“Grande amigo”: a relação entre padre e ex-assessor de Bolsonaro preso
Segundo a PF, o padre José Eduardo participou de suposta articulação para manter Bolsonaro no poder em 2022 após derrota nas eleições
atualizado
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São Paulo – O padre José Eduardo de Oliveira e Silva, alvo da Polícia Federal em operação deflagrada nessa quinta-feira (8/2) contra suspeitos de participarem de uma suposta tentativa de golpe de Estado, já fez uma postagem chamando Filipe Martins, ex-assessor de Jair Bolsonaro (PL) preso pela PF, de “grande amigo”.
Segundo a PF, o padre José Eduardo participou de uma reunião no Palácio do Planalto, em 19 de novembro de 2022, junto de Filipe Martins e do advogado Amauri Feres Saad. O grupo, segundo as investigações, articulava uma forma de manter Bolsonaro no poder após a derrota nas eleições daquele ano.
Martins foi assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República e está entre os detidos pela PF nessa quinta. Saad também foi alvo da operação e é apontado pela investigação como o redator da minuta golpista.
Na decisão que autorizou a operação, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que o padre integrava o “núcleo jurídico” do grupo que supostamente articulava o golpe.
“Como apontado pela autoridade policial, ‘José Eduardo possui um site com seu nome no qual foi possível verificar diversos vínculos com pessoas e empresas já investigados em inquéritos correlacionados à produção e divulgação de notícias falsas’”, diz a decisão de Moraes.
José Eduardo negou, em rede social, ter colaborado com a suposta tentativa de golpe. No entanto, ele não negou que tenha se reunido com Bolsonaro e Martins em novembro de 2022.
As relações do padre
Antigos frequentadores da igreja São Domingos em Osasco, na Grande São Paulo, na qual José Eduardo é pároco, relataram ao Metrópoles que, em 2018, o padre se manifestou diversas vezes a favor a eleição de Bolsonaro à Presidência, inclusive durante suas homilias.
“Ele fazia missas com a bandeira [nacional] para limpar o Brasil do PT nas eleições de 2018”, disse à reportagem um dos ex-frequentadores da paróquia, que pediu para não ser identificado.
Em 4 de janeiro de 2019, dias após a posse de Bolsonaro, José Eduardo publicou uma foto ao lado de Martins (imagem em destaque) com a seguinte legenda: “Com o querido Filipe Martins, novo assessor político da Presidência da República e grande amigo”, escreveu no Facebook.
Na imagem, os dois aparecem portando credenciais da posse de Bolsonaro. O padre também possui fotos com outros bolsonaristas como o general Walter Braga Netto, outro alvo da PF na investigação sobre a suposta tentativa de golpe, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), então ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, e a deputada Bia Kicis (PL-DF).
No início da noite de quinta, horas após ter sido alvo de busca e apreensão da PF, as fotos com Filipe, Damares e outros bolsonaristas foram deletadas das redes sociais do padre. José Eduardo está proibido de manter contato com os demais investigados, de deixar o país, e teve apreendidos seu passaporte, seu celular e seu computador.
No Facebook do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, há um registro de uma reunião com o padre José Eduardo em Brasília, em maio de 2019.
O encontro, conforme relatado pelo deputado, visava “analisar estratégias pró-vida no Congresso e como barrar o ativismo judicial, que busca através do STF criminalizar a homofobia e botar em risco a liberdade de expressão e religiosa em nome do politicamente correto.”
Padre acusou STF de ativismo
Em 2018, o padre foi um dos representantes da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em audiência no STF para discutir se o aborto deveria ser descriminalizado. Contrário ao procedimento, José Eduardo acusou a Corte de “ativismo”.
“Esta audiência não se presta para o fim para o qual foi convocada. Presta-se apenas para o ativismo desta Corte”, disse ele na ocasião.
O padre foi condecorado por sua “aguerrida” defesa da família pelo prefeito paulistano Ricardo Nunes (MDB) quando este ainda era vereador.
Procurada pelo Metrópoles, a assessoria do padre disse que qualquer pedido relacionado a ele deveria ser “direcionado à assessoria de comunicação da Diocese de Osasco”.
Já a Diocese de Osasco afirmou ter recebido a notícia por meio das mídias sociais e declarou, em nota, que irá colaborar com as autoridades na elucidação do caso.
“Esclarecemos que, por não possuirmos nenhuma informação oficial das autoridades competentes, aguardaremos a conclusão do caso”, disse o texto.