Fatura do cartão de estudante da USP saltou 150% após desvios
Polícia apreendeu documentos, equipamentos e comprovantes de jogos de loteria no apartamento de Alicia Dudy Muller nesta terça-feira (24/1)
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – A quebra de sigilo bancário feita pela investigação que apura o desvio do dinheiro da formatura da 106ª turma da Faculdade de Medicina da USP pela estudante Alicia Dudy Muller, de 25 anos, aponta que a fatura do cartão de crédito da aluna saltou de uma média de R$ 2 mil para R$ 7 mil em um mês, um aumento de 150%.
Segundo a investigação que corre no 16º DP, o salto nos gastos pessoais de Alicia ocorreu a partir de novembro de 2021, quando ela passou a sacar o dinheiro do fundo de formatura.
“O cartão dela aumenta muito. Por enquanto temos apenas parte dessa documentação, temos que aguardar as instituições encaminharem mais detalhes. Ela tinha uma fatura preliminar de R$ 2 mil e, no período que ela faz os saques, já vai para R$ 7 mil”, afirma um dos delegados do caso, Guilherme Azevedo.
Segundo a investigação, entre os gastos no cartão de crédito, estão despesas corriqueiras como delivery de comida.
Além da fatura do cartão de crédito, o delegado afirma que a quebra de sigilo bancário mostrou que Alicia passou a fazer gastos altos no débito, na média de R$ 1 mil por compra, desde que passou a fazer os saques do dinheiro dos colegas.
De acordo com os investigadores, os gastos eram imcompatíveis com a renda da estudante. Ela afimou aos policiais que ganhava cera de R$ 4 mil por mês, através de bolsas e trabalhos de pesquisa.
“Ela pega a primeira retirada em novembro (de 2021). Em dezembro, já tem gastos pessoais, de R$ 1 mil em R$ 1 mil. Como que você ganha R$ 4 mil por mês e em três dias você gasta R$ 5 mil no débito? Então há essa confusão patrimonial”, diz o delegado.
Na semana passada, Alícia admitiu em depoimento à polícia ter sacado R$ 937 mil do fundo de formatura e ter gastado parte da quantia em benefício próprio. Ela foi indiciada pelo crime de apropriação indébita, cuja pena máxima prevista é de quatro anos de prisão. Por enquanto, a estudante reponde em liberdade.
Nesta terça, os agentes da Polícia Civil foram até o apartamento onde mora Alicia, na zona sul de São Paulo, e apreenderam o veículo que ela havia alugado, desde março do ano passado, com o dinheiro desviado.
Além do veículo, foram apreendidos aparelhos eletrônicos como um iPad, um notebook e dois celulares. Também foram levados documentos e cadernos de anotações pessoais de Alicia. O apartamento onde estudante vive, na Vila Mariana, também foi alugado por meio do dinheiro do fundo da formatura.
De acordo com o depoimento da aluna à polícia, ela pagava cerca de R$ 2 mil por mês no aluguel do carro e R$ 3.700,00 mensais no apartamento. O imóvel foi alugado em outubro de 2022.
Loteria
Entre os documentos apreendidos na casa de Alicia nesta terça, estão comprovantes dos jogos que a estudante fez na loteria, emitidos pela Caixa Econômica Federal. Ela afirmou no depoimento que passou a fazer as apostas como uma tentativa de recuperar o dinheiro que havia perdido em aplicações.
Alicia é alvo de um outro inquérito que apura especificamente esses jogos de loteria. Ela é investigada por estelionato e lavagem de dinheiro desde o ano passado, após o dono da lotérica abrir um boletim de ocorrência.
Os documentos apreendidos nesta terça mostram que ela “ganhou” ao menos R$ 170 mil, após ser premiada 17 vezes na loteria. O valor total apontado na documentação encontrada, no entanto, está entre R$ 500 mil e R$ 600 mil.
Entre o material que agora está em posse da investigação, estão papéis em que Alicia fazia anotações de controle sobre as apostas (veja foto abaixo).
Depoimentos
A Polícia Civil já ouviu, além de Alicia, alguns membros da comissão de formatura e pessoas ligadas à empresa que era responsável por gerir o dinheiro para o evento.
Nesta terça-feira (24/1), uma amiga próxima de Alicia, que trabalha junto com ela em uma empresa de pesquisa médica, também prestou depoimento. Ela foi chamada porque a polícia identificou que seu veículo estava cadastrado na vaga de garagem do prédio onde vive a estudante.
A médica, que conhece Alicia desde 2018, afirmou que não tinha conhecimento do desvio do dinheiro e que a amiga era uma pessoa discreta, mas reconheceu que notou a melhora repentina no padrão de vida da estudante.
De acordo com a investigação, a profissional afirmou que Alicia comentou apenas uma vez que havia feito uma aposta, mas não entrou em detalhes.
A polícia por enquanto não vê indícios de participação no crime por parte dessa amiga e trabalha com a versão de que Alicia de fato atuou sozinha.
Na sexta-feira, os investigadores vão ouvir a estudante que assumiu a presidência da comissão de formatura após o caso do “desaparecimento” do dinheiro vir à tona.