Mostra Aberto1 ocupa a única casa projetada por Niemeyer em São Paulo
Projeto Aberto1 apresenta obras de artistas nacionais e internacionais. Tanto a propriedade quanto boa parte dos trabalhos estão à venda
atualizado
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Há pelo menos um ano, o art advisor Filipe Assis alimentava a vontade de fazer uma exposição que relacionasse arte, arquitetura e design, mas não encontrava um lugar que considerasse ideal. Em agosto, recebeu um telefonema de um amigo, que o avisou sobre o anúncio da venda da única casa projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer em São Paulo. O local perfeito para receber o projeto Aberto1, exposição coletiva com grandes nomes, como Pablo Picasso, Marc Chagall e Lygia Clark, em cartaz na residência modernista até 4 de dezembro.
Para conseguir o imóvel, Filipe agiu rápido. Como mora em Londres, pegou o primeiro voo para São Paulo e reservou o espaço por 45 dias para realizar o evento.
Faltando cerca de dois meses da data agendada, precisava resolver também de maneira ágil quais obras seriam expostas. Para isso, contou com a ajuda da curadora Kiki Mazzucchelli e da designer Claudia Moreira Salles.
“Houve uma sinergia boa entre a gente. Respeitamos muito um a opinião do outro e raras vezes divergimos”, diz Filipe em entrevista ao Metrópoles.
A casa do Oscar
Os museus desenhados por Oscar Niemeyer são conhecidos por fazer os arquitetos quebrarem a cabeça para resolver os projetos expositivos. A casa paulistana não é diferente. Cheia de curvas e paredes de vidros para os jardins, é difícil encontrar uma superfície plana para pendurar quadros.
“No começo, alguns galeristas foram um pouco mais resistentes em emprestar trabalhos porque a casa é super difícil para exposição – não tem parede reta, nem branca. Além de ser um ambiente com pouca iluminação”, lembra.
Um desafio muito bem solucionado por Claudia Moreira Salles, que criou interessantes suportes e cavaletes que conversam com a arquitetura modernista sem grandes intervenções.
Embora seja o oposto do cubo branco das galerias, a casa é um ambiente sedutor para apresentar as obras arte para colecionadores. Pois incita os clientes a imaginar como as obras poderiam ficar instaladas em jardins quartos e corredores.
Com ajuda de Claudia e de Kiki Mazzucchelli, Filipe alinhavou o contato com as galerias e colecionadores para emprestar as obras. Grandes casas do circuito como Luisa Strina, Nara Roesler, Mendes Wood DM e o escritório de arte Paulo Kuczynski aderiram ao projeto, oferecendo trabalhos de seus principais artistas para o trio selecionar.
“Não somos uma instituição e não tínhamos a preocupação de contar uma história. Nosso interesse era criar diálogos entre as obras e a casa”, afirma.
A sala de nus
Antes mesmo de fechar o local onde aconteceria a Aberto, Filipe só tinha uma certeza sobre que queria expor: a coleção de desenhos de nus femininos de uma de suas clientes – que não pode revelar o nome.
“Queria mostrar esses nus porque eu tenho uma grande paixão por essa coleção”, diz. E não é por menos, a colecionadora reuniu durante anos desenhos de artistas como Marc Chagall, Lee Krasner e Pierre-Auguste Renoir. Os trabalhos estão expostos em um dos quartos da residência.
A principal atração do espaço é a tela “Mulher Nua Sentada”, pintada por Pablo Picasso em 1901. O trabalho pertenceu a colecionadores importantes até ser confiscado pelos nazistas nos anos 1930, sendo alvo de intensa disputa judicial. A obra pertence hoje a um outro cliente de Filipe, sendo esta primeira vez que o trabalho é exposto no Brasil.
Coleção de obras primas
As obras de artistas brasileiros, no entanto, não ficam atrás. Em uma sala logo na entrada, está uma das únicas pinturas de Oscar Niemeyer, feita em 1964. O quadro sugere a queda dos pilares do Palácio do Alvorada logo após o golpe militar. Nesta mesma sala, há projetos de painéis que Candido Portinari fez para construções do arquiteto como a igreja da Pampulha.
Em um espaço circular, um dos relevos espaciais, de Hélio Oiticica, sobrevoa um bicho de Lygia Clark — trabalhos seminais do movimento Neoconcreto. A escultura “Dois Acordes”, de Sonia Gomes, flutua no vão da escada que dá acesso ao segundo pavimento. Neste andar, duas figuras surrealistas, que compõem a escultura “Sombras”, de Maria Martins, ocupam um quarto inteiro.
Há ainda trabalhos feitos exclusivamente para a exposição, por exemplo, os retratos de Oscar Niemeyer, feito por Panmela Castro, e do paisagista Roberto Burle Marx, por Maria Klabin.
Com exceção dos trabalhos dos artistas estrangeiros expostos na sala de nus, os demais estão à venda. Até o fim da semana, a mostra vai ganhar novas obras, entre elas a escultura “Caminho das cores do escuro”, de Amélia Toledo.
Rua Sílvia Celeste de Campos, 607 – Alto de Pinheiros. Visitação somente por agendamento pelo site www.aberto.art. Até 04 de dezembro. Grátis.