Engenheira de SP é a primeira da América Latina a comandar um tatuzão
Sherry Romanholi pilota a máquina nas obras da expansão da linha 2 – Verde do metrô de São Paulo, previstas para acabarem em 2027
atualizado
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São Paulo — Uma tuneladora, mais conhecida como tatuzão, é uma máquina gigantesca usada na escavação de túneis. Com 100 metros de comprimento e 500 toneladas, a engenhoca é usada para as obras na expansão da Linha 2 – Verde do Metrô de São Paulo. No comando da ferramenta, está, atualmente, a engenheira civil Sherry Romanholi, de 27 anos, a primeira mulher a exercer essa função na América Latina.
Em entrevista ao Metrópoles, a paulista conta a própria trajetória em uma área historicamente dominada por homens.
Controladora do maior tatuzão da América Latina
O aparato de escavação subterrânea é o maior em operação na América Latina, com capacidade para explorar e revestir até 15 metros por dia, por meio de uma roda de corte de 11,66 metros de diâmetro. Batizada com o nome de uma das principais escritoras brasileiras, Cora Coralina, a ferramenta colossal é um instrumento para Sherry fazer história ao operar centenas de botões e seis monitores.
“A máquina pressurizada, que faz a escavação do túnel do metrô, escava e monta o túnel ao mesmo tempo”, explica a engenheira. “Tem sensores de pressão de terra e, geralmente, fica 40 metros abaixo do solo, podendo variar para mais ou menos.”
Sherry Romanholi participa há aproximadamente dois anos da iniciativa que vai conectar a Vila Prudente à Penha pelo metrô. Antes de se preparar para ser a primeira mulher a guiar o tatuzão, a jovem trabalhava no setor de logística.
Por isso, ela acompanhou, durante cerca de nove meses, o transporte das peças do maquinário, que vieram da China para o Brasil. No entanto, o sonho — já realizado — era integrar a equipe de construção civil.
Trajetória da engenheira civil
Antes de concluir o ensino superior, Sherry Romanholi foi garçonete de buffet, cuidadora de idosos e atendente de telemarketing. Sob apoio emocional e financeiro da mãe, a jovem seguiu na faculdade em meio à pandemia de Covid.
“Ela tomou um susto quando falei que ia fazer engenharia civil. Falou que seria só ‘bota, lama e barro’ (risos). Mas me apoiou, sempre investiu muito nos meus estudos”, reconhece.
Ao encerrar a graduação, já no Metrô, Sherry passou pelo ramo de mecânica, depois entrou na obra como inspetora de qualidade e agora comandará a escavação. Além de se especializar com estudos, a evolução para usar o tecnológico maquinário ocorre, na prática, há oito meses. “Aprendi um pouco de tudo, precisava da bagagem. Vi que tudo isso foi necessário para eu chegar ao tatuzão”, avalia.
Com um MBA em logística empresarial, a paulista também está finalizando uma pós-graduação em engenharia geotécnica.
Como uma mulher em posição de destaque em meio a um mercado protagonizado por homens, Sherry se orgulha das próprias conquistas. “Quero continuar sendo uma piloto maravilhosa. Espero aprender cada vez mais, ganhar muita experiência.”
No dia a dia, a poeira da obra é um contraste à vaidade de Sherry. “Saio sempre suja, mas feliz. A máquina de lavar roupas é a minha melhor amiga”, brinca.
Obra na Linha 2 – Verde
A obra na Linha 2 – Verde está funcionando 24 horas, com 150 trabalhadores divididos em três turnos. Além de Sherry, dois homens estão em treinamento para pilotar o tatuzão. A meta é encerrar a primeira etapa da construção, de Vila Prudente a Vila Formosa, até 2026; o segundo trecho, de Vila Formosa a Penha, deve ser concluído em 2027.
De acordo com o Metrô de São Paulo, a conexão com a Linha 3 – Vermelha vai beneficiar 1,2 milhão de pessoas diariamente. “Ajudará a diminuir os tempos de trajeto da população da zona leste e redistribuir o fluxo de passageiros de toda a rede sobre trilhos”.