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Estudo: chumbo em leite humano pode atrasar desenvolvimento de bebês

Um estudo da USP analisou a contaminação ambiental por chumbo no leite humano materno e como isso pode prejudicar o desenvolvimento de bebês

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1 de 1 CHUMBO-NO-LEITE (4) - Foto: Arte/Metrópoles

São Paulo — Um estudo do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que há contaminação ambiental por chumbo no leite humano materno, que pode estar associada ao atraso no desenvolvimento da linguagem de bebês.

A pesquisa divulgada pelo Jornal da USP foi feita com 185 bebês da cidade de São Paulo e investigou a presença de metais no alimento e uma possível relação com problemas no neurodesenvolvimento. Os pesquisadores identificaram arsênio, mercúrio e chumbo no leite, mas focaram as avaliações na presença de chumbo e seus impactos para o desenvolvimento.

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As crianças pequenas são as mais vulneráveis à contaminação pelo metal, de acordo com o Ministério da Saúde
O chumbo altera a liberação dos neurotransmissores na fenda sináptica, o que pode levar a um declínio na habilidade linguística e de cognição
A pesquisa realizou o teste Bayley-III, uma avaliação utilizada para medir o desenvolvimento de crianças pequenas
O teste avaliou domínios de cognição, linguagem, memória e capacidade motora, e o único afetado foi o de linguagem
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A pesquisa analisou 185 bebês da cidade de São Paulo

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As crianças pequenas são as mais vulneráveis à contaminação pelo metal, de acordo com o Ministério da Saúde

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O chumbo altera a liberação dos neurotransmissores na fenda sináptica, o que pode levar a um declínio na habilidade linguística e de cognição

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A pesquisa realizou o teste Bayley-III, uma avaliação utilizada para medir o desenvolvimento de crianças pequenas

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O teste avaliou domínios de cognição, linguagem, memória e capacidade motora, e o único afetado foi o de linguagem

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Segundo o Ministério da Saúde, o chumbo é um metal tóxico natural encontrado na crosta terrestre cujo uso generalizado resultou em extensa contaminação ambiental, exposição humana e problemas significativos de saúde pública em muitas partes do mundo. As crianças pequenas são as mais vulneráveis à contaminação pelo metal, de acordo com a pasta.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) identifica o chumbo como um dos dez produtos químicos de grande preocupação para a saúde pública que necessitam de ação por parte dos estados-membros para proteger a saúde dos trabalhadores, das crianças e das mulheres em idade reprodutiva.

“[A contaminação] pode comprometer principalmente os astrócitos, que são células de suporte aos neurônios que fornecem tanto estrutura quanto energia. Quando não estão funcionando bem, como no caso de mitocôndrias comprometidas e metabolismo de gorduras alterado pela substituição de cálcio por chumbo, o neurônio funciona de forma diferente”, explicou a primeira dos 16 autores do artigo, Nathalia Ferrazzo Naspolini, nutricionista que realiza pós-doutorado no ICB.

Segundo Nathalia, o chumbo também altera a liberação dos neurotransmissores na fenda sináptica, o que pode levar a um declínio na habilidade linguística e de cognição.

Atraso na linguagem

A pesquisa realizou o teste Bayley-III, uma avaliação utilizada para medir o desenvolvimento de crianças pequenas, aplicada por psicólogos do Projeto Germina.

Foi avaliado o desenvolvimento dos bebês em três períodos diferentes: o primeiro com 3 meses, o segundo entre 5 e 9 meses e o terceiro entre 10 e 16 meses, e constatou-se um atraso no desenvolvimento da linguagem relacionado ao leite contaminado.

Segundo a pesquisadora do ICB, o Bayley-III avaliou domínios de cognição, linguagem, memória e capacidade motora, e o único afetado foi o de linguagem. “Por exemplo, em uma criança muito pequena, isso pode se manifestar como o início tardio do balbucio, que é um primeiro passo no processo de linguagem. Conforme a criança cresce, ela começa a fazer mais coisas, e isso vai mudando com o tempo”, detalhou Nathalia Ferrazzo Naspolini.

Ela ainda chama a atenção para o fato de que a maioria dos voluntários que participou do estudo é de média para alta renda. “Se nessas pessoas encontramos contaminação, em pessoas de baixa renda, que são mais expostas à contaminação ambiental, poderíamos encontrar níveis mais altos”, alertou.

No Hospital das Clínicas da USP, 30% das amostras tinham níveis de chumbo detectados, enquanto em um estudo da Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do doutorado de Nathalia na Fiocruz, realizado com amostras de pessoas de baixa renda, mais de 90% do material estava contaminado.

Leite humano é ruim?

Apesar dos resultados, a orientadora da pesquisa e professora do ICB, Carla Taddei, destaca que não, “não podemos afirmar que o leite humano é ruim”. Carla estuda microbiota humana e ela busca, junto com Nathália, mecanismos de defesa desses bebês expostos à contaminação.

Segundo a pesquisadora, existe um processo chamado biorremediação, em que, por exemplo, bactérias são usadas para recuperar um ambiente contaminado, como uma lagoa com problemas ambientais. Se esse processo ocorre na natureza, é provável que também aconteça no ser humano.

“Embora encontremos leite humano contaminado, será que a microbiota do bebê não está agindo para oferecer uma proteção biológica, evitando níveis maiores de contaminação?”, questionou.

Ela afirmou que ainda são necessários muitos estudos para responder a isso, “mas também devemos explorar a possibilidade de distribuir probióticos para essas populações mais afetadas, se comprovado esse processo”.

O artigo Lead contamination in human milk affects infants’ language trajectory: results from a prospective cohort study foi publicado na revista Frontiers in Public Health.

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