Gritzbach cobrou R$ 4,4 mi de operador de bitcoins ligado a policiais
Vinícius Gritzbach cobrava operador de bitcoins que tinha como segurança policial penal suspeito, ao lado do delator, da morte de traficante
atualizado
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São Paulo — Quando foi executado em frente ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na sexta-feira retrasada (8/11), o corretor de imóveis Antonio Vinícius Gritzbach travava uma guerra judicial de R$ 4,4 milhões contra o empresário de bitcoins Pablo Henrique Borges. Ambos constavam na lista de suspeitos de mandar matar o traficante Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta.
O processo foi movido em julho de 2023, quando Gritzbach estava solto e negociava seu acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MPSP). À época, ele passou a executar diversas dívidas na Justiça, que iam de pequenos cheques a quantias maiores. A mais vultosa ele cobrou de Pablo Henrique Borges.
No processo, o delator citou o depoimento de Pablo Henrique Borges à polícia, na época em que foi preso, para confirmar que ele havia confessado a investigadores a dívida em bitcoins. Três dias depois da execução de Gritzbach, sua defesa pediu a extinção do processo, em razão da morte do delator. A Justiça apenas suspendeu os autos na sexta-feira (15/11).
Preso suspeito de homicídio
Alvo da cobrança, Pablo Henrique foi preso em fevereiro de 2022, sob suspeita de participação na morte de Cara Preta. Ele foi interrogado pelo delegado Fábio Baena, um dos policiais civis delatados por Gritzbach por supostamente extorqui-lo para livrá-lo do inquérito. Seu envolvimento acabou descartado, enquanto Gritzbach foi denunciado pelo crime.
À época, a Polícia Civil e o MPSP suspeitavam que Gritzbach ajudava Cara Preta a lavar dinheiro do crime. O traficante era sócio da UpBus, empresa sob suspeita de elo com o Primeiro Comando da Capital (PCC), e torrava milhões em imóveis dos quais Gritzbach era corretor. Em uma desavença, Gritzbach teria perdido uma quantia milionária de Santa Fausta e passou a ser ameaçado.
O corretor passou a ser suspeito de mandar matar Santa Fausta, com participação de Pablo Henrique Borges, para quem ele indicou pessoas do mundo do crime como clientes na área de investimentos em bitcoins. Ambos negaram o caso, mas Pablo foi descartado como suspeito e Gritzbach acabou denunciado.
Ex-segurança de Pablo também é suspeito
O outro acusado pelo crime é um ex-segurança de Pablo Henrique Borges – David Moreira, um ex-agente penitenciário que foi preso em Marechal Deodoro, em Alagoas. Foi da capital do estado, Maceió, que Gritzbach voltou no dia em que foi baleado na saída do aeroporto. Segundo policiais que faziam sua segurança privada, ele buscava joias de uma pessoa que lhe devia R$ 6 milhões.
Os depoimentos do delator e do corretor de bitcoins detalharam essas relações à Polícia Civil. Em 21 de fevereiro de 2022, Pablo Henrique Borges afirmou que o ex-agente penitenciário trabalhava no Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo. Ele foi um dos membros de sua segurança pessoal, que era liderada por outro policial penal, Lincoln Vieira.
Segundo Pablo Henrique Borges, seu último contato com David Moreira foi no início de 2021. A morte de Cara Preta ocorreu apenas em dezembro daquele ano. Segundo ele, suas últimas palavras com o policial penal referiam-se ao acerto de pagamentos por seu trabalho como segurança.
Empresário do setor imobiliário
Pablo relatou ter sido apresentado a Gritzbach por um amigo no escritório de sua empresa, como um empresário do setor imobiliário interessado em investimentos em criptomoedas. Os dois acertaram uma carteira de 40 bitcoins – que, segundo o entendimento de Pablo, pertenciam apenas ao corretor. Ele diz que o empresário ainda indicou clientes, para os quais geriu 160 bitcoins.
Em depoimento, Pablo Henrique Borges disse à polícia que Gritzbach “lhe trouxe cerca de R$ 4 milhões” pertencentes a uma pessoa de apelido “Cigarro”. Já o amigo que o apresentou ao delator do PCC teria lhe indicado uma quantia de R$ 1,5 milhão de uma pessoa apelidada de “Negão”. Ambos, segundo ele, eram empresários cuja reputação era defendida por Vinícius. Ele não identificou nenhum dos dois pelo nome.
Ele disse que Gritzbach, em meados de 2020, perguntou a ele por David e que, em seguida, viu que ambos conversaram em uma garagem de sua casa por 20 minutos, mas nunca soube o teor da conversa. Ele negou a participação na morte de Santa Fausta. Disse que nem sequer conhecia o traficante e que o viu apenas uma vez no escritório de Gritzbach.
Em seu depoimento no mesmo inquérito, prestado antes de fechar acordo de delação premiada, Gritzbach também negou participação na morte de Santa Fausta. Ele disse não ter qualquer relação com David Moreira da Silva e que ele era apenas conhecido como segurança de Pablo Henrique Borges.
Ameaça de esquartejamento
Ele relatou aos investigadores que foi sequestrado por pessoas próximas a Santa Fausta, a exemplo de alguém conhecido como “João Cigarreiro” e outro com apelido de “Nega”. Em meio a esse sequestro, chegou a ser ameaçado de esquartejamento. Aos policiais ele disse que “Nega” era um sócio de Santa Fausta que havia investido criptomoedas com Pablo Henrique Borges.
Após a morte de Gritzbach, investigadores da força-tarefa montada pela Polícia Civil chegaram a listar Pablo Henrique como um dos possíveis nomes a serem averiguados, em razão da dívida milionária e da relação pretérita com o inquérito sobre a morte de Santa Fausta.
No entanto, o nome acabou perdendo força após a identificação de um suposto olheiro no aeroporto de Guarulhos suspeito de alertar os executores de Gritzbach. O olheiro, Kauê do Amaral Coelho, foi identificado como um traficante e pode levar a investigação a outros caminhos. Apesar disso, nada está descartado.
Câmeras de monitoramento do aeroporto mostram o momento em que Gritzbach deixa a área de desembarque e, ao fundo, Kauê aparece ao telefone — o que, segundo a polícia, indica que ele pode ter avisado os assassinos do delator do PCC. Gritzbach foi morto cerca de 30 segundos depois do suposto aviso.
O que diz a defesa de Pablo Henrique
Ao Metrópoles o advogado Conrado Gontijo, que defende Pablo Henrique Borges, afirmou que seu cliente não entregou joias a Gritzbach em Maceió, nem se encontrou com ele, porque não estava em Alagoas. A reportagem apurou que ele não está no Brasil. Segundo a defesa, Pablo “não tem qualquer contato com o Vinícius, desde a acareação realizada entre eles”, no início de 2022.
“Pablo não tem qualquer relação com os fatos investigados. Mencionar o Pablo em reportagem, nesse contexto, conforme já esclareci a você, é colocá-lo em sério risco, sem o menor fundamento”, diz o advogado.