São Paulo – A fazenda apontada pela Secretaria Municipal de Saúde de Campinas como “provável local de infecção” das três pessoas que morreram de febre maculosa é cercada por áreas de mata e, segundo frequentadores, oferece difícil acesso em dias de evento de maior público.
As três vítimas estiveram na Feijoada do Seo Rosa, em 27 de maio, na Fazenda Santa Margarida, localizada na área rural de Campinas.
Nesta terça-feira (13/6), o Instituto Adolfo Lutz confirmou a morte por febre maculosa da dentista Mariana Giordano, do namorado dela, o piloto Douglas Costa, e de uma mulher de Hortolândia. Os três morreram na última quinta-feira (8), dias depois de participarem do evento.
Um dos responsáveis pela divulgação da festa disse ao Metrópoles que “muitas pessoas tiveram de passar pelo meio do mato para cortar caminho até o evento”. “Mas a festa não tem nada a ver com a doença”, pontuou o homem que preferiu não se identificar.
Tatiane Reis, que esteve no evento, contou à reportagem que entre o estacionamento e o espaço da festa era necessário caminhar cerca de cinco minutos por uma grama baixa. Segundo ela, entretanto, outras pessoas que chegaram mais tarde tiveram problemas porque alguns motoristas de Uber demoravam para acessar o estacionamento.
Quem decidiu descer antes que o carro chegasse ao estacionamento, afirmou, teve de fazer um percurso maior a pé, passando por áreas com maior concentração de vegetação.
“Fui de Uber. Eu desci na parte do estacionamento. Quem chegou mais tarde estava tendo dificuldade e ficaram mais para trás”, relata. Apesar dos problemas de acesso, Tatiane elogiou a estrutura da festa e disse que “estava tudo muito limpo”.
O preço do convite para a festa ultrapassou os R$ 1 mil nos últimos lotes. O ingresso dava direito a feijoada à vontade e um open bar com bebidas como Johnny Walker, Tanqueray e Ketel One. O evento contou com shows dos DJs de música eletrônica Bruno Be e Pontifex.
A organização da Feijoada do Rosa, em nota, se solidarizou com as famílias e amigos das vítimas. Disse que está à disposição das autoridades. Destacou que é um evento tradicional em Campinas, em sua 22ª edição, sendo as dez últimas realizadas na Fazenda Santa Margarida.
De acordo com a organização, o evento reuniu 3.500 pessoas.
Fazenda se manifesta
Em nota, a Fazenda Santa Margarida informou que lamenta as mortes e disse que “a responsabilidade pelo controle e prevenção da febre maculosa é atribuída ao município, conforme estabelecido pela legislação pertinente”.
No texto, destaca que “agiu e age de acordo com todas as normas e exigências legais relacionadas à vigilância sanitária, bem como mantém um rigoroso processo de manutenção e cuidados em relação ao espaço e sua conservação”.
Informa ainda que nunca registrou “caso semelhante” e que está à disposição das autoridades.
Sinalização
De acordo com a Secretaria de Saúde de Campinas, os responsáveis pela fazenda foram notificados sobre a importância da sinalização quanto ao risco da febre maculosa.
“Essa informação é imprescindível para que a pessoa adote comportamentos seguros ao frequentar estes espaços e também para que, após frequentar, se apresentar sinais e sintomas, informe o médico e facilite o diagnóstico”.
Nos próximos dias, técnicos do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) farão uma pesquisa para verificar como está a infestação de carrapatos (pesquisa acarológica) na Fazenda Santa Margarida.
Febre maculosa
A febre maculosa tem cura, mas o tratamento precisa ser iniciado precocemente com antibióticos adequados.
A diretora do Devisa, Andrea von Zuben, informa que o principal sintoma da doença é a febre alta que pode ser confundida com outras enfermidades. “Por isso, é importante que o médico sempre pergunte, ou que o paciente relate que esteve em área de vegetação com presença de carrapato ou capivara. Com esse histórico, o tratamento deve ser iniciado imediatamente”, reforça.
Campinas e região são áreas endêmicas para a febre maculosa. Neste ano, com o caso da dentista, já são três confirmações no município até o momento. Duas pessoas eram moradoras da cidade e a terceira foi a dentista de São Paulo.
Os principais sintomas da febre maculosa são:
- Febre;
- Dor de cabeça intensa;
- Náuseas e vômitos;
- Diarreia e dor abdominal;
- Dor muscular constante;
- Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés;
- Gangrena nos dedos e orelhas;
- Paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões causando parada respiratória.
Na evolução da doença, também é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés.
Como é a transmissão?
A transmissão da doença ocorre em ambientes silvestres, nos quais exista o carrapato Amblyomma cajennense, popularmente conhecido como carrapato-estrela. Para que ocorra a transmissão, é necessário que o carrapato fique fixado na pele por um período de cerca de 4 horas.
Como se proteger:
Ao realizar trilhas e atividades de lazer ao ar livre, algumas precauções devem ser tomadas para evitar a febre maculosa:
- Evitar caminhar, sentar e deitar em gramados e em áreas de conhecida infestação de carrapatos;
- Em áreas silvestres, realizar vistorias no corpo em busca de carrapatos em intervalos de três horas para diminuir o risco de contrair a doença;
- Se forem verificados carrapatos no corpo, não esmagar o carrapato com as unhas, pois ele pode liberar as bactérias e infectar partes do corpo com lesões;
- Se encontrar o parasita, ele deve ser retirado de leve com torções e com auxílio de pinça, evitando contato com as unhas. Quanto mais rápido forem retirados, menor a chance de infecção;
- Utilizar barreiras físicas, como calças compridas, com a parte inferior por dentro das botas ou meias grossas;
- Utilização de roupas claras para facilitar a visualização e retirada dos carrapatos.