Empurrão, desmaio e ameaça: bastidores da cassação por racismo em SP
Em sessão histórica marcada por tumulto, vereadores de SP cassam mandato de Camilo Cristófaro, acusado de racismo
atualizado
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São Paulo — A histórica sessão da Câmara Municipal de São Paulo que cassou, nesta terça-feira (19/9), o mandato do vereador Camilo Cristófaro (Avante), por quebra de decoro parlamentar, por causa de uma fala racista no ano passado, foi marcada por tumulto nas galerias da Casa, troca de empurrões contida por seguranças e pelo desmaio de um vereador na antessala do plenário.
O embate mais marcante foi entre o vereador Adilson Amadeu (União), que foi parceiro de Camilo em atuações passadas na Câmara, e o advogado do parlamentar cassado, o ex-desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) Ronaldo Alves de Andrade.
Amadeu interrompeu a fala do advogado aos gritos de “brincalhão”. Andrade respondeu com um sorriso, o que enfureceu o vereador, e questionou: “Vai me agredir?” Ambos ficaram se encarando de perto até serem contidos por seguranças e assessores.
Amadeu foi levado para a antessala do plenário, um lugar exclusivo para os vereadores e alguns assessores, longe do público. Lá, segundo relato de outros parlamentares, ele desmaiou — sua assessoria disse que houve apenas uma queda de pressão, mas que ele não perdeu a consciência.
O que havia irritado Amadeu foi um dos pontos da defesa do advogado, o fato de que aquele não era o primeiro caso de racismo da Casa.
Andrade lembrou que, em 2019, Amadeu se referiu a outro vereador, Daniel Annenberg, como “judeu filho da puta”. Amadeu foi condenado por injuria racial em maio do ano passado pelo caso, mas não sofreu processo de cassação na Câmara.
Nas galerias do Legislativo paulistano, espécie de arquibancada no piso superior ao plenário, um grupo de apoiadores de Camilo assistiu toda a sessão trocando gritos com um grupo de militantes de movimentos negros aliados de parlamentares do PSol. Por duas vezes, guardas-civis municipais (GCMs) tiveram de intervir para evitar que os grupos se agredissem.
Já o discurso de Camilo foi permeado de recados indiretos aos demais parlamentares. Sem citar nomes, ele afirmou que outros vereadores haviam espalhado cartazes no Ipiranga, seu bairro, pedindo a cassação e os ameaçou de processos judiciais.
Ao negar que era racista, o vereador disse que, no passado, os parlamentares da Casa chamavam o atual presidente da Câmara, Milton Leite (União) de “negão”. “Pergunta se o Camilo chamou o vereador Milton Leite de negão? Nunca! Sempre chamei ele de Milton, ou Miltão”, afirmou.