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Família paga quase R$ 1 mil para enterrar pela 2ª vez vítima de Covid

Enterrada em saco especial, vítima da Covid não teve o corpo decomposto no prazo de exumação e foi enterrada pela segunda vez em São Paulo

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Fábio Vieira/Metrópoles
Imagem colorida de diversas pessoas no cemitério da Vila Formosa, em São Paulo, acompanhando enterro - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de diversas pessoas no cemitério da Vila Formosa, em São Paulo, acompanhando enterro - Metrópoles - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

São Paulo – Poucos meses após a pandemia de Covid-19 ser decretada pelas autoridades de saúde, em 2020, a dona de casa Sônia Maria Baptista, de 69 anos, foi uma das vítimas fatais da doença que já matou mais de 700 mil pessoas no Brasil.

Passados três anos, porém, o corpo dela não chegou ao estágio necessário de decomposição para que pudesse ser exumado e, por isso, a família de Sônia se viu obrigada a sepultá-la novamente, mediante pagamento de nova taxa, de R$ 959.

Irmão de Sônia, o professor Moisés Baptista, de 55 anos, foi surpreendido com a notícia de que teria de enterrá-la novamente após iniciar o processo de exumação, prática prevista em lei depois que o óbito completa três anos e utilizada para liberar espaço nos jazigos dos cemitérios.

Na exumação, os ossos são incinerados, cremados ou reacomodados em urnas menores. A taxa de exumação, de R$ 322, foi paga com antecedência pela família de Moisés, já que o serviço foi agendado em junho. Mas, neste mês, ao chegar ao Cemitério São Pedro, na Vila Alpina, zona leste da capital paulista, eles foram surpreendidos com o aviso de que a exumação não poderia ser feita.

O corpo de Sônia, assim como de milhares de outras vítimas de Covid, foi enterrado dentro de um saco mortuário especial, usado para ampliar a proteção contra a propagação do coronavírus no auge da pandemia, que provocou 45 mil óbitos só na cidade de São Paulo. A questão é que o saco preserva o cadáver e impossibilita a sua decomposição completa no prazo de três anos.

“Se eles já sabiam que o corpo não estaria no estado devido, por que não avisaram quando agendamos? Por que só nos avisaram na hora, nos deixando sem opção?”, diz Moisés em entrevista ao Metrópoles.

O professor relata que o cemitério ofereceu poucas alternativas. Ou pagaria pelo segundo enterro do corpo intacto ou a cova seria rebaixada para dar lugar a outro sepulcro. “É uma pressão para desenterrar. Nunca vi isso, de pagar para enterrar de novo. Sofremos uma pressão para desenterrar naquele momento. Você fica sem chão, porque não está esperando isso”, afirma.

Imagem de recibo escrito à mão com taxas pagas ao cemitério - Metrópoles
Em um recibo feito à mão, o serviço de enterrar novamente o cadáver é identificado como “corpo intacto”

Sem luto

Quando Sônia morreu, os parentes não puderam se aproximar do caixão por causa dos protocolos sanitários adotados na pandemia. Pouco se sabia sobre a doença e não havia vacina ou máscaras de proteção o suficiente naquele período.

“A gente não viveu o luto, não teve enterro, velório, nada. Os caixões chegavam e já iam para a cova. Nem abrimos o caixão porque não podia. A gente ficou de longe olhando eles enterrarem. E agora, na hora da exumação, a gente queria poder cremar os ossos, mas nem isso a gente pôde fazer. Vamos ter que esperar mais um tanto e isso é constrangedor”, diz o professor.

A família planejava cremar os ossos de Sônia quando chegasse o momento da exumação. Segundo Moisés, essa opção nem sequer foi oferecida pelo cemitério, que foi concedido em março deste ano para a concessionária Velar, em contrato de 25 anos.

O Metrópoles questionou a Velar sobre a possibilidade de ampliar o prazo para exumação em casos de mortes por Covid. Em nota, a empresa disse que o procedimento segue o prazo definido pela legislação e que a cobrança das taxas de serviços está prevista no contrato com a Prefeitura de São Paulo.

“Os corpos exumados que não tenham passado por todo processo de decomposição podem ser cremados, caso seja desejo dos familiares e observados os protocolos legais”, diz a Velar no texto. O preço da cremação varia de R$ 850 a R$ 2,1  mil.

A concessionária também declarou que a cobrança dos serviços é feita “somente após a efetiva prestação e de acordo com os serviços prestados”, embora a família de Moisés tenha apresentado um comprovante de pagamento feito em junho deste ano, no momento do agendamento da exumação.

Imagem de Nota Fiscal impressa com dados sobre o pagamento de taxa de exumação - Metrópoles
Nota Fiscal e comprovante de pagamento da taxa de exumação no Cemitério São Pedro

Procurada pela reportagem, a prefeitura disse que o contrato de concessão prevê penalidades e sanções “que podem ser aplicadas caso sejam necessárias” e afirmou que fiscalizará a prestação dos serviços.

Nessa terça-feira (25/7), o Ministério Público de São Paulo (MPSP) abriu inquérito para apurar irregularidades nas cobranças de taxas dos cemitérios da capital paulista após a concessão.

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