Estagnada, esquerda de SP patina para emplacar nomes para 2026
Sem novos nomes e refém de quadros envelhecidos, esquerda corre contra o tempo para emplacar candidatura forte em SP em 2026
atualizado
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São Paulo – Sem conquistar nenhuma nova prefeitura em São Paulo, mantendo apenas as quatro cidades que já comandava, o PT saiu das eleições municipais deste ano preocupado com a falta de quadros na esquerda, e não só no partido, para 2026.
A constatação de que a esquerda como um todo estagnou quando se trata de novas lideranças vem dos números apresentados nestas eleições. Além do PT, o PSB, de centro-esquerda, foi o único partido próximo desse espectro político a conquistar prefeituras no interior do estado: foram nove, seis a menos do que em 2020.
Entre os 10 vereadores mais votados para a Câmara Municipal da capital paulista, por exemplo, apenas três são de esquerda, sendo duas do PSol (Amanda Paschoal e Luana Alves) e uma do PT (Luna Zarattini).
Em compensação, partidos mais à direita ou ao centro cresceram não só em prefeituras e no Legislativo, como também na quantidade de filiações: o PL, o Republicanos e o PSD lideram em novos filiados no estado nos últimos dois anos, como mostrou o Metrópoles.
“Atualmente, existe mais renovação por parte da direita do que da esquerda”, avalia a cientista política Juliana Fratini.
Atuação partidária
Os motivos, no plural, têm sido debatidos pelos partidos, que se preocupam com a dificuldade de renovação de seus quadros – em especial dentro do PT. A vereadora Luna Zarattini, apesar de jovem, contrasta com a cúpula da sigla, repleta de políticos tradicionais.
Dois exemplos são os petistas de São Paulo mais votados na Câmara dos Deputados e na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em 2022: o deputado federal Rui Falcão, hoje com 81 anos (79 à época), e o deputado estadual Eduardo Suplicy, com 83 anos (81 à época).
As próprias bancadas do PT refletem a dificuldade de rejuvenescer os quadros: na federal paulista, a média de idade é de 60 anos, enquanto na estadual, é de 61. Idoso e com câncer, Suplicy, que foi puxador de votos na Alesp, pode não se candidatar novamente, preocupando a bancada petista sobre quem poderia atrair tantos votos no partido.
“Embora a esquerda se apresente como uma ideologia agregadora e igualitária, enquanto instituição é formada por elites bem consolidadas, que possuem o controle dos partidos e a concentração de recursos que poderiam promover novas lideranças”, diz Fratini.
Segundo a cientista política, mesmo dentro da esquerda, os recursos partidários acabam destinados às próprias elites e não a novos quadros: “Elas [as elites] não possuem qualquer interesse em dividir poder ou recursos na prática”, acrescenta.
Além disso, Fratini observa que, dentro do espectro político, há uma certa resistência à inovação apresentada pelos mais jovens e que a esquerda ainda é muito apegada a uma forma específica de populismo exercida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Quero dizer que, sem o Lula, a esquerda é uma vertente desmobilizada popularmente. Nem a Gleisi Hoffman, que é uma liderança leal, conseguiria agregar a esquerda com mais afinco na ausência de Lula. O resultado nas urnas sem Lula tende a ser desastroso”, afirma.
A esquerda em 2026
Com os quadros cada vez mais envelhecidos e diante do crescimento do PSol em vagas no Legislativo, o PT teme que o partido seja engolido pela sua dissidência em São Paulo. No entanto, ambas as siglas têm o receio de não conseguirem quadros fortes para o governo do estado e o Senado em 2026.
No PSol há o trauma da recente derrota do deputado federal Guilherme Boulos (foto em destaque) à Prefeitura da capital paulista. Com resultado pouco superior ao conquistado quatro anos antes para o mesmo cargo, o psolista, em entrevista ao Metrópoles, admitiu que a direita tem vencido a disputa cultural na sociedade.
Até o momento, o PSol ainda não encontrou um nome de peso para lançar ou apoiar nas próximas eleições. PT e PSB passam pela mesma dificuldade, com pesquisas eleitorais testando, de forma tímida, os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Márcio França (Empreendedorismo) tanto para o governo quanto para o Senado.
Na direita, a disputa pelos cargos já é mais desenhada. Os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Ricardo Salles (Novo-SP) têm sido cotados para o Senado.
Embora seja alçado como presidenciável, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já declarou que não tem a intenção de concorrer à Presidência da República e que deve tentar se reeleger ao governo estadual.