Governo Tarcísio vê adesão menor à greve como vitória e lista motivos
Greve contra as privatizações do governo Tarcísio paralisou menos linhas de trens e metrô do que em protesto semelhante feito em outubro
atualizado
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São Paulo — O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) considerou uma vitória política a adesão menor à greve unificada de 24 horas deflagrada nessa terça-feira (28/11) por sindicatos de funcionários do Metrô, da CPTM e da Sabesp contra o plano de privatizações do governador.
Além de um apoio reduzido dos trabalhadores, a paralisação dessa terça-feira também afetou menos trechos e estações das linhas de trem e metrô da capital e da Grande São Paulo do que na greve realizada no dia 3 de outubro pelas mesmas entidades e pelo mesmo motivo.
Para o governo, o cenário mostra que a estratégia adotada para enfraquecer o movimento grevista foi eficaz. A principal delas foi a decisão de “individualizar condutas”, prometendo punição a todos os funcionários que não cumprissem a escala de trabalho previamente definida pelas empresas.
O governo se valeu de uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que reconheceu o direito dos servidores em fazer a greve, mas determinou percentuais mínimos de pessoal em serviço — 80% no caso de Metrô e Sabesp e 85% no caso da CPTM —, para elaborar a estratégia da individualização das punições.
No caso da CPTM, por exemplo, o presidente da companhia, Pedro Moro, disse que criou uma “lista randomizada” que escalou servidores cuja presença foi obrigatória. Ao todo, 15% dos funcionários foram excluídos dessa lista de forma aleatória, para cumprir o percentual determinado pela Justiça. “Não é que estavam dispensados, mas estes não seriam punidos”, disse Moro.
Durante a manhã, um balanço do próprio governo apontou que 70% dos ferroviários e 80% dos funcionários da Sabesp haviam comparecido ao trabalho. Tarcísio admitiu que seu “problema” era o Metrô, onde apenas 12% dos metroviários estavam trabalhando nas primeiras horas do dia. Ainda assim, a extensão da paralisação na rede foi menor do que há menos de dois meses.
A presidente do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa, disse que o governo conseguiu manter operação parcial nas linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha graças a um plano de contenção que incluiu mandar para as estações funcionários administrativos da companhia que trabalham como supervisores.
“Operar o Metrô com pessoas que não tem experiência, nem treinamento para operar o sistema, causa risco de acidentes”, disse Camila. A líder sindical admitiu que a ameaça de punições individuais teve impacto na greve e classificou a ação do governo como “assédio moral” contra os servidores.
Diálogo direto
Outro fator que teria enfraquecido o protesto contra as privatizações, na visão do Palácio dos Bandeirantes, foi a estratégia de driblar as lideranças sindicais e transmitir para as categorias a mensagem de que o governo está aberto a negociar com os trabalhadores das estatais que devem ser privatizadas reivindicações pontuais, como período de estabilidade no emprego.
Com esse diálogo aberto, o governo recusou as três propostas apresentadas pelos sindicatos para evitar a paralisação dessa terça: a suspensão do projeto de lei da privatização da Sabesp, que está em discussão na Assembleia Legislativa (Alesp); a realização de plebiscito oficial para que a população vote a favor ou contra as privatizações; e a liberação das catracas no dia do protesto.
Reação rápida e dura
O plano para enfrentar os grevistas envolveu ainda uma estratégia de comunicação com o objetivo de reagir de forma rápida e dura à paralisação nos transportes. Logo, Tarcísio postou nas redes sociais que a greve era “ilegal”, “abusiva”, “irresponsável” e “cruel”.
Depois, o governador concedeu uma coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes na qual disse que os grevistas eram uma minoria que não respeitava decisões judiciais e prejudicava a vida da população, que os sindicatos foram “capturados por partidos políticos” e que não iria recuar no plano de privatizações.
Tarcísio ainda concedeu uma série de entrevistas a emissoras de rádio e TV na qual subiu o tom contra os sindicatos e chegou a classificar os grevistas como “terroristas”. Para auxiliares, a reação mais enérgica fortaleceu a imagem do governador e minou a estratégia da oposição de tentar fustigá-lo politicamente com a greve.