Estupro e ameaça de “desova”: a história da 1ª condenação de Brennand
Justiça de São Paulo condenou o empresário Thiago Brennand a 10 anos e seis meses de prisão por estupro de uma mulher norte-americana
atualizado
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São Paulo – Vítima de estupro, a mulher norte-americana detalhou para a Justiça de São Paulo como o seu relacionamento com o empresário Thiago Brennand, de 43 anos, se transformou em uma rotina de violência, marcada por ameaças e sexo à força.
O caso rendeu a primeira condenação criminal de Brennand. Na sentença, o juiz Israel Salu, da 2ª Vara de Porto Feliz, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), estabeleceu pena de 10 anos e seis meses de reclusão, em regime fechado, além de indenização de R$ 50 mil à vítima. Ainda cabe recurso.
O resultado do julgamento foi divulgado nesta quarta-feira (11/10). Moradora do Brasil há mais de uma década, a norte-americana prestou depoimento por 2h30 no dia 30 de maio. Na ocasião, Brennand foi retirado da sala virtual do julgamento.
Ela relatou que conheceu Brennand em 2021, ao tentar comprar um cavalo do empresário, e os dois tiveram uma relação por alguns meses. Ela é praticante de hipismo e treinava salto. No início, a convivência seria normal. Depois, ele começou a agir violentamente, com ameaças e xingamentos de “puta”.
Estupro
Na época da relação, apesar de não ter formalizado o divórcio, a vítima contou que já era separada do marido. Em plenário, declarou ter sido forçada pelo empresário a praticar sexo anal na casa dele, em Porto Feliz, em julho de 2021.
“A gente estava transando normal, uma coisa consensual no momento, até que ele começou a ficar muito agressivo, me forçar. Daí, eu não estava muito interessada mais e falei: ‘Menos, calma, diminui’. Ele não fala durante o sexo, ele simplesmente fica outra pessoa, agressivo assim”.
“Ele literalmente me virou, com a barriga para o chão, levantou a parte do meu quadril e eu coloquei a mão (…) Eu estava falando não, não quero, obviamente não nesse tom. Ele falou que, se eu não tirasse a mão, ia me machucar muito mais”.
O estupro aconteceu em um fim de semana, na casa do empresário, em um condomínio de luxo da cidade. Segundo a mulher, ela resistiu ao ato sexual, chegou a gritar e sofreu lesões, com sangramento.
Medo
Ela só levou o relato ao MPSP em novembro de 2022, após vir à tona a primeira denúncia contra Brennand – ele foi acusado de agredir a modelo Helena Gomes, em uma academia de São Paulo, em agosto do ano passado.
À Justiça, a americana alegou ter se sentido intimidada até resolver denunciá-lo, porque o empresário andava armado e já teria confessado homicídios (vídeo abaixo). Outro receio, disse ela, era ser vítima de “revenge porn”, ou “pornagrafia de vingança”.
“Ele tem arma (…) Então ele matava bandido, matava caras que estupraram criança, coisas assim. Até uma vez, numa mensagem, eu falei: ‘Não quero lidar com você porque você também é criminoso’. E ele falou: ‘É, mas eu só mato gente ruim’”, declarou.
Ela também afirmou ter medo do empresário. Segundo depôs, um dos episódios aconteceu durante uma viagem com ele. “Ele disse: ‘se eu mato você e jogo seu corpo da na rodovia, alguém vai te procurar? Quanto tempo vai demorar?’. Eu questionei: ‘Você quer me matar?’. Ele ficou pensativo e disse não.
“Eu vi o jeito que ele tratou as outras pessoas, o jeito que ele estava me tratando. (…) Esse cara, se quiser, pode me matar. Se quiser, pode.
Defesa
Brennand está preso no Centro de Detenção Provisória 1 (CDP) de Pinheiros, na capital paulista, acusado de crimes de estupro, lesão corporal, cárcere privado, corrupção de menor. Ele diz ser inocente.
Em setembro, Brennand fez acordo e pagou R$ 18 mil para um caseiro encerrar a ação em que era acusado de ameaçá-lo. Também fez acordo para encerrar uma acusação de injúria. Outras seis ações seguem sem sentença.
Em julho, o Metrópoles mostrou, com exclusividade, os detalhes do depoimento de Brennand neste processo. “Eu estou aqui preso por vontade própria”, declarou o empresário, na ocasião.
O advogado Roberto Podval, responsável pela defesa de Thiago Brennand, atacou nesta quinta-feira (11/10) a sentença da Justiça de São Paulo que condenou seu cliente a 10 anos e seis meses de prisão, em regime fechado, por estupro de uma mulher norte-americana. O empresário vai recorrer da decisão.
“A sentença fala por si, não existe nenhuma prova, exceto a palavra da vítima”, afirma Podval, em nota ao Metrópoles. O advogado assumiu a defesa de Brennand em junho. “Acreditamos que o Tribunal corrigirá esta equivocada decisão”.