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Além do Girondino: 35% do comércio no centro velho de SP está fechado

Após fechamento do Café Girondino, Metrópoles percorreu ruas do centro velho de SP e encontrou dezenas de outras lojas fechadas

atualizado

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Imagem colorida mostra fachada do Café Girondino, no centro - Metrópoles
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São Paulo — Na última semana, o Café Girondino, o mais antigo da capital paulista, fechou suas portas na esquina das ruas São Bento e Bela Vista, no centro velho de São Paulo, por não conseguir se reerguer do tombo financeiro provocado pela pandemia.

Apesar da comoção causada entre os paulistanos, o fechamento do estabelecimento centenário foi só mais uma baixa entre tantas outras no comércio do chamado “Triângulo Histórico” da cidade, região marcada pelo abandono mesmo diante de uma série de ações da Prefeitura para tentar recuperá-la.

O Metrópoles percorreu nessa segunda-feira (10/6) as ruas da região onde São Paulo nasceu, formada por um calçadão com 16 vias a partir das ruas Direita, São Bento e XV de Novembro. Nesse perímetro, a reportagem contabilizou 130 lojas de rua fechadas, a maioria com placas de “aluga-se” na porta. Isso equivale a 35% dos 374 pontos de comércio na região, que tem atualmente 244 lojas abertas.

O “Triângulo Histórico” é uma área de 190 mil metros quadrados no coração da cidade, colado no Pátio do Colégio e de pontos turísticos como a Bolsa de Valores (B3), o Farol Santander — prédio do antigo Banespa —, o Largo São Bento e a Catedral da Sé.

Também fica colado em endereços de grande circulação de pessoas, como a Rua 25 de Março, famosa pelo comércio popular, o Vale do Anhangabaú, o Theatro Municipal, o Viaduto do Chá e a Prefeitura, lugar considerado como de enorme potencial turístico.

Entretanto, as centenas de famílias vivendo nas ruas do entorno e a sensação de insegurança provocada por assaltos afastam parte do público de lá, segundo os comerciantes.

Pandemia

O comércio de rua do centro, que já sofria com a falta de clientes por causa da violência, sujeira e miséria, com centenas de moradores de rua, sofreu um golpe maior com a pandemia de Covid-19, entre 2020 e 2021, da qual ainda não se recuperou completamente.

O fechamento do Girondino é um exemplo. Segundo o empresário Felippe Nunes, um dos sócios do estabelecimento, a casa segurou suas contas para sobreviver ao período da pandemia, mas não recuperou seu faturamento para cobrir os custos e continuar aberto.

“Em uma casa, se você precisa de R$ 10 por mês, mas recebe R$ 6, não vai conseguir se manter. A longo prazo, fica insustentável”, diz.

Nunes afirma que vinha observado melhorias na situação do centro, com mais segurança, melhor limpeza das ruas e até mais clientes aos fins de semana. Mas o movimento não foi suficiente para manter a operação do café. “Ficamos surpresos e muito felizes com toda a repercussão que o fechamento vem tendo e até recebemos algumas sondagens [para reabrir]. Mas apenas conversas até agora”, conta o empresário.

Investimentos no centro

A reversão da tendência de abandono da região central é o foco de uma série de anúncios de obras e de políticas públicas feitas pela Prefeitura nos últimos anos.

Desde a gestão do ex-prefeito petista e atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (2013-2016), a administração pública vinha estudando uma reforma do calçadão, que tem um piso de calçada portuguesa, para instalação de um calçamento de concreto, ao custo de R$ 63 milhões. As obras tiveram início em dezembro de 2022, mas nenhum dos 23 endereços que passarão pela melhoria está pronto até o momento.

