Furto de armas: Exército nega laudo e cabo suspeito volta ao trabalho
Médico do Exército rejeitou atestado médico apresentado por militar suspeito de envolvimento no furto de 21 metralhadoras de quartel em SP
atualizado
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São Paulo — O cabo do Exército Vagner da Silva Tandu, de 23 anos (na foto em destaque, à esquerda), suspeito de participação direta no furto de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri, na região metropolitana, voltou ao trabalho nesta segunda-feira (30/10), após ter seu laudo psiquiátrico rejeitado por um médico militar.
Na sexta-feira (27/10), Vagner tinha ido ao Arsenal de Guerra, acompanhado de sua advogada, para apresentar um laudo psiquiátrico que recomendava seu afastamento por uma semana. Como é praxe na corporação, o cabo voltou ao quartel na manhã desta segunda-feira para passar por uma espécie de perícia com um médico do Exército.
Segundo fontes ouvidas pelo Metrópoles, durante a avaliação médica, o profissional considerou que Vagner está apto ao trabalho e rejeitou a validade do laudo psiquiátrico. Desta forma, o militar foi obrigado a cumprir sua jornada de trabalho normal. Nesta terça-feira (31/10), ele também é esperado no quartel.
Homem de confiança
Até se tornar suspeito no escândalo das armas, Vagner era homem de confiança do então diretor do Arsenal, o tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, razão pela qual foi escolhido para ser seu motorista.
De acordo com as investigações do Exército, Vagner teria se aproveitado dessa condição para usar um carro oficial, possivelmente entre os dias 5 e 8 de setembro, para retirar o armamento de guerra do Arsenal sem levantar suspeitas. Ele teria levado as metralhadoras para fora do quartel para que elas fossem negociadas com facções criminosas em São Paulo e no Rio de Janeiro.
No dia do crime, outros cinco militares ajudaram Vagner diretamente. As investigações indicam que eles realizaram o corte intencional de energia do quartel, o que impediu as câmeras de segurança de registrarem a ação.
Pedido de prisão
O Comando do Sudeste pediu, na última quinta-feira (26/10), a prisão preventiva do cabo e dos outro cinco militares. O Metrópoles apurou que, na véspera, ele teria esvaziado seus armários no quartel. Na quinta, ele faltou ao trabalho e, na sexta, apresentou o laudo psiquiátrico.
Como a Justiça Militar ainda não se manifestou sobre o pedido de prisão, o cabo não é considerado foragido — até porque trabalhou normalmente nesta segunda-feira. Segundo fontes do Exército, a advogada de Vagner tem mantido contato direto com o Ministério Público Militar para tratar da situação de seu cliente.
O Metrópoles não conseguiu localizar a defesa do cabo do Exército. O espaço está aberto para manifestações.
Além do pedido de prisão dos seis homens, o Exército aplicou “punição disciplinar” a outros 17 militares por falha de conduta na fiscalização do armamento. A punição consiste em uma espécie de prisão administrativa no quartel, que pode durar de 1 a 20 dias.
O então diretor do Arsenal, tenente-coronel Rivelino Batista, não é formalmente investigado, mas foi exonerado do cargo. Ele foi substituído pelo coronel Mário Victor Vargas Junior.
O furto do armamento
O furto das 13 metralhadoras calibre .50, que podem derrubar aeronaves, e de oito calibre 7,62, que perfuram veículos blindados, só foi descoberto pelo Exército mais de um mês depois do crime, no último dia 10, durante inspeção no quartel. Reportagem do Metrópoles levou o caso a público três dias depois.
Até o momento, 17 metralhadoras foram recuperadas – oito no Rio de Janeiro e nove em São Roque, no interior de São Paulo (foto em destaque). As polícias Civil e Militar ainda buscam as quatro armas restantes.
Assim que o crime foi descoberto, todo o quartel – cerca de 480 militares – acabou retido para que o Exército ouvisse depoimentos e reduzisse a quantidade de suspeitos envolvidos no episódio. O aquartelamento teve fim na última terça-feira (24/10).
Segundo a Polícia Civil, as armas furtadas seriam vendidas para as facções Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e Comando Vermelho (CV), do Rio, que recusaram o armamento por falta de peças e por causa do estado de conservação das metralhadoras.