Epidemia de dengue estabiliza em SP: “Já passamos o pior momento”
Em entrevista ao Metrópoles, coordenador da Covisa na cidade de SP afirma que capital teve desaceleração no número de novos casos de dengue
atualizado
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São Paulo — A epidemia de dengue na capital paulista entrou em tendência de estabilidade, com desaceleração no número de novos casos, segundo a Coordenadoria de Vigilância em Saúde (Covisa), da Prefeitura de São Paulo.
Em entrevista ao Metrópoles, nesta quinta-feira (4/3), o coordenador da Covisa, Luiz Artur, disse que a curva da doença entrará em um “platô” em abril, com tendência de queda prevista para as próximas semanas.
“Podemos dizer que já passamos o pior momento epidemiológico da dengue aqui na cidade”, afirmou Luiz Artur. “Já estamos em um cenário de estabilidade, que vai ficar um pouco mais claro quando divulgarmos os dados da próxima segunda-feira”, completou.
O Metrópoles levantou os dados sobre a dengue divulgados pela Secretaria Municipal da Saúde entre janeiro deste ano e a última segunda-feira (1º/4), e confirmou a desaceleração do crescimento da doença.
A cidade, que chegou a registrar até 109% de aumento de casos confirmados entre os dias 15 e 22 de janeiro, registrou percentuais de crescimento na casa dos 30% nas últimas semanas.
O cenário de estabilidade apresentado pelo coordenador da Covisa acontece depois de a cidade de São Paulo registrar mais de 3.000% de aumento no número de casos confirmados de dengue, entre o início de janeiro e o dia 27 de março — última data contabilizada no boletim da Secretaria Municipal da Saúde.
Mesmo com a sinalização de melhora, a capital ainda enfrenta um momento crítico, com 33 mortes e mais de 100 mil casos confirmados, segundo os dados do Painel de Monitoramento da Dengue, da Secretaria Estadual da Saúde.
A epidemia na cidade começou pela zona oeste, no distrito da Vila Jaguara, e se espalhou por toda a capital, até atingir 76 dos 96 distritos da capital paulista. Veja no mapa abaixo como a doença avançou pelos bairros de São Paulo desde o início do ano:
Dengue e urbanização
Especialistas ouvidos pelo Metrópoles afirmam que o fenômeno de disseminação da doença, que se iniciou pelas bordas da cidade e caminhou em direção ao centro, pode ser explicado por alguns fatores.
O primeiro deles é a dinâmica do próprio Aedes aegypti, que circula em um raio de 100 metros próximo ao local onde nasceu, segundo o diretor da Faculdade de Medicina da Unesp, Carlos Magno Fortaleza.
O infectologista explica que a limitação do mosquito faz com que o vírus se espalhe de bairro em bairro, sendo levado à capital por pessoas infectadas nos locais de fronteira com cidades já afetadas pela doença.
“Via de regra, a dengue começa em São Paulo no extremo norte, perto de Guarulhos, e no extremo oeste, perto de Osasco, e vai progredindo em direção ao centro. Essas são duas cidades com bastante histórico de dengue”, afirma o médico.
Características como as condições precárias de habitação nas periferias da capital paulista e a falta de acesso à água tratada são outros fatores que favorecem a proliferação do mosquito nestes locais, segundo o médico Gerson Salvador, do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo.
“A gente tem na cidade de São Paulo populações que não têm oferta regular de água tratada. Essas pessoas acumulam água para a sua subsistência”, afirma o infectologista, explicando que estes reservatórios podem se tornar focos para o mosquito.
“Não tem epidemia de dengue na Vila Mariana, na região da Bela Vista, de Moema. Os distritos que estão poupados, tirando alguns como Marsilac, são locais com elevado acesso à água, esgoto, melhores condições socioambientais no geral”, diz o médico.
A esses fatores se somam ainda a alta densidade demográfica da cidade e a adaptação do mosquito Aedes aegypti à vida urbana, onde o inseto pode depositar seus ovos nos vários pontos de descarte inadequado de lixo, por exemplo. A questão climática foi outro fator decisivo para a epidemia na capital este ano, já que as temperaturas mais quentes facilitam a reprodução do mosquito.