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Moradores de rua na marquise do Largo do Patriarca
Rua Direita, próximo da Prefeitura
Restaurante fechado o Largo do Café
Rua Barão de Paranapiacaba, famosa pelo comércio de ouro e joias
Trecho em obras, sem operários, no calçadão
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Rua São Bento, com lojas fechadas

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Moradores de rua na marquise do Largo do Patriarca

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Rua Direita, próximo da Prefeitura

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Restaurante fechado o Largo do Café

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Rua Barão de Paranapiacaba, famosa pelo comércio de ouro e joias

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Trecho em obras, sem operários, no calçadão

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Operários dão acabamento em novo piso da Rua da Quitanda

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O novo Virô, no lugar da antiga Casa Mathilde

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Além disso, a Prefeitura aprovou uma legislação específica para reduzir de 5% para 2% a alíquota de Imposto Sobre Serviço (ISS) cobrada na região e criou um programa em que se compromete a doar, a fundo perdido, até 25% do valor de obras particulares.

Mesmo assim, uma pesquisa feita com empreendedores do centro, em abril, pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), mostrou que 31% dos comerciantes da área afirmam acreditar que tais políticas públicas não têm sido eficazes e 20% afirmaram que faltam incentivos fiscais.

A mesma pesquisa, entretanto, indicou que 72% dos empresários sentem que o comércio no centro está melhorando, em especial por  causa do aumento do policiamento na área.

A Guarda Civil Metropolitana (GCM) mantém 2.400 agentes na região central, em apoio ao trabalho de 400 policiais militares deslocados para a área, em uma parceria entre as gestões do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que apoia a reeleição do emedebista.

Culpa da imprensa e do Ministério Público

O presidente da ACSP, Roberto Mateus Ordine, afirma que, durante a pandemia, metade do comércio do centro velho chegou a fechar as portas em algum momento. Por isso, o dado levantado pelo Metrópoles, de 35% do comércio, indica que o cenário era ainda pior.

Para ele, um dos problemas para os comerciantes da região é que “parte da imprensa não acompanha a vida do centro” e, por isso, generalizaram situações negativas. “Se tem um problema lá na Cracolândia, a imprensa dá a notícia generalizando como se fosse no centro”, afirma.

Segundo Ordine, a quantidade de moradores de rua na região hoje é “remanescente” e “há uma dificuldade muito grande porque a Assistência Social não consegue autorização do Ministério Público para que eles possam ajudar ou intervir” sem o consentimento do morador. “Nem encostar neles pode”, reclama. Ele ressaltou que há uma série de programas de auxílio e formação profissional para a população de rua.

Novos espaços

Além do Café Girondino, uma série de comércios icônicos do centro, com décadas de funcionamento, também já fecharam as portas nos últimos anos. Mas alguns desses estabelecimentos conseguiram reabrir, ensaiando um futuro melhor para a região.

É o caso do Virô, uma casa especializada em churrasco e feijoada, com música ao vivo à noite, que se instalou no lugar da Casa Mathilde, um café de culinária portuguesa instalado ao lado da Bolsa de Valores.

“Muitos empresários estão segurando os investimentos para ver se a situação do centro melhora”, diz Eduardo de Simoni Júnior, administrador do empreendimento.

O que diz a Prefeitura

Por meio de nota, a gestão do prefeito Ricardo Nunes afirma ter implementado ações para requalificar e desenvolver o centro velho. “Pela primeira vez, a capital paulista tem um plano urbanístico para a região, com um pacote relevante de incentivos para atrair novos moradores e proporcionar um ambiente vantajoso para investimentos”, diz.

A nota cita a Área de Intervenção Urbana setor Central e o Requalifica Centro, programa que financia retrofits de prédios já existentes. “Até o momento, foram aprovados 14 projetos de retrofit para a região central”, diz a administração municipal.

“Como resultado das políticas públicas desenvolvidas, desde 2021 foram aprovados 184 alvarás para obras de novos comércios no Centro de São Paulo, e, entre 2021 e 2023, 5.828 empresas se transferiram para a área da Subprefeitura Sé.”

A nota diz ainda que a Prefeitura tem investido na manutenção do efetivo da GCM da região e que “conta com cerca de 3 mil câmeras na região central” para melhorar a segurança.

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