Fenômeno Barbie: por que filme influenciou “onda rosa” no país
Filme da Barbie faz rosa virar tendência e influencia até propaganda política; antropólogo explica fenômeno que tomou conta do país
atualizado
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São Paulo — A confeiteira Ana Carolina Lisboa, de 28 anos, sempre gostou de rosa. A cor é predominante no seu guarda-roupa e até o bolo do último aniversário foi rosa.
O comentário de uma criança há alguns dias fez com que ela percebesse que sua cor favorita tinha virado moda. Ou melhor, trend, termo em inglês para tendência, nas redes sociais.
“Uma criança me viu de longe e gritou para amiguinha: ‘Ela tem a capinha [de celular] do TikTok’”, diz Ana. A proteção, conta ela, imita um celular da Barbie.
Desde que o filme Barbie, protagonizado por Margot Robbie e Ryan Gosling, estreou nos cinemas na última quinta-feira (20/7), o rosa entrou para a paisagem dos brasileiros e a boneca foi parar até em propaganda política.
A página do Instagram do governo de São Paulo publicou um vídeo em que mostra as principais obras da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao lado de imagens da boneca.
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Também nesta semana, a esposa do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), Lu Alckmin, publicou uma foto vestida de rosa e recebeu elogios da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, sua aliada, e da ex-deputada Janaína Paschoal, adversária.
O antropólogo Michel Alcoforado explica que os elogios vindos de grupos políticos distintos ajudam a entender o “fenômeno Barbie”.
Segundo o pesquisador, o filme é mais um exemplo da relação das pessoas com as trends do momento. No mundo das redes sociais, quem quer mostrar que está por dentro dos últimos acontecimentos adere às tendências sem que seja necessário dar um significado a isso, avalia ele.
Em outras palavras, diz Michel, “a gente está andando de rosa só para dizer que sabe que o filme da Barbie está aí”.
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“É uma conexão pautada em ‘eu sei o que está acontecendo e eu também estou nessa’”, diz Alcoforado. Por isso, afirma, tanto Janja quanto Janaína conseguiram elogiar Lu Alckmin.
A carioca Fernanda Castro, 50 anos, vestiu uma calça rosa para passear nessa sexta-feira (21/7) por São Paulo.
“É por causa da trend da Barbie. Mas eu vou assistir só terça-feira”, diz a turista, que hoje vive em Orlando, nos Estados Unidos.
Colecionadora de bonecas da Barbie na infância, a estilista Laís Mader, 28 anos, assistiu ao filme na estreia usando um casaco de tricô rosa claro. Ela constata que a moda mostra que o marketing do produto audiovisual teve efeito m. “Traz essa sensação de pertencimento”, afirma Laís.
A estilista diz ainda que as marcas estão se aproveitando da estreia do filme para aumentar as vendas. “Está todo mundo procurando peças rosas”.
Diversidade
Alcoforado explica que a boneca passou anos associada a um padrão de corpo específico e perdeu relevância quando as pautas identitárias foram ganhando força na sociedade nos últimos anos.
“Ninguém queria mais comprar Barbie porque acreditava que aquele padrão de beleza era opressor. Acho que o filme vai gerar essa atualização”, diz Alcoforado.
Para o fundador do grupo Consumoteca, que estuda os movimentos culturais, o filme reflete discussões da atualidade e quer recolocar a boneca entre os brinquedos favoritos das crianças.
Entre os fãs, o discurso de diversidade dentro do filme é lido como fundamental. Vestida e maquiada de rosa, Debora dos Santos, 24 anos, conta que era impedida pela mãe de usar a cor quando era criança.
“A minha mãe me proibia porque eu sou uma mulher trans. E hoje estar aqui vestindo rosa, podendo ser quem eu sou, e assistir a esse filme maravilhoso é muito gratificante”.
Ela e outras sete mulheres trans foram ao cinema nessa sexta (21/7), em uma ação da ONG SP Invisível.