Escolas de SP ficam sem limpeza e até diretor faz faxina no banheiro
Com salários e benefícios atrasados, funcionários da MR7 estão abandonando seus postos em escolas estaduais; unidades organizam até mutirões
atualizado
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São Paulo — Profissionais da limpeza de escolas estaduais da Diretoria Regional de Ensino Centro-Sul (foto em destaque) afirmam que estão sem receber salário e com benefícios trabalhistas atrasados. Por causa do problema, alguns funcionários abandonaram seus postos de trabalho e a limpeza das escolas tem sido feita por diretores da rede.
Os trabalhadores são funcionários da MR7 Impacto Serviços Pessoais Eireli, empresa contratada pela Secretaria Estadual da Educação para executar serviços de limpeza em escolas localizadas em bairros como Ipiranga, Mooca e Saúde.
“Hoje é dia 20 e eles não pagaram vale-refeição, alimentação, salário ou adicional de insalubridade. Não tem previsão”, afirma uma faxineira que trabalha em uma escola no Ipiranga, zona sul da cidade.
Segundo a funcionária, que preferiu não se identificar por medo de represálias, o problema se arrasta há meses. “O 13º (salário) eles só pagaram em janeiro”, afirma.
Na escola em que a faxineira trabalha, professores da instituição organizaram uma vaquinha para ajudá-la a pagar as contas de casa. O Metrópoles também encontrou relatos de arrecadações feitas por diretores e educadores em outras unidades da região.
O diretor de uma escola entrevistado pela reportagem afirma que parte das equipes de limpeza parou de trabalhar por causa da falta de pagamento, o que também tem sobrecarregado os poucos funcionários da MR7 que continuam no local.
Para ajudar a manter os ambientes em ordem, o próprio diretor tem arregaçado as mangas. “Semana passada eu estava lavando banheiro”, conta ele, que pediu anonimato. Algumas escolas chegaram a organizar mutirões para dar conta do serviço acumulado.
A MR7 também é responsável por enviar os produtos de limpeza usados nas instituições, mas não tem feito as entregas do material, segundo o diretor. “Desde janeiro não vem um galão de cândida”, afirma um diretor.
Em uma das unidades visitadas pelo Metrópoles na zona sul da cidade, as funcionárias da faxina têm trazido produtos das próprias casas para fazer a limpeza. “Elas estão revoltadas”, disse um educador do local.
Problema no interior e litoral
A falta de pagamentos e benefícios trabalhistas aos profissionais da MR7 também foi registrada em diretorias da rede estadual no interior e no litoral de São Paulo.
O Metrópoles encontrou notificações feitas pelas diretorias de ensino de Ribeirão Preto, Campinas-Leste e São Vicente sobre o mesmo problema. As reclamações foram publicadas no Diário Oficial com pedidos para que a MR7 se manifestasse, sob pena de perder os contratos.
A reportagem tentou contato com a empresa de limpeza, mas não foi respondida no e-mail até a publicação deste texto. O espaço segue aberto para manifestação.
Em nota ao Metrópoles, a Secretaria Estadual da Educação afirma que a MR7 já foi notificada mais de uma vez por descumprir os termos do contrato e que um novo processo licitatório foi realizado por causa do problema.
Segundo a pasta, as novas empresas que assumirão o serviço no lugar da MR7 estão sendo convocadas para a assinatura dos contratos.
“A Seduc-SP trabalha para efetivar essa nova contratação o quanto antes e fará a substituição da MR7, junto às diretorias de ensino, de forma gradativa e com previsão de conclusão até o final deste mês de março”, diz a nota.
Sobre a limpeza realizada por profissionais da própria rede, a secretaria afirmou que as equipes escolares das diretorias de ensino colaboram para manter as escolas limpas, até que o processo de entrada das novas empresas seja finalizado.