Greve de estudantes da USP chega ao fim depois de seis semanas
Última unidade paralisada, EACH aprovou o fim da greve nesta quarta-feira (1º/11); volta às aulas deve acontecer na próxima semana
atualizado
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São Paulo – A greve de estudantes da Universidade de São Paulo (USP) chegou ao fim nesta quarta-feira (1º/11) depois de seis semanas de paralisação.
Os alunos da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), a última que ainda permanecia em greve, aprovaram o retorno às aulas em uma assembleia na véspera do feriado de Finados.
Os estudantes programaram um mutirão de limpeza nos prédios que estavam ocupados pelo movimento estudantil e devem voltar para a sala de aula na próxima quarta-feira (8/11).
Nos últimos dias, alunos dos cinco cursos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) também já tinham aprovado a saída da greve.
O curso de Letras, primeiro a anunciar o protesto, no dia 19 de setembro, votou pelo retorno às atividades acadêmicas em uma assembleia realizada no dia 27 de outubro.
Apesar do fim da paralisação, um grupo de alunos continua ocupando o prédio da administração central da universidade.
A ocupação não foi votada em assembleia e é um protesto independente de alguns estudantes contra um comunicado da Pró-Reitoria de Graduação que aponta a possibilidade de reprovação em massa dos grevistas.
O grupo reivindica a revogação da medida para deixar o prédio. Na semana passada, o Diretório Central dos Estudantes entrou na Justiça contra a USP por causa do comunicado.
Relembre a greve
A mobilização estudantil na USP começou no dia 21 de setembro com a reivindicação pela contratação de mais professores e a ampliação das bolsas de permanência.
Entre 2014 e 2022, o número de professores na universidade caiu de 6.090 para 5.151, segundo dados do Anuário da instituição. Com isso, alguns cursos enfrentavam dificuldades para oferecer disciplinas e os alunos precisavam postergar a formação.
Com o passar dos dias, a greve ganhou novas pautas, como a criação de um vestibular indígena, a abertura dos restaurantes universitários aos sábados e a garantia de reposição automática de professores em casos de aposentadoria ou morte.
A paralisação atingiu unidades que historicamente não participam de greves estudantis, como as faculdades de engenharia, medicina e direito, e avançou também para os campus da USP no interior.
A instalação de barreiras nas portas dos prédios para impedir as aulas foi criticada com alguns professores, que alegavam que o movimento tinha ares antidemocráticos. Outros docentes apoiaram a mobilização e também anunciaram pausa nas aulas.
A derrubada de grades na Escola de Comunicações e Artes (ECA) durante a greve também gerou polêmica com o deputado estadual Leonardo Siqueira (Novo), que solicitou ao secretário Vahan Agopyan (Ciência, Tecnologia e Inovação) a investigação dos estudantes por “atos de vandalismo” em meio à paralisação na instituição.
Com quase metade das faculdades e institutos em greve, a reitoria apresentou um documento com propostas aos alunos, como a contratação de mais 148 professores e o compromisso de oferecer café da manhã e almoço em todos os restaurantes universitários.
As promessas fizeram com que parte das unidades deixassem a paralisação, mas alguns cursos resistiam em permanecer até que pautas específicas de seus institutos fossem negociadas.
A ameaça de reprovação em massa de alguns alunos por falta foi um dos últimos capítulos da greve, que culminou com uma ação na Justiça por parte dos estudantes contra a instituição.
O reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, divulgou uma nota em que negou perseguição aos grevistas e terceirizou a responsabilidade sobre as reprovações para as unidades.
Depois do pronunciamento do reitor, diretores das faculdades divulgaram uma nota conjunta em que afirmam que tem se esforçado para “planejar o andamento das atividades, garantindo a qualidade acadêmica e respeitando a diversidade das disciplinas e cursos oferecidos em sua Unidade”.
O grupo termina a nota dizendo que seguirá atuando nas tratativas com os alunos para “assegurar a conclusão do semestre letivo da forma mais adequada”.