Filhos de idosa agredida por PM em SP dizem também terem sido espancados
Após mulher de 70 anos levar soco no rosto de um PM, dois filhos da vítima alegam que foram feridos e ameaçados pelo policial e seu parceiro
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Os dois filhos de uma idosa de 70 anos agredida por um policial militar com um soco no rosto no interior de São Paulo afirmaram ao Metrópoles que também foram espancados e ameaçados de morte pelos dois policiais envolvidos na ocorrência. Segundo o relato dos dois irmãos, a agressão aconteceu a caminho do pronto-socorro de Igaratá.
Após agressões com socos e golpes de cassetete, os irmãos Luciano Aparecido dos Santos, 48 anos, e Benedito Diogo dos Santos Rodrigues de Oliveira, 40, dizem que os policiais militares fizeram ameaças de morte caso denunciassem a violência sofrida.
O caso aconteceu nessa terça-feira (30/5). Os PMs tinham sido acionados pela aposentada Vilma dos Santos Rodrigues de Oliveira, de 70 anos, para ajudar a solucionar uma divergência entre vizinhos, por causa da demarcação entre áreas rurais.
“Pensei que a PM iria ajudar a acalmar os ânimos, mas os policiais chegaram chegando, com ignorância. Um dos meus filhos pediu para eles falarem baixo, aí um dos PMs deu um empurrão [em Benedito], que caiu e segurou na farda, derrubando o policial junto”, afirmou a idosa ao Metrópoles nesta quarta-feira (31/5).
Quando Benedito caiu com um dos PMs, teria desmaiado momentaneamente. Ele foi algemado em seguida, enquanto seu irmão brigava com outro policial. Uma testemunha começou a gravar o tumulto a partir desse momento (veja abaixo).
As imagens mostram o soldado Kleber Freitas da Silva dando um soco em Luciano, já rendido e deitado no chão. Nesse momento, Benedito recobra os sentidos e se senta no chão.
Em seguida, a idosa se aproxima e dá um tapa no policial, que agride Luciano. O PM soca o rosto dela com força e a derruba no chão.
“Eu pedi para ele largar meu menino, porque tinha acabado de algemar ele (sic). Não é fácil uma mãe ver o filho apanhando. Aí ele [soldado Kleber] me empurrou e deu um soco no meu rosto, eu caí. Depois colocaram meus filhos na viatura”, relatou.
No vídeo feito pela testemunha, Benedito não está ferido. Mas ele chegou ao pronto-socorro da cidade com o lado direito da face inchado e com hematomas.
O soldado Kleber e seu parceiro, o também soldado Thiago Alves de Souza, foram afastados das ruas, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo. A família de Vilma diz que os dois agrediram os irmãos Benedito e Luciano.
Em nota, a SSP informou que a conduta dos dois policiais “não se adequa aos protocolos operacionais da Polícia Militar (PM), razão pela qual ambos foram afastados das atividades operacionais”. Ainda de acordo com a nota, eles serão avaliados pelo Núcleo de Atendimento Psicossocial da PM e terão suas condutas apuradas por meio de Inquérito Policial Militar (IPM). “Todas as circunstâncias relativas à ocorrência serão rigorosamente apuradas”, finaliza a nota.
Violência e ameaças
Benedito afirmou ao Metrópoles que os PMs pararam a viatura em um ponto sem câmeras de monitoramento, cerca de cinco minutos após saírem do sítio onde houve a confusão. Os soldados abriram a porta traseira da viatura, onde os irmãos estavam.
“Eles começaram a dar socos e, depois, pegaram um cassetete, que chegou a quebrar de tanto bater na cabeça da gente”, relembra Benedito, que estava algemado com as mãos para trás.
Para se proteger, ele encostou o lado esquerdo do rosto no vidro da viatura, sendo ferido somente do lado direito.
Luciano, que estava algemado com as mãos para a frente, tentou proteger o irmão. “Quando começaram a bater com o cassetete, me protegi colocando a mão na frente, tentei alcançar o rosto do meu irmão, mas não consegui.” Os dedos da mão direita dele foram quebrados por causa dos golpes de cassetete.
Ambos estimam que as agressões duraram entre cinco e dez minutos. “O tempo nesse momento é uma eternidade”, afirmou Benedito. Eles pretendem pedir à Corregedoria da PM que analise o histórico do GPS da viatura para que seja confirmado o tempo exato em que o veículo ficou parado.
Após as agressões, os policiais teriam ameaçado matar os irmãos e seus familiares caso denunciassem a violência, tanto no hospital como à Polícia Civil.
“Ficaram falando que se a gente falasse alguma coisa eles iriam cumprir a ameaça e que nossa família inteira iria morrer”, afirmou Benedito.
Os irmãos ressaltaram que, como a cidade de Igaratá é pequena, com pouco menos de 10 mil habitantes, as pessoas têm medo de denunciar. Mas eles não pretendem ficar em silêncio. “Vamos na Corregedoria, vamos fazer a Justiça ser feita”, disse Benedito.
Relato dos PMs
O soldado Kleber e seu parceiro, o soldado Thiago Alves de Souza, afirmaram em depoimento à Polícia Civil terem sido acionados para atender um caso de desentendimento familiar por causa da demarcação entre propriedades rurais.
“Os familiares já estavam exaltados e dois irmãos acabaram atentando contra a integridade física dos policiais militares, que conseguiram algemar um deles”, diz trecho do relato.
Após ferir a idosa com um soco no rosto, é possível ouvir o soldado argumentar ter sido “agredido primeiro” pela aposentada.
Dennis Pacheco, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), afirmou que a prática de agredir e até matar pessoas envolvidas em ocorrências, enquanto eram levadas para hospitais, “era recorrente” por parte de alguns policiais.
“Isso fez com que o governo de São Paulo proibisse o socorro de policiais a eventuais vítimas, em 2013. Justamente, teve-se o entendimento de que era fatídica e recorrente essa prática.”