Ambulante “desconstruidão”, Gordoboy conquista clientes nas ruas de SP
Anderson Ferreira Felipe, o Gordoboy, tem 38 anos, fatura R$ 5 mil por festa e até emprega outros seis ambulantes nas ruas de SP
atualizado
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São Paulo – Sem camisa, mas de avental e gravatinha borboleta. Esse é o uniforme de trabalho do Gordoboy, o vendedor de rua “desconstruidão” de São Paulo, que dança em cima do isopor, faz carinho na barba do cliente e fica “p… da vida” quando ouve falar de ambulante aplicando golpe da maquininha: “Não basta o produto ser bom, minha marca tem que ser referência de honestidade”.
Anderson Ferreira Felipe, o Gordoboy, tem 38 anos, se diz adepto do poliamor e encontrou seu nicho de mercado em rodas de samba e baladas do centro de São Paulo, reduto da chamada esquerda festiva.
“Aqui não entra transfobia, machismo, racismo, sexismo”, está escrito em uma das suas placas, com fundo de arco-íris, que destaca o carrinho dos demais ambulantes.
Alguma dúvida de que a estratégia politicamente engajada do Gordoboy pegou?
No comércio de rua desde 2013, Anderson viu o faturamento saltar de R$ 300 para R$ R$ 5 mil, nos dias bons, e hoje ele até emprega outros seis ambulantes para conseguir cobrir mais festas ao mesmo tempo. O ativismo, diz, é mais do que jogada de marketing.
“O Gordoboy é um personagem que carrega força, luta e quebra de estereótipo. Vem da desconstrução do gogo boy, aquela figura sarada que faz danças sexuais. Todos nós somos gostosos por essência!”
Empreendedor
Filho de uma diarista com um serralheiro, Anderson nasceu na região de Cangaíba, bairro da zona leste, na periferia da capital paulista. “Meus pais passaram a frequentar o mundo do teatro e do circo ainda na minha infância”, relata. “Então, eu cresci em um ambiente de muita diversidade.”
O primeiro emprego foi aos 15 anos, na agência de eventos dos pais, onde aprendeu a fazer maquiagem e escultura de balão. “Eles faziam festa infantil e resolveram levar eu e a minha irmã para ajudar na recreação. Nós quatro íamos de palhaço”, lembra o vendedor.
Antes de virar o Gordoboy, também foi Pikachu, Teletubies e até Papai Noel de mercado de bairro. Começou no ramo da bebida para pagar as últimas parcelas da graduação em Gestão de Eventos, em um ponto próximo à Universidade Presbiteriana Mackenzie, no centro de São Paulo, apinhado de estudantes à procura de cervejadas.
O Gordoboy, a marca, nasceu de uma fantasia de carnaval que – “num start”, diz Anderson – teve a ideia de transformar no seu diferencial em relação aos outros mais de 3 mil ambulantes na cidade.
Hoje, dificilmente alguém vai a uma festa no Bixiga, em Santa Cecília ou na Barra Funda, sem ver um dos seus carrinhos, cada um carregado com 200 quilos de bebida, encostado nas imediações. Anderson pode até não estar lá, mas a placa do Gordoboy tem que estar.
Rua
Anderson conta que mais de 30 colaboradores informais já trabalharam para ele, em troca de diária e percentual de venda. Com curso de cozinheiro, o Gordoboy também arrecada uns trocados em eventos exclusivos, é fornecedor de alimento de baladas famosas na cidade e arruma tempo para participar de projeto social.
“Ninguém é obrigado a se fantasiar, às vezes a pessoa fica com vergonha e eu respeito”, afirma. “Eu sou o Gordoboy, mas já tivemos a Dragboy, uma vendedora drag queen, o Blackboy, um vendedro negro, e o Rapperboy, que tinha alargador e tatuagem”.
Trabalhar nas ruas nem sempre é habitar um mundo colorido, o Gordoboy sabe. Além de ficar 100% ligado para não perder a mercadoria no “rapa”, como são mais conhecidas as fiscalizações contra comércio irregular, Anderson diz se preocupar com a alta de relatos de golpes aplicados por ambulantes em São Paulo.
“Minhas redes sociais são abertas, não vou arriscar minha marca”, afirma o vendedor de rua.
Para provar o ponto, mostra no celular uma mensagem encaminhada por uma amiga. Nela, a pessoa comenta o caso de uma jovem que teve o cartão clonado em uma das festinhas.
O texto diz assim: “Faz uns dois carnavais que eu só saio com dinheiro como faziam os incas :/ Eu só confio no Gordoboy”.