Como foi o encontro de padre Júlio e Ricardo Nunes após ameaça de CPI
Padre Júlio Lancellotti se reuniu com Ricardo Nunes após aliados do prefeito ameaçarem CPI para investigar trabalho com moradores de rua
atualizado
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São Paulo — O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, e o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), se encontraram na noite dessa segunda-feira (8/1), na sede da Prefeitura, no centro de São Paulo, após a polêmica envolvendo a possível instalação de uma CPI na Câmara Municipal para investigar o trabalho do sacerdote com moradores de rua e dependentes químicos.
O encontro surgiu a partir de um telefonema do padre para o prefeito, ainda pela manhã. Padre Júlio é um crítico da gestão Nunes e amigo do deputado federal Guilherme Boulos (PSol), principal adversário do emedebista na eleição de outubro deste ano. Segundo aliados, Nunes tem se incomodado com as críticas feitas pelo padre, mas se manifestou publicamente contra uma investigação sobre a atuação dele.
No encontro de segunda à noite, que durou cerca de 30 minutos, o prefeito reafirmou que o pedido de instalação da CPI feito pelo vereador Rubinho Nunes (União), que integra sua base na Câmara, não fazia nenhuma referência ao padre Júlio, mas sim a uma CPI das ONGs.
Ao padre, o prefeito disse ter ciência de que a Pastoral do Povo de Rua, entidade da Arquidiocese de São Paulo da Igreja Católica da qual Júlio Lancellotti é responsável, não é nenhuma ONG e não recebe dinheiro público. Nunes também é católico e defendeu interesses da igreja quando foi vereador antes de se tornar prefeito.
Padre Júlio publicou uma foto com o prefeito em suas redes sociais (em destaque). Nunes não deu nenhuma publicidade ao encontro e não o colocou em sua agenda oficial.
Alvo da direita
A atuação do padre Júlio Lancellotti com moradores de rua e usuários de drogas da região da Cracolândia é alvo de críticas e ataques de grupos de direita, campo político do vereador Rubinho Nunes, que é ex-integrante do Movimento Brasil Livre (MBL).
Autor do pedido de CPI, o parlamentar afirma que existe uma “máfia da miséria” na cidade, que se aproveita de recursos que seriam destinados à população de rua, e faz uma série de críticas ao padre. Ele apresentou a proposta aos colegas em um requerimento de instalação da uma CPI das ONGs que não citava o padre.
O movimento provocou uma forte reação da Arquidiocese de São Paulo, o que incluiu uma conversa direta entre o cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo da cidade, e o prefeito, que tem no eleitor católico uma de suas bases eleitorais. A entidade publicou uma nota dura, em que dizia acompanhar o assunto “com perplexidade”.
Após a ampla repercussão negativa, várias parlamentares retiraram o apoio à CPI das ONGs, que agora conta 17 assinaturas, duas a menos do que o mínimo necessário para ser protocolada na Câmara.