Estudantes que já começaram Novo Ensino Médio temem desempenho no Enem
Alunos de escolas públicas paulistas reclamam da ausência de matérias como filosofia, sociologia, química e física, que são cobradas no Enem
atualizado
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São Paulo – Estudantes de escolas públicas de São Paulo que tiveram a grade curricular alterada pelo Novo Ensino Médio estão preocupados com o desempenho que terão na edição deste ano do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Principal porta de entrada para as universidades do país, o Enem tem sua primeira prova marcada para este domingo (5/11). Em São Paulo, mais de 590 mil vestibulandos estão inscritos para o exame.
Moradora do bairro Jardim Porteira Grande, em Sapopemba, na zona leste da capital paulista, Anna Rayssa Azevedo Melo, de 18 anos, diz que está ansiosa com a prova. Em busca de uma nota melhor no Enem, ela começou a frequentar um cursinho gratuito no bairro.
“Eu fiz o cursinho porque eu precisava, o Novo Ensino Médio tá muito ruim. A gente não tem matérias como filosofia, sociologia, química e física, que são cobradas no Enem”, diz a adolescente.
Com apenas duas aulas de português por semana, Anna diz que precisou se esforçar fora da escola para aprender a construir uma boa redação.
“Eu tenho muita dificuldade em língua portuguesa, então eu precisei me dedicar ainda mais para tentar fazer uma boa redação, ter uma boa interpretação de texto”, afirma.
Na outra ponta da cidade, Deborah Maria da Silva Santos, de 17 anos, também procurou um cursinho popular para se preparar para o exame.
Durante a semana, ela estuda na Escola Estadual Amélia Kerr Nogueira, no Jardiz Vera Cruz, no distrito do Jardim Ângela, zona sul de São Paulo.
Aos sábados, vai para outro endereço do bairro, o CEU Vila do Sol, onde ocorrem as aulas do Pólo Dona Expedita do Cursinho da Rede Ubuntu.
Ela conta que as mudanças do Novo Ensino Médio deixaram os estudantes frustrados, principalmente depois das aulas online da pandemia.
“Quando a gente volta depois do afastamento dá de cara com o Novo Ensino Médio, que tirou matérias básicas, como história, geografia, sociologia”, diz Deborah.
A adolescente diz que a falta das disciplinas na grade curricular fez com que vários colegas seus desistissem de prestar o vestibular neste ano por medo de não se saírem bem nas provas.
Para Deborah, as mudanças reduziram as expectativas de uma boa nota entre os alunos da rede pública.
“[O Novo Ensino Médio] aumenta muito as desigualdades entre as escolas públicas periféricas e as particulares”, diz a aluna.
Estudante do período noturno, Rebecca Catarine Silva de Souza, de 17 anos, leva quase duas horas no trajeto entre o trabalho, na Liberdade, centro de São Paulo, e a E. E. Antônio Florentino, em Itapecerica da Serra, na região metropolitana.
Para ela, o Novo Ensino Médio “tirou sua oportunidade de aprender”, já que o tempo na escola não é tão bem aproveitado quanto deveria.
“O Novo Ensino Médio não ajudou em nada, só atrapalhou”, afirma a aluna. Às vésperas do Enem, ela se diz nervosa com a possibilidade de não pontuar bem na prova.
Na semana passada, Rebecca prestou o vestibular na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Quando eu sentei na cadeira e vi as questões eu falei ‘meu Deus, eu não sei [as repostas]’. É desesperador porque eu só tive uma semana entre uma prova e a outra”, diz a aluna, que também estuda no cursinho da Rede Ubuntu.
Para a estudante Gabriely da Conceição Tobias, de 17 anos, o maior medo em relação à prova do Enem são as questões de física e química, disciplinas retiradas da grade do 3º ano.
“As matérias básicas eu nem lembro direito porque agora é só itinerário que eu tenho”, afirma a aluna, que estuda na E.E. Vírgilia Rodrigues, no Butantã, zona oeste de São Paulo.
Projeto de lei
O governo federal enviou um projeto de lei para o Congresso Nacional para alterar pontos do Novo Ensino Médio depois das fortes críticas ao modelo feitas por estudantes, professores e especialistas em educação.
A ideia é que a oferta de disciplinas básicas tenha a carga horária ampliada. Matérias como sociologia e filosofia também deverão voltar aos currículos escolares.
Caso o projeto seja aprovado, os itinerários formativos serão reduzidos para quatro, com percursos que terão pelo menos três áreas do conhecimento.
Em São Paulo, a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) já tinha anunciado uma redução no número de itinerários da rede para o próximo ano.