Para os especialistas, as ações do governo municipal no enfrentamento à dengue devem levar em consideração o histórico da doença e suas características já conhecidas.
Carlos afirma que conter o avanço da dengue é uma tarefa árdua e que em situações críticas, como a epidemia recorde de casos deste ano, os esforços devem ser concentrados principalmente no treinamento de equipes de saúde para evitar a morte de pessoas por causa da doença, principalmente nos locais mais afetados.
“O maior investimento hoje tem que ser em reduzir mortes por dengue”, diz ele. O especialista também defende a maior presença dos agentes de saúde na casa das pessoas, fazendo campanhas de conscientização e combatendo os focos do mosquito.
“Às vezes as pessoas não percebem que o ralo está com água, que a calha está com água parada. Quem percebe isso é um agente de controle de vetor”, diz ele.
Gerson também defende a atuação dos agentes para conter a doença e elogia o trabalho realizado pela Covisa, que monitora a situação da doença. Para o infectologista, no entanto, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) errou ao liberar mais recursos para as ações de combate apenas no dia 13 de março.
“Tem um erro de gestão na conta do prefeito porque o investimento para controlar tinha que ser feito o quanto antes”.
Para Gerson, ainda que a situação esteja entrando em estabilidade, é preciso investir nos órgãos e agentes que atuam no combate à doença, além de educar a população e as equipes de saúde para evitar uma nova epidemia no futuro.
O coordenador da Covisa, Luiz Artur, afirma que a Prefeitura fez mais de 4 milhões de ações de combate ao mosquito da dengue desde o início do ano e atua no controle dos casos desde de 2023.
“Pode ter certeza que se não tivéssemos feito todo esse enfrentamento os números seriam muito maiores porque a característica de densidade demográfica que temos na cidade de São Paulo não tem em nenhum outro lugar do país”, disse Luiz.
Segundo o coordenador, só na Vila Jaguara, distrito com maior incidência de casos da cidade, foram mais de 700 operações para controlar a proliferação do mosquito.
Sintomas da dengue
Os sintomas da dengue podem variar de leves a graves e geralmente aparecem de 4 a 10 dias após a picada do mosquito infectado. As manifestações clínicas incluem:
- Febre alta: a temperatura corporal pode atingir valores significativamente elevados, geralmente acompanhada de calafrios e sudorese intensa;
- Dor de cabeça intensa: a dor é geralmente localizada na região frontal, podendo se estender para os olhos;
- Dores musculares e nas articulações: sensação de desconforto e dor, muitas vezes referida como “quebra ossos”;
- Náuseas e vômitos: podem ocorrer, contribuindo para a desidratação;
- Manchas vermelhas na pele: conhecidas como petéquias, essas manchas podem aparecer em diferentes partes do corpo;
- Fadiga: uma sensação geral de fraqueza e cansaço persistente.
Tratamento
O tratamento da dengue visa aliviar os sintomas e garantir a recuperação do paciente. Algumas medidas recomendadas pelo Ministério da Saúde incluem:
- hidratação adequada: a ingestão de líquidos é fundamental para prevenir a desidratação, especialmente durante os períodos de febre e vômitos;
- uso de analgésicos e antitérmicos: medicamentos como paracetamol podem ser utilizados para reduzir a febre e aliviar as dores;
- repouso: descanso é essencial para permitir que o corpo combata o vírus de maneira mais eficaz;
- acompanhamento médico: em casos mais graves, é crucial procurar assistência médica para monitoramento e tratamento adequado;
- evitar automedicação: o uso indiscriminado de alguns medicamentos, como anti-inflamatórios não esteroides (aines) e aspirina, pode agravar o quadro clínico, sendo contraindicado na dengue.
Prevenção da dengue
Além do tratamento, a prevenção da dengue é crucial. O Ministério da Saúde alerta para a necessidade de conscientização da população sobre a importância de medidas como eliminação de criadouros do mosquito Aedes aegypti, uso de repelentes e instalação de telas em janelas e portas.