Governo de SP usou vídeo do MBL em material didático de escolas
Em nota, secretaria diz que conteúdo foi removido da plataforma e que “apuração preliminar” foi aberta para responsabilizar envolvidos
atualizado
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São Paulo — A Secretaria Estadual da Educação utilizou um vídeo do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo político de direita, no material didático digital da rede estadual de ensino. O conteúdo foi incluído em um slide da aula de Língua Portuguesa para alunos do 2º ano do Ensino Médio.
O material convida os estudantes a assistirem ao vídeo para entenderem qual a função de um grêmio estudantil. No conteúdo produzido pelo MBL, uma jovem explica como se organizam os grêmios e defende que eles ajudam a democratizar o ambiente escolar.
O mesmo vídeo, no entanto, também menciona as atividades do MBL nos colégios. “Hoje o MBL Estudantil já está em mais de 3 mil escolas e nós já temos 8 grêmios estudantis que os nossos alunos já ganharam”, diz a apresentadora, que se identifica como Julia.
A jovem termina o vídeo chamando os alunos para criarem um grêmio e os convidando para explicar como tem sido a presença do MBL nos colégios.
“Na sua escola já existe um grêmio estudantil? Se não, bora criar um. Deixa aí nos comentários como que está sendo a inserção do MBL Estudantil no ambiente escolar”, diz Julia.
O MBL Estudantil foi criado em 2018 para se opor aos movimentos estudantis ligados à esquerda, como a União Nacional dos Estudantes.
A deputada estadual Professora Bebel (PT) acionou o Ministério Público e pediu que o órgão investigue o caso. Na representação, a parlamentar afirma que o MBL compõe a base do governo na Assembleia Legislativa e que o vídeo faz propaganda do movimento.
“É muito óbvio que o material pretensamente oficial propagandeia o MBL e ajuda a filiar jovens ao dito movimento, que longe de ser um inocente movimento juvenil, é sim instrumento poderoso de atuação política, que no momento, inclusive, influencia o destino político de nosso estado”, afirma a deputada ao MP.
Em nota, a Secretaria da Educação afirma que a aula foi retirada da plataforma do governo e teve seu conteúdo “completamente editado a fim de se adequar aos protocolos pedagógicos da rede”.
“Uma apuração preliminar foi instaurada para responsabilizar os envolvidos e um novo protocolo de revisão de aulas e demais conteúdos foi estabelecido”, diz o texto.
Material digital
Em 2023, o material digital produzido pela gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) e entregue aos professores das escolas foi alvo de uma série de críticas, após erros graves do conteúdo virem à tona.
Alguns slides afirmavam, por exemplo, que a cidade de São Paulo tinha praias, apontavam D. Pedro II como a pessoa responsável por assinar a Lei Áurea e diziam que doenças como Parkinson e Alzheimer poderiam ser transmitidas por meio da ingestão de água contaminada.
Na época, o governo afastou os servidores responsáveis pelos erros e exonerou o então coordenador pedagógico da Secretaria, Renato Dias.
O material didático digital foi uma das principais apostas da gestão do secretário Renato Feder para melhorar o ensino da rede estadual no primeiro ano à frente da pasta da Educação. Feder chegou, inclusive, a recusar os livros didáticos do governo federal e defendeu que o conteúdo oferecido aos alunos dos anos finais de Ensino Fundamental e Médio seria totalmente digital.
Depois das críticas de especialistas, o governo recuou e retomou a adesão ao Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD). Feder chegou a dizer que a recusa foi “um dos grandes erros da minha vida”.