Febre maculosa: estudo da USP abre caminho para vacina
Proteína produzida pelo carrapato pode ser chave para frear a transmissão da doença, aponta pesquisa; hospedeiros seriam alvo de imunização
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) desponta como a grande esperança para o desenvolvimento de uma vacina contra febre maculosa. O trabalho, divulgado na revista Parasites & Vectors, aponta um caminho para o controle da população do carrapato-estrela, principal transmissor da doença.
Os casos de febre maculosa ganharam destaque recente devido a um surto em Campinas, interior de São Paulo, em que pelo menos quatro pessoas morreram após participar de dois grandes eventos na Fazenda Santa Margarida, distrito de Joaquim Egídio.
A chave da descoberta da USP é uma proteína que o próprio carrapato produz. De acordo com os resultados da pesquisa, se os carrapatos não tiverem essa proteína em alta quantidade, não conseguem sobreviver.
A Rickettsia rickettsii, bactéria que causa a doença, é transmitida pela picada de carrapatos infectados. No Brasil, duas espécies desses aracnídeos transmitem a bactéria para humanos. O carrapato-estrela, utilizado no estudo, é o principal vetor. Mas há também o Amblyomma aureolatum, que transmite a bactéria na região metropolitana da cidade de São Paulo.
Em sua fase adulta, o carrapato se alimenta preferencialmente de cavalos e de capivaras. Segundo o estudo, se o alvo encontrado para a obtenção de um imunizante for promissor, o carrapato que se alimentar de um animal vacinado morrerá, interrompendo o ciclo de proliferação da bactéria.
Assim, ao controlar a população dos carrapatos por meio da vacinação de hospedeiros, como capivaras e cavalos, a transmissão da doença para seres humanos também seria potencialmente reduzida.
Numa próxima etapa da pesquisa, pedaços dessa proteína (peptídeos) serão produzidos para imunizar coelhos que produzirão anticorpos contra ela. Espera-se que os anticorpos neutralizem a proteína, levando à morte do carrapato ao se alimentar.
Os resultados devem ser conhecidos em pouco mais de um ano. A pesquisa da USP, desenvolvida no Laboratório de Bioquímica e Imunologia de Artrópodes do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A doença
A região de Campinas é endêmica para a febre maculosa, com o maior registro de casos no Brasil. Outras áreas de risco são Piracicaba, Assis e Sorocaba.
A febre maculosa é uma doença infecciosa, causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, que é transmitida por algumas espécies de carrapatos.
A infecção apresenta alta taxa de letalidade, mas tem cura. O tratamento deve ser iniciado precocemente com antibióticos específicos.
Sintomas
- Dor de cabeça intensa;
- Náuseas e vômitos;
- Diarreia e dor abdominal;
- Dor muscular constante;
- Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés;
- Gangrena nos dedos e orelhas;
- Paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões causando parada respiratória.
Na evolução da doença, também é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés.
Como é a transmissão?
A transmissão da doença ocorre em ambientes silvestres, nos quais exista o carrapato Amblyomma cajennense, popularmente conhecido como carrapato-estrela. Para que ocorra a transmissão, é necessário que o carrapato fique fixado na pele por um período de cerca de 4 horas.
Como se proteger:
- Ao realizar trilhas e atividades de lazer ao ar livre, algumas precauções devem ser tomadas para evitar a febre maculosa:
- Evitar caminhar, sentar e deitar em gramados e em áreas de conhecida infestação de carrapatos;
- Em áreas silvestres, realizar vistorias no corpo em busca de carrapatos em intervalos de três horas para diminuir o risco de contrair a
doença; - Se forem verificados carrapatos no corpo, não esmagar o carrapato com as unhas, pois ele pode liberar as bactérias e infectar partes do corpo com lesões;
- Se encontrar o parasita, ele deve ser retirado de leve com torções e com auxílio de pinça, evitando contato com as unhas. Quanto mais rápido forem retirados, menor a chance de infecção;
- Utilizar barreiras físicas, como calças compridas, com a parte inferior por dentro das botas ou meias grossas;
- Utilização de roupas claras para facilitar a visualização e retirada dos carrapatos.