Ex-alunos denunciam abusos de professor de colégio tradicional de SP
Mais de 20 ex-alunos do Colégio Rio Branco relataram abusos ocorridos na década de 1990. Professor está preso por estupro de vulnerável
atualizado
Compartilhar notícia
São Paulo – Preso em junho deste ano, por estupro de vulnerável contra estudantes de um colégio particular de Serra Negra, no interior paulista, o professor de teatro Carlos Veiga Filho, de 61 anos, é acusado de ter cometido uma série de abusos na década de 1990 contra ex-alunos de uma tradicional escola de São Paulo.
O Fantástico, da TV Globo, recebeu relatos de 22 ex-alunos do Colégio Rio Branco, que hoje tem unidades em Higienópolis, na região central da capital, e em Cotia, na região metropolitana.
Os relatos feitos à reportagem são semelhantes: o professor seria responsável pela organização de acampamentos de alunos e, durante esses eventos, promovia o que chamava de “ritual”, no quais os meninos tinham de ficar nus e pintar seus corpos com tintas guache. Veiga Filho fotografava as crianças e os adolescentes sem roupas.
Segundo as denúncias, as vítimas tinham 12, 13 e 14 anos. Em alguns casos, ele tocava os órgãos genitais dos estudantes.
O professor usava argumentos místicos como “medir a energia vital” ou “limpar os chacras” das vítimas. Ele exigia sigilo sobre os rituais que eram regidos pelo lema “amizade, lealdade e honra”.
O professor de teatro trabalhou por 17 anos no Colégio Rio Branco, entre 1986 e 2003, quando foi demitido pela instituição. Segundo o estabelecimento de ensino, ele foi desligado durante uma reestruturação interna.
Os crimes relatados à reportagem do Fantástico já prescreveram, mas homens que dizem ter sido vítimas de Veiga Filho quando adolescentes procuraram o Ministério Público de São Paulo como testemunhas em novas denúncias contra o professor.
Preso por acaso
Em 11 de junho deste ano, após atender à ocorrência de uma briga em um condomínio em Hortolândia, no interior de São Paulo, policiais descobriram que um dos envolvidos era Carlos Veiga Filho, que tinha um mandado de prisão em aberto por suspeita de estupro de vulnerável.
Ele teria mantido relações sexuais dentro do seu apartamento e nas dependências de um colégio de Serra Negra com três adolescentes que na época eram menores de 14 anos.
O advogado do suspeito, Jhonatan Wilke, afirmou, à época, que o cliente negava os abusos. “Nunca cometeu nenhum crime durante sua carreira de mais de 30 anos como professor. Apenas prestou assistência aos estudantes que estavam enfrentando um momento difícil na família. Dessa forma, se declara inocente de todas as acusações”, disse Wilke à Folha de S.Paulo.
Ainda de acordo com o advogado, Veiga Filho teria realizado a limpeza dos chacras dos adolescentes, sem conotação sexual. “Sendo assim, houve uma aproximação da mão dele nas costas e peitoral (sem toque) das vítimas.”
O que diz a escola
Em nota enviada ao Metrópoles, o Colégio Rio Branco, mantido pela Fundação de Rotarianos de São Paulo, afirmou ter tomado conhecimento pela imprensa, em julho de 2024, sobre o processo envolvendo o ex-professor, referente ao período em que atuava em um colégio de Serra Negra. “Recebemos com consternação e indignação o teor dos relatos de ex-alunos trazidos pelas reportagens, uma vez que repudiamos, veementemente, esse tipo de atitude”, diz o texto.
A Fundação afirma que “há anos” tem um canal seguro de Ouvidoria para receber denúncias, sugestões e reclamações, sem que, ao longo desse período, tenha havido qualquer menção aos relatos citados. “Além disso, passados mais de 20 anos, lamentavelmente, não localizamos registros de denúncias ou apurações que possam ter sido feitas à época, nem de medidas que possam ter sido tomadas pela direção anterior”, relata a instituição.
O Colégio Rio Branco afirma que, diante dos relatos, criou, sem seu site, um canal exclusivo e anônimo para eventuais denúncias, disponível (clique aqui).
“Compartilhamos do sentimento coletivo de repulsa por toda e qualquer conduta desta natureza e reafirmamos o nosso compromisso com a formação, o desenvolvimento e a integridade de toda a nossa comunidade”, completa.
Carlos Veiga Filho foi desligado do colégio em 2003 em uma reestruturação interna em que 196 profissionais de diferentes áreas foram dispensados.