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Família de bolsista morto pede imagens de escola para provar bullying

Defesa da família de estudante do Colégio Bandeirantes que tirou a própria vida entrou com pedido de ação antecipada de provas

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Reprodução/ Colégio Bandeirantes
Imagem colorida de fachada do Colégio Bandeirantes. Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de fachada do Colégio Bandeirantes. Metrópoles - Foto: Reprodução/ Colégio Bandeirantes

São Paulo — A família do estudante de 14 anos do Colégio Bandeirantes, na zona sul de São Paulo, que tirou a própria vida solicitou à Justiça acesso a imagens do circuito interno da escola, para provar que o adolescente sofria bullying no ambiente escolar.

Antes de cometer suicídio, no dia 12 de agosto, o adolescente enviou um áudio para a mãe e estudantes do colégio de elite onde era bolsista, no qual descrevia ataques verbais que os alunos faziam com ele. Segundo a família, o jovem era hostilizado por ser gay, negro e de origem humilde.

A defesa dos pais, feita pelos advogados Anivaldo dos Anjos e Hédio Silva, protocolou um pedido de ação antecipada de provas nessa terça-feira (3/8). Eles solicitaram imagens dos dois meses que antecederam a morte do jovem.

“A escola toda é monitorada, e as gravações podem registrar o movimento interno, a expressão corporal [do adolescente], se ele sofria algum tipo de pressão”, afirmou Anivaldo ao Metrópoles. De acordo com advogado, a partir das imagens é possível avaliar se houve ato infracional, como racismo e bullying, e a responsabilidade que pode recair sobre a escola.

“Há todas as normativas constitucionais que a escola tem que trabalhar, principalmente com aluno de origem pobre”, disse.

O advogado afirmou que o objetivo inicial da ação não é obter indenização para a família, por se tratar de “um dano irreversível”. “Efetivamente não é objetivo final, mas não seria pecado [pedir indenização]”, disse.

Em nota enviada ao Metrópoles após a morte do aluno, o Colégio Bandeirantes disse que “toda a comunidade escolar está profundamente abalada com essa perda irreparável”. A instituição afirma ter oferecido “apoio e solidariedade” à família e aos amigos do adolescente.

A família nega que tenha sido procurada pela escola, segundo os advogados.

Bolsa

O Colégio Bandeirantes avalia cancelar a parceria com a Ismart, ONG para bolsistas que faz a ponte entre adolescentes de baixa renda e unidades de ensino de elite. A decisão será revista após o suicídio do estudante de 14 anos.

O Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart) foi criado em 1999 com a missão de identificar jovens talentos de baixa renda, de 12 a 15 anos de idade, e oferecer a eles bolsas em escolas particulares de excelência.

Um relatório do próprio Bandeirantes, do ano de 2021, afirma que o colégio contava com aproximadamente 100 alunos do Ismart. “É nossa parceria mais antiga”, apontou a diretora de Planejamento Estratégico do “Band”, Helena Aguiar, no texto.

Porém, após a família do jovem morto ter responsabilizado a escola e de estudantes terem feito protestos na porta do local, a diretora de convivência do Bandeirantes, Estela Zanini, disse ao UOL que é preciso “rever algumas coisas da parceria”.

Ela apontou uma divergência na rotina dos profissionais que atendem aos bolsistas da ONG no colégio: a cúpula do Bandeirantes está insatisfeita com a carga horária desses analistas. A direção quer que os parceiros estejam na escola durante o horário das aulas, mas o instituto não vê isso como uma opção viável.

A CEO do Ismart, Mariana Monteiro, também disse ser necessário aprimorar o processo de inclusão dos bolsistas sem encerrar as parcerias.

“Agressividade” dos bolsistas

No dia 14 de agosto, foi realizada uma sessão do Conselho Estadual de Educação. Na ocasião, o assessor do núcleo de estratégia e inovação do Bandeirantes, Mauro Salles Aguiar — que foi diretor do colégio de 1996 a 2003 —, criticou a reação dos bolsistas durante reunião realizada no próprio colégio para falar sobre a morte do adolescente. “Nível de agressividade grande e espantoso”, falou.

Além disso, o antigo diretor contou que, após o episódio, os outros bolsistas cobraram atendimento psicológico. “Escola não é clínica de psicologia”, disse Mauro.

Tanto o Colégio Bandeirantes quanto a ONG Ismart foram procuradas pelo Metrópoles para falarem sobre o possível rompimento da parceria e as declarações de Salles Aguiar. A escola afirmou que, no momento, “não dispõe de informações adicionais para compartilhar”.

O Ismart informou que não há nenhuma alteração prevista na sua parceria com o Colégio Bandeirantes.

Busque ajuda

O Metrópoles tem a política de publicar informações sobre casos ou tentativas de suicídio que ocorrem em locais públicos ou causam mobilização social, porque esse é um tema debatido com muito cuidado pelas pessoas em geral. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o assunto não venha a público com frequência, para o ato não ser estimulado.

O silêncio, porém, camufla outro problema: a falta de conhecimento sobre o que, de fato, leva essas pessoas a se matarem. Depressão, esquizofrenia e uso de drogas ilícitas são os principais males identificados pelos médicos em um potencial suicida – problemas que poderiam ser tratados e evitados em 90% dos casos, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.

Está passando por um período difícil? O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode ajudar você. A organização atua no apoio emocional e na prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail, chat e Skype, 24 horas, todos os dias.

 

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