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Fraude em empréstimos: prints de zap indicam uso de empresa fantasma

Mensagens de WhatsApp indicam que suspeitos tentaram montar “cena de novela” em fraude contra a Desenvolve SP, mostra investigação policial

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Divulgação/Governo de SP
Foto colorida da fachada do Banco Desenvolve SP, do governo de São Paulo
1 de 1 Foto colorida da fachada do Banco Desenvolve SP, do governo de São Paulo - Foto: Divulgação/Governo de SP

São Paulo — “Imprime uns negócios de terraplanagem, paisagismo, orçamento. Só para deixar em cima das mesas lá”, diz uma mensagem de WhatsApp. “Vou imprimir”, outra pessoa responde.

O assunto da conversa é a encenação de um escritório de uma empresa fantasma que seria visitada por funcionários da Desenvolve SP, segundo investigação da Polícia Civil.

O conjunto de mensagens consta do inquérito que investiga empréstimos fraudulentos no banco de fomento do governo de São Paulo. Conforme o Metrópoles revelou, uma auditoria constatou R$ 74 milhões em empréstimos suspeitos.

A Desenvolve SP tem como objetivo financiar negócios, a juros baixos, com a intenção de desenvolver a economia paulista, gerando emprego e renda — atuação parecida com a do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do governo federal.

Segundo a investigação, as fraudes ocorreram entre os anos de 2021 e 2022, nos governos de João Doria e Rodrigo Garcia, que eram do PSDB e antecederam o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O modus operandi do grupo envolvia empresas que só pagavam as primeiras parcelas do financiamento. Quando o banco entrava com ações para tentar reaver os valores, não localizava as empresas, sócios ou os bens dos envolvidos.

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Encenação

As conversas em posse da Polícia Civil indicam que os dois suspeitos no caso combinaram onde colocar móveis, de imprimir um banner da empresa e de mandar uma pessoa para receber os funcionários do banco.

“Nas conversas, inclusive, os investigados confabulam sobre quais tipos de documentos deveriam ser colocados na sala, a fim de dar uma aparência de ‘regularidade e licitude’ à RWX, bem como buscas na internet sobre imagens para criação de um perfil falso nas redes sociais”, afirma a polícia, na investigação.

A RWX Paisagismo é uma das empresas que, para a polícia, eram apenas fachada para recebimentos de empréstimos. Ela estava no nome de um suposto laranja chamado Raywander Botelho, segundo a investigação.

De acordo com a apuração policial, os prints viriam do celular de Augusto Carneiro, que morreu em um acidente de trânsito, em uma conversa atribuída a ele e a uma mulher chamada Katya Bueno. A mulher seria responsável pela Toro Câmbio e Soluções Financeiras, segundo a polícia, uma das empresas suspeitas no esquema.

Em certo momento, um dos interlocutores pergunta: “a placa de acrílico ficou pronta?”. Depois, cogita-se apenas imprimir só em preto RWX paisagismo, cuja a imagem foi mandada na conversa.

O diálogo também traz uma discussão sobre onde os móveis serão colocados. “Não tem uma mesa de trabalho?”

“Vamos ver se o cara vem amanhã”, diz uma das pessoas. “Minha funcionária conseguiu um amigo pra ir lá abrir a empresa as 11, mas não vai ter ninguém lá, pode ser?”.

“Cenário de novela”

A provável encenação, porém, não convenceu um funcionário da Desenvolve SP que foi ao local, segundo depoimento dele dado à Polícia Civil.

A visita ocorreu em maio de 2022 à suposta sala da RWX Paisagismo, onde uma recepcionista afirmou desconhecer a empresa. Depois disso, dois rapazes chegaram se dizendo funcionários.

“Apenas um dos rapazes, que se identificou como Matheus, nos acompanhou até a sala 1313, a qual foi aberta, contudo não possuía vestígios de trabalho, já que estava tudo tão arrumado que não parecia ser utilizada; não havia funcionários trabalhando no local”, diz o depoimento.

Os funcionários da Desenvolve SP teriam perguntado sobre o sócio Raywander, recebendo a resposta de que ele estaria internado com Covid. Os homens também não responderam sobre informações financeiras da empresa.

Desconfiados, os funcionários do banco foram até a administração do shopping, onde também ninguém conhecia a empresa. “Esclareço que na visita ficou a impressão que era uma empresa de fachada, um ‘cenário de novela’”, afirmou.

Empréstimos suspeitos

Metrópoles obteve dados inéditos de investigação sigilosa relacionada ao caso, que detectou ao menos 178 operações de créditos suspeitas.

A apuração inicial dos auditores da Desenvolve SP, por sua vez, analisou 340 operações de crédito, classificando as suspeitas de fraude em três níveis: provável (82 casos), possível (96) e remoto (162). Quase R$ 43 milhões foram registrados como prováveis, enquanto R$ 31 milhões foram classificadas como possíveis, e R$ 40 milhões restantes apareceram com remota chance de fraude.

O conselheiro Dimas Ramalho, do Tribunal de Contas de São Paulo (TCE), cobrou informações sobre o assunto por parte da Desenvolve SP, após a reportagem revelar dados da auditoria.

A investigação policial que corre em Campinas centra o foco em empresas suspeitas de fraudes, sócios e laranjas. Cinco companhias figuravam como alvos iniciais, além de seus sócios e pessoas apontadas como testas de ferro no esquema.

A polícia avalia que pode haver ligação entre elas, devido a coincidência entre escritórios de contabilidade e de advocacia, valores de capital social iguais, registros apenas na Junta Comercial de Osasco, na Grande São Paulo, independentemente do endereço da empresa, e também a dificuldade de se localizar os sócios e as sedes.

O que diz a Desenvolve SP

A Desenvolve SP não deu informações sobre o caso alegando se tratar de um procedimento sigiloso. O banco afirmou que “os casos relacionados à suspeita de fraude estão sendo investigados pela Polícia Civil, que é a autoridade competente para identificar os responsáveis e delimitar a extensão dos danos causados à Desenvolve SP”.

“Já com relação à auditoria, informamos que os relatórios são confidenciais e protegidos por sigilo estratégico”, afirmou o órgão, acrescentando que “é uma instituição financeira, sujeita às normas do Banco Central do Brasil, e que preza pelo dever de sigilo bancário, pela proteção de dados pessoais e que cumpre todos os requisitos previstos na legislação”.

A reportagem não localizou Katya Nader, relacionada à empresa Toro, e Raywander Botelho, da WRX. O espaço está aberto a manifestações.

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