Feito após 12 dias, laudo não detectou pólvora em acusado de matar PM
Exame residuográfico foi feito em acusado de assassinar PM da Rota no Guarujá; chamado de “sniper do tráfico”, ele nega ter atirado
atualizado
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São Paulo — A perícia que analisou os resíduos nas mãos de Erickson David da Silva, preso sob suspeita de ser o autor do disparo que matou o soldado Patrick Bastos Reis, das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), no Guarujá, litoral paulista, foi realizada somente 12 dias após o crime, ocorrido no fim de julho, e deu negativo para a presença de pólvora.
Os exames residuográficos, segundo especialistas, precisam ser realizados poucas horas após ocorrências em que há troca de tiros para identificar quem efetuou disparos. O policial militar foi assassinado no dia 27 de julho, quando fazia patrulhamento em uma comunidade do Guarujá. Assinado pelo perito Egas Campos de Oliveira Júnior, o laudo de Erickson, chamado de “sniper do tráfico”, só foi elaborado em 8 de agosto.
Segundo laudo da Superintendência da Polícia Técnico-Científica, obtido pelo Metrópoles, o resultado para resíduos de pólvora nas mãos do suspeito foi negativo “para todas as amostras”. O próprio documento ressalta que o resultado “não é conclusivo” porque “depende de inúmeros fatores”, como “colheita adequada do material”, “tipo de munição utilizado” e “lapso temporal entre o fato e a coleta para o exame.”
“Em suma, não há condições de se estabelecer quais fatores poderiam interferir ou induzir no resultado obtido”, diz trecho do documento policial.
Versão do suspeito
No início do mês, Erickson David da Silva, o Deivinho, afirmou à polícia que o tiro teria sido disparado por seu comparsa Marco Antônio, identificado como Mazzaropi. Os dois estão presos, assim como o irmão de Deivinho, Kauã Jazon da Silva, que se entregou à polícia na madrugada de 2 de agosto.
De acordo com as investigações, no momento em que Patrick foi alvejado, Deivinho estava em um lugar elevado vigiando um ponto de venda de drogas na Vila Júlia, periferia do Guarujá, enquanto Mazzaropi entregava os entorpecentes aos usuários. Kauã seria o responsável por informar sobre a movimentação das viaturas.
“Erickson, no interrogatório, negou que tivesse feito os disparos e atribuiu ao Mazzaropi. Inclusive, ele mencionou o que estava fazendo no dia. Nós estamos mantendo isso em sigilo. O que importa é que sabemos que os três estavam lá no momento dos disparos”, afirmou o delegado.
Ainda de acordo com Sucupira, Deivinho disse à polícia que Mazzaropi teria mentido por causa de uma suposta desavença com a esposa dele. O delegado não deu detalhes sobre o que seria essa desavença. A mulher de Deivinho foi ouvida, mas as versões não bateram, de acordo com Sucupira.
Procurada pelo Metrópoles, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) não comentou a respeito do atraso de 12 dias para a realização do laudo residuográfico no suspeito, assim como sobre o resultado negativo para pólvora no documento.
A pasta afirmou somente, por meio de nota, que as circunstâncias da morte do PM da Rota “são investigadas minuciosamente” pela Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Santos, com assessoramento do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), e pela Polícia Militar.
1ª morte da Rota
O soldado Patrick Bastos Reis, de 30 anos, foi o primeiro policial das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), a tropa de elite da Polícia Militar de São Paulo, a ser assassinado em serviço desde novembro de 1999. O crime desencadeou a Operação Escudo, que deixou, até o momento, 24 mortos em ações policiais.
Ao longo dos mais de 23 anos, houve mortes de policiais da Rota em serviço, mas não por assassinato, como ocorreu com o soldado Reis, atingido no tórax por uma bala calibre 9 milímetros durante uma patrulha.