Febre maculosa: adolescente que morreu ajudava pai em feijoada
Segundo organização da Feijoada do Rosa, menor ficou no local por meia hora; Instituto Adolfo Lutz investiga se ela morreu de febre maculosa
atualizado
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São Paulo – Os organizadores da feijoada apontada pela Secretaria de Saúde de Campinas como “provável local de contaminação” das vítimas de febre maculosa na cidade afirmam que Érissa Nicole Santos Santana, a adolescente de 16 anos que morreu por suspeita da doença, entrou no evento com o pai. Segundo nota enviada à imprensa, ele é proprietário de uma das empresas contratadas e a filha o acompanhou na entrega de materiais.
Na nota, os organizadores lamentam a morte da jovem, mas esclarecem que ela não era uma participante da festa, que é fechada para menores de 18 anos.
“Identificamos que a entrada da jovem na fazenda ocorreu pelo acesso de prestadores de serviços, acompanhada do pai dela, proprietário de uma das empresas contratadas. Permaneceu no local por aproximadamente 30 minutos, apenas na área de serviços, para auxiliar na reposição de materiais. Uma vez esclarecido esse fato, externamos novamente condolências aos familiares e amigos”, informa a nota divulgada pela Feijoada do Rosa.
Nessa terça-feira (13/6), o Instituto Adolfo Lutz confirmou que Mariana Giordano, 36 anos, Douglas Costa, 42, namorado dela, e a dentista Evelyn Karoline Santos, 28, de Hortolândia, que morreram no último dia 8, foram vítimas de febre maculosa.
Todos estiveram na Feijoada do Rosa, que ocorreu em 27 de maio na Fazenda Santa Margarida. O local é cercado por diversas áreas de mato e tem difícil acesso. Cerca de 3,5 mil pessoas estiveram no evento.
O caso da adolescente ainda é investigado pelo Instituto Adolfo Lutz. A menor de idade apresentou diversos sintomas da doença. Ela estava hospitalizada desde o dia 9.
O convite para a Feijoada do Rosa dava direito a um open bar de bebidas e comida e era exclusivo para maiores de idade. De acordo com organizadores, a menor de idade trabalhou como assistente durante a feijoada.
Segundo a Prefeitura de Campinas, a família só informou que a jovem participou do evento após ver a repercussão do surto de febre maculosa na cidade. A gestão municipal classificou a situação como “surto de febre maculosa”.
Sem eventos
A Prefeitura de Campinas informou que a Fazenda Santa Margarida, indicada como o local onde as pessoas contraíram a doença, só poderá fazer novos eventos quando apresentar um plano de contingência ambiental e de comunicação.
Os responsáveis pelo local foram notificados sobre a importância da sinalização quanto ao risco da febre maculosa, segundo a administração municipal.
Nos próximos dias, técnicos farão uma pesquisa para verificar como está a infestação de carrapatos (pesquisa acarológica) no espaço.
“Essa informação é imprescindível para que a pessoa adote comportamentos seguros ao frequentar estes espaços e também para que, após frequentar, se apresentar sinais e sintomas, informe o médico e facilite o diagnóstico”, diz a prefeitura.
Responsabilização
O espaço de eventos, no entanto, responsabiliza a administração municipal pelo controle e prevenção da doença.
Em comunicado, a fazenda diz que atende às “normas de vigilância sanitária” e segue “rigoroso processo de manutenção e cuidados em relação ao espaço e sua conservação”.
“Essa enfermidade é considerada uma zoonose, ou seja, uma doença que pode ser transmitida entre animais e seres humanos. Cabe ressaltar que a responsabilidade pelo controle e prevenção da febre maculosa é atribuída ao município, conforme estabelecido pela legislação pertinente”, afirma
A fazenda argumenta que a região rural de Campinas “sempre apresentou casos de febre maculosa”. A doença infecciosa é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida aos seres humanos por algumas espécies de carrapatos.
Febre maculosa
A febre maculosa tem cura, mas o tratamento precisa ser iniciado precocemente com antibióticos adequados. O principal sintoma da doença é a febre alta, que pode ser confundida com outras enfermidades.
“Por isso, é importante que o médico sempre pergunte, ou que o paciente relate que esteve em área de vegetação com presença de carrapato ou capivara. Com esse histórico, o tratamento deve ser iniciado imediatamente”, diz Andrea von Zuben, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa), de Campinas.