
Elisson Assis abriu uma empresa de segurança e monitoramento poucos meses depois de o fluxo da Cracolândia ser dispersado da praça Princesa Isabel, em maio de 2022, por causa de uma grande operação policial.
Na ocasião, centenas de usuários de drogas se espalharam pelas ruas da região. A partir de então, formaram-se vários fluxos, que passaram a migrar de rua em rua pelo centro paulistano, gerando insegurança.
A reportagem ouviu de moradores e comerciantes, em condição de anonimato, que as ruas onde o serviço ilegal de segurança não é contratado viram escoadouro dos fluxos retirados das vias nas quais a taxa de proteção é paga.
O esquema funcionaria com a participação de funcionários da empresa de Elisson. Eles ficam nas proximidades de comércios e condomínios residenciais desarmados, e acionam um guarda caso algum fluxo se aproxime dos imóveis.
Quando necessário, o GCM, agora afastado, pedia apoio para viaturas da corporação, como afirmado por ele mesmo em áudio obtido pelo Metrópoles. “Nós somos uma família, se alguém mexer comigo, no mínimo 18 viaturas vão colar [chegar].